O Tidal e a Qobuz têm sido os serviços de streaming de música com transmissão lossless (sem perdas) favoritos dos audiófilos. Um dos principais motivos para isso é o aplicativo para desktop (computador) permitir o uso de drivers de áudio WASAPI (modo exclusivo) e ASIO no Windows, que permitem que as faixas sejam reproduzidas sem a interferência do sistema operacional. Mas qual deles seria o melhor?

Ambos são serviços de streaming que surgiram com foco na transmissão de áudio sem perdas. Além disso, conscientemente as empresas que fundaram as plataformas são europeias, sendo uma francesa (Qobuz) e outra norueguesa (Tidal), sendo esta última criada por uma companhia sueca chamada Aspiro.

Sobre a Qobuz e o Tidal

Fundada em 2007 na França, a Qobuz começou inovando por ser o primeiro serviço de streaming de músicas "Hi-Res" (24 bits/96kHz) no mundo. Entretanto, a plataforma surgiu inicialmente com a proposta de trazer a transmissão de arquivos de áudio "lossless" ("sem perdas"), pois a utilização da nomenclatura "Hi-res Audio" surgiu somente 7 anos depois da empresa começar suas operações no mercado. A JEITA (Japan Electronics and Information Technology Industries Association ou Associação de Indústrias de Eletrônica e Tecnologia da Informação do Japão, em português) anunciou em 26 de março de 2014 a certificação "Hi-Res", ou seja, essa denominação foi adotada pela companhia como forma de aumentar o marketing em cima do que a companhia já oferecia.

Lançado em 2014 em Oslo, na Noruega, por uma empresa sueca chamada Aspiro, o Tidal é um serviço de streaming que surgiu com o foco na transmissão de áudio sem perdas (lossless). Um ano depois, a Aspiro foi comprada pela Project Panther Bidco, uma empresa indiretamente detida por Shawn Carter, conhecido como Jay Z. Porém, em março de 2021, a propriedade majoritária do Tidal foi comprada pela Block (anteriormente chamada de Square).

Tidal x Qobuz: Qual serviço de streaming de música é o melhor?

Confira abaixo quais são os pontos fortes e fracos que o Tidal e a Qobuz possuem e porque um ou outro pode ser mais interessante que outro.

Suporte a formatos

Infelizmente a Qobuz não entrega suporte aos formatos Dolby Atmos e 360 Reality Audio. Já o Tidal oferece músicas tanto em Dolby Atmos quanto em 360 Reality Audio, além do MQA, formato mais popular disponibilizado pela plataforma [1]. A Qobuz transmite suas músicas somente no formato FLAC e nada mais.

[1] Artigo "MQA: O que é e como ter uma experiência completa"

Imagem ilustrativa do formato de música MQA. Fonte: MQA
Imagem ilustrativa do formato de música MQA. Fonte: MQA

Resolução de áudio

O serviço de streaming de música lossless que entrega a maior resolução de áudio atualmente é o Tidal, que oferece faixas com até 24 bits/352 kHz. A Qobuz oferece uma resolução máxima de transmissão de 24bits/192Khz. Entretanto, é importante lembrar que não são todas as músicas que são reproduzidas nestas resoluções citadas, há uma grande variação na biblioteca de cada um dos serviços de streaming.

Além do que foi dito acima, é importante lembrar que no plano "Hi-Fi" do Tidal, o usuário só terá acesso a qualidade de CD (16 bits/44,1Khz), sendo necessário assinar o "Hi-Fi Plus" para obter a qualidade máxima de transmissão na plataforma. Já na Qobuz, não há diferenciação na qualidade de transmissão entre os diferentes planos ofertados.

Variedade de músicas e artistas

A variedade de músicas e artistas na Qobuz e no Tidal só pode ser avaliada pelo próprio usuário, pois gosto de cada um pode ser muito distinto. O ideal é fazer o teste gratuito oferecido pelos serviços de streaming e transferir os álbuns e playlists salvos de uma plataforma para a outra (saiba como através deste tutorial).

Aplicativos nas plataformas oferecidas (mobile e desktop)

Aqui a diferença é clara, pois é visível a diferença na interface e o número de erros encontrados entre os aplicativos oferecidos pelos serviços de streaming. Sem dúvidas o Tidal, no geral, está à frente em termos de interface de usuário e correção de erros comparado aos apps da Qobuz. É estranho dizer isso considerando que há uma diferença de 7 anos de idade entre as plataformas de streaming, sendo a Qobuz a mais velha.

