Como eu já havia comentado no review do James Donkey 325RS, ter um contato direto com a comunidade entusiasta de periféricos me proporcionou diversas descobertas de produtos que eu talvez jamais conheceria, e isto certamente me garante a oportunidade de passar este conhecimento para os leitores do Oficina da Net, mostrando e analisando da maneira que posso estes novos periféricos, o que é incrível.

A James Donkey vem de mais uma empresa da cidade de Shenzhen, um centro comercial importantíssimo da China. A marca foi fundada em 2014 e trabalha com mouses, teclados, mouse pads e headsets. De acordo com a ela, todos os produtos são feitos em fábricas próprias, mas o serviço de OEM para terceiros não é oferecido.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

Hoje você vai conhecer o James Donkey 125M, um mouse que, assim como o 325RS, é uma enorme promessa por seus componentes de qualidade por um preço baixo, mas que também só é encontrado por importação. Este mouse utiliza o mesmo sensor do Motospeed V20, que já é conhecido por ter um rastreio muito bom, portanto, a esperança é de que ele seja realmente bom.

DESIGN

Assim como no 325RS, o James Donkey 125M possui um design bastante agressivo, suas curvas e cortes são bastante visíveis e algumas chegam a ser um tanto desconfortáveis, principalmente a da traseira, que fica no topo da palma e tem dois leds que imitam olhos. Particularmente, acho interessante que marcas tentem encontrar visuais diferentes para seus produtos, mas isto definitivamente não funciona com este mouse, pois bonito ele certamente não é.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

O 125M é um mouse relativamente bom para qualquer pegada, principalmente por seu shape ambidestro, mas ele tem suas ressalvas. Os já citados cortes da parte traseira são um tanto incomodativos para uma pegada palm e até mesmo para claw, portanto, pode ser um problema ter que se acostumar com este aspecto. Como é bastante leve, jogadores com pegada finger provavelmente não terão problemas em se adaptar com ele, principalmente por seu design não fazer muita diferença para este tipo de grip.

Olhando o mouse você deve deduzir que ele possui apenas 2 botões além dos principais e o do scroll, correto? Errado. O design do mouse é tão exagerado que, se você não contar com algum review ou especificação técnica, é provável que só descubra por acidente que o mouse possui um botão de troca de DPI no topo de sua carcaça. Falando dos botões extra, os da lateral são bem posicionados de modo que não atrapalham nenhuma pegada, nem mesmo para canhotos.

Localização do botão de DPI
Localização do botão de DPI

Assim como no 325RS, o 125M não possui skatez de teflon, pois ele também utiliza uma chapa de metal nos pés e tem um deslize igualmente excelente. Assim como no primeiro mouse da James Donkey que testei, fiquei bastante impressionado com o quão bem funciona este tipo de material, seria interessante ver mais mouses que utilizam o mesmo conceito.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

O aspecto que mais me desagrada no 125M é o seu cabo, que é pouco flexível devido à sua proteção de nylon e atrapalha tanto que, caso você solte o mouse o segure-o com muita leveza, é possível ver e sentir ele sendo empurrado pelo cabo, que é tão ruim que parece ter vida própria.

A iluminação do mouse é feita por 3 LEDs, um na parte traseira e dois na parte superior, os quais tentam imitar "olhos", fazendo com que o mouse se pareça com um rosto bravo/sorrindo quando visto de trás. Particularmente achei a ideia interessante, mas se foi implementada para deixar o mouse mais bonito, na prática ela não funcionou.

ESPECIFICAÇÕES

Estas informações são fonecidas pelo fabricante:

  • Dimensões: 120 x 64 x 40mm
  • Peso: 105g
  • Níveis de DPI nativos: 1000 - 2000 - 3600 - 5000
  • 6 botões programáveis
  • Taxa de atualização: 125 - 250 - 333 - 500 - 1000Hz
  • Cabo de 1,8 metros de extensão

SOFTWARE

Bom, lá vamos nós novamente e espero que seja a última... Como eu já disse no review do 325RS, o software da James Donkey é simplesmente o pior que já vi em toda a minha vida. Ele é pouco intuitivo, funciona muito mal e é repleto de problemas. Só pelo fato dele iniciar com um maldito som de um carro ligando juntamente com uma música infernal, já vale a pena dizer que é melhor você nem o instalar.

Software James Donkey
Software James Donkey

Depois de ter que procurar o driver do seu mouse em uma lista de produtos da marca (o que poderia muito bem ser automático), você tem uma interface feia e pouco funcional de configurações para o 125M, na qual você pode modificar aspectos como faixas de DPI, aceleração, taxa de atualização, velocidade do scroll e algumas configurações de iluminação.

Software James Donkey
Software James Donkey

A minha dica é que você faça como eu fiz com ambos os mouses da James Donkey que testei: Instale o software da marca no máximo para testá-lo, desinstale-o e fique o mais longe possível desta aberração.

Instale o software da marca no máximo para testá-lo, desinstale-o e fique o mais longe possível desta aberração

CONSTRUÇÃO INTERNA

Antes de começar, devo dizer que este é um dos mouses mais difíceis de abrir que já testei, não por ser muito complexo, mas sim por ter vários encaixes em uma peça de sua carcaça que serve como uma espécie de lacre. Falando sério, eu levei mais de uma hora para descobrir como abrir esse mouse.

Capa de plástico que
Capa de plástico que "lacra" o 125M

Os switches principais são OMRON 20M, excelentes para um mouse tão barato; o switch do scroll é um Huano Green, que é uma boa escolha para o botão; o switch de DPI é um modelo da Fraly que eu sinceramente nunca vi antes, mas não deve ser uma má escolha para um botão que boa parte dos usuários nem vai descobrir que existe; os switches extras da lateral são todos modelos táteis genéricos bem vagabundos, mas que não são tão ruins para um mouse tão barato.

O sensor do mouse é um Pixart PMW3325, o mesmo presente no Motospeed V20, uma modificação do PMW3320, feito para mouses gamers baratos que entregam o mínimo que costumamos exigir em um produto da categoria; a controladora é uma ITON iF88H, uma variação das MCUs encontradas somente nos produtos da James Donkey; o codificador do scroll é um modelo mecânico F-Switch, o mesmo do 325RS, mas igualmente desconhecido por mim e por outros reviewers que conheço; as soldas do mouse e a organização dos componentes são todos bem feitos, o que é um ponto extremamente positivo para um mouse barato como este.

TESTES

Se você tem alguma dúvida a respeito de termos técnicos, recomendamos que leia nosso artigo sobre o que um bom mouse precisa ter clicando aqui.

MS Paint

Com o Microsoft Paint fazemos dois testes muito importantes, os de jitter e prediction que são, respectivamente, avaliações que verificam se o sensor do mouse sofre com alguma distorção (o que deixa as suas linhas "tremidas") e também se ele tem algum tipo de sistema que tenta simular linhas retas perfeitas, o que você certamente não quer em um jogo de precisão, pois os movimentos humanos não são perfeitos.

Os resultados do 125M são excelentes, afinal, o PMW3325 é um dos poucos sensores do mercado com DPI máxima tão baixa que ainda é respeitada pela maioria das marcas que o utilizam. Como você pode ver pelos testes, as taxas de jitter são baixíssimas e o prediction é inexistente, portanto, não há o que reclamar.

Enotus Mouse Test

No Enotus realizamos mais dois testes, a frequência com que o mouse se comunica com o computador, o que nos dirá também o tempo de resposta dele com a máquina, e também a velocidade máxima que o sensor é capaz de captar. Bons resultados devem mostrar um Polling speed acima de 500Hz (2 milissegundos de atraso) e no mínimo a 3m/s em Max speed.

No Enotus o mouse também consegue bons resultados, atingindo uma velocidade máxima de 4 m/s e um tempo de resposta de pouco mais de 1ms.

Mouse Tester

O Mouse Tester nos mostra resultados um pouco mais técnicos e muito importantes, a consistência do sensor e o teste de aceleração para sabermos se o mouse possui algum tipo de alteração em seu rastreio em relação à velocidade que o movemos.