Entretanto, no aplicativo da Qobuz para desktop (computador) há mais liberdade para a forma que o usuário deseja transmitir o áudio, sendo possível escolher entre o driver da placa de áudio onboard, o driver ASIO e o driver WASAPI [2]. Porém, ainda sim o Tidal oferece o uso o WASAPI no modo exclusivo, que oferece uma boa qualidade de áudio.

[2] Artigo "Qual a diferença entre os drivers de áudio ASIO, WASAPI, WDM e MME"

Aplicativo para desktop Windows do Qobuz. Fonte: Vitor Valeri
Aplicativo para desktop Windows do Qobuz. Fonte: Vitor Valeri

Caso você queira extrair a qualidade máxima dos apps mobile do Tidal e da Qobuz, é provável que você precise de um cabo OTG [3]. Além disso, é interessante utilizar aplicativos de terceiros como o Hiby Music e o UAPP (USB Audio Player PRO) se o seu celular é Android [4].

[3] Artigo "O que é cabo USB OTG?"

[4] Artigo "Tidal e Qobuz não entregam a qualidade máxima no Android? Resolva agora"

Qualidade de som

Inicialmente tive uma impressão boa sobre a qualidade de som entregue pela Qobuz ao testar através do aplicativo para desktop no Windows 10. Entretanto, após algum tempo ouvindo as músicas e alternando entre os fones de ouvido que tenho, notei que havia algo diferente comparado à sonoridade entregue pelo serviço Tidal e pelo app MusicBee reproduzindo músicas "ripadas" por mim de um CD (físico) que comprei. Abaixo os equipamentos utilizados para a análise no sistema de mesa para fones de ouvido:

  • DAC Topping D70S
  • Amplificador Woo Audio WA3
  • Headphone Sennheiser HD600
  • Headphone ATH-ESW9
  • Headphone Grado RS2e

Para ter certeza de que houve uma diferença na reprodução das músicas na Qobuz, utilizei o mesmo álbum, o Death Stranding Original Score, lançado em 2020. É interessante notar que, neste caso, a informação no aplicativo está errada, pois ele foi lançado em 2020, não em 2019 (ano de lançamento do jogo no PS4).

Álbum Death Stranding Original Score de Ludvig Forsell. Fonte: Vitor Valeri
Álbum "Death Stranding Original Score" de Ludvig Forsell. Fonte: Vitor Valeri

Ao ouvir com um fone de ouvido mais neutro como, por exemplo, o Sennheiser HD600, percebi que a música do álbum que eu estava testando estava com agudos mais fortes e médios graves mais recuados (faixa de frequência responsável por dar "volume" aos graves). Descobri isso ao fazer um A/B com a mesma faixa sendo reproduzida no app MusicBee, onde neste caso o arquivo foi "ripado" para FLAC por mim através da mídia física que comprei. Surpreendentemente, a sonoridade no Tidal, mesmo não sendo exatamente igual, se mostrou semelhante ao que ouvi a partir do arquivo original (extraído do CD físico).

Álbum Elis & Tom de Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. Fonte: Vitor Valeri
Álbum "Elis & Tom" de Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. Fonte: Vitor Valeri

Após essa descoberta, passei a comparar diretamente diversos álbuns entre o Tidal e a Qobuz e constatei uma estridência maior nos agudos em vários casos. Entretanto, isso não se mostrou evidente ao utilizar fones de ouvido que possuíam uma ênfase maior nos graves e agudos sem muito brilho e extensão. Isso ocorreu quando utilizei o fone de ouvido Bluetooth Sennheiser Momentum 3 (review aqui) conectado ao meu celular Android (OnePlus 5T).

Conclusão

Mesmo assinando o plano Hi-Fi Plus do Tidal, que é mais caro do que o "Solo" da Qobuz, achei a sonoridade do Tidal mais agradável, pelo menos para os meus ouvidos. Além disso, a variedade do catálogo da Qobuz ainda deixa a desejar frente à concorrência, fazendo com que o uso do app seja menos frequente, embora haja excelentes indicações de artistas e músicas, como mencionei ao longo da análise.

Considerando que o serviço de streaming da Qobuz foi lançado originalmente em 2007, a plataforma parece ter parado no tempo, pois há muitos erros e bugs que não existem na concorrência. O Tidal, seu concorrente direto, um serviço originalmente sueco, focado na transmissão de músicas sem perdas (lossless), foi lançado somente sete anos depois (2014) e conta com um software mais robusto, com menos falhas.