Consistência

No teste de consistência vamos verificar se o sensor possui algum tipo de alteração em seu rastreio, portanto, as linhas são o trajeto percorrido pelo mouse em relação ao tempo e as bolinhas são os registros do mouse sobre sua posição, quanto mais próximas da linha, mais preciso é o sensor.

Esse provavelmente é um dos testes de rastreio mais malucos que já vi em todos os mouses que pude testar, em alguns momentos o rastreio extrapola os pontos de rastreio externamente, já outros, internamente, mas corrigindo os pontos na maioria das vezes. O problema é que o os dados coletados ainda sofrem com uma certa taxa de inconsistência, o que prejudica consideravelmente a precisão do mouse.

Como já vimos outro mouse utilizando este mesmo sensor (PMW3325) se saindo bem neste teste, o Motospeed V20, e vimos que ele pode ter um rastreio muito consistente, não nos resta outra resposta para o problema do 125M a não ser que o sensor dele foi mal implementado.

Aceleração

A aceleração é um problema comum apenas em mouses de baixíssima qualidade, no entanto, é extremamente importante verificar se ele possui algum tipo de alteração em relação a velocidade que é movimentado, pois taxas altas podem atrapalhar seu desempenho em jogos que exigem precisão, como Counter Strike, por exemplo.

No teste de aceleração o 125M também se sai muito bem, tendo apenas um ponto ultrapassando o limite, o que provavelmente pode ter sido um movimento impreciso feito por mim.

DESEMPENHO

Utilizei o 125M por quase duas semanas, alternando entre jogatinas e uso casual, e posso dizer que ele não é um mouse ruim, mas posso garantir que também não o utilizaria em jogos competitivos, não apenas por seus problemas de inconsistência no rastreio, mas também por seu design com cortes incomodativos.

Outro aspecto de erro de design que me incomoda bastante é um rattle no scroll, que é tão forte ao ponto de ser audível e perceptível mesmo em uma utilização casual, ao ponto de você literalmente sentir que existe algo solto dentro do mouse. Se você é do tipo de usuário que tem repulsa a rattle, fique longe do 125M.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

Devo admitir que gostei muito da escolha da James Donkey em utilizar pés de metal, afinal, além deles serem definitivamente mais interessantes que o teflon (que geralmente são uma chatice para remover), também proporcionam um deslize excelente, tão bom quanto qualquer outro material que já testei.

O Lift Off Distance do 125M fica dentro do aceitável, entre 1 e 2 CDs, um bom nível para qualquer tipo de jogador, seja ele competitivo ou casual, portanto, você dificilmente terá problemas se gosta de jogar em DPIs mais baixas, tendo que dar as famosas "remadas" para reposicionar o mouse.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

Em todos os aspectos que não tenham ligação com o seu design ou a consistência do seu rastreio, o 125M se sai muito bem. Ele definitivamente não é o mouse mais confortável que você verá, mas ele tem bons componentes internos e é muito bem construído, portanto, não podemos dizer que você deva desconsiderar completamente uma compra dele.

VEREDITO

No fim da história temos mais um mouse da James Donkey que tinha tudo para ser excelente, no entanto, ele também entra para a lista de mouses promissores que são uma completa decepção, pois pecam onde não deveriam: A implementação do sensor com seu rastreio ruim. Podendo ser encontrado entre R$80 e R$110, este mouse certamente é uma boa opção para jogadores casuais, mas talvez seja mais interessante investir esta média de preço em um Motospeed V20 se você joga algum FPS.

Foto: Márcio Bohrer
Foto: Márcio Bohrer

Se você ainda assim gostou do 125M e quer comprá-lo, posso dizer que ele com certeza é um bom mouse para jogadores casuais, pois o seu rastreio suficientemente bom para qualquer tipo de jogo que não exija precisão. É claro, não vamos esquecer que este mouse não terrível para jogos de FPS, ele é apenas "não recomendável", pois, por mais que você não perceba, os problemas de inconsistência dele estarão sempre afetando o seu desempenho.

Agradeço especialmente ao Arthur Pinheiro por nos emprestar os mouses da James Donkey para que os brasileiros pudessem conhece-los, são por leitores como ele que a comunidade acaba conhecendo novas opções em periféricos para os seus setups.