Anunciado há 2 anos, o Spotify Hi-Fi animou os fãs do som de alta fidelidade. Desde 2014, os usuários do Spotify Community haviam pedido publicado um pedido para que a plataforma de streaming implementasse a transmissão de músicas sem compressão (lossess ou sem perdas) e finalmente a empresa "atendeu" seu público anunciando que trará o acesso ao "áudio sem perdas com qualidade de CD". Embora a novidade até hoje não tenha sido lançada, há rumores de que a promessa seja cumprida ainda neste ano, mas infelizmente o aumento da resolução dos arquivos transmitir não irá melhorar a qualidade de som oferecida pelo Spotify caso a companhia não implemente certos recursos.

A transmissão de arquivos de áudio em formatos sem perdas (lossless)

Sem estes recursos o Spotify Hi-Fi não irá melhorar sua qualidade de som. Fonte: Oficina da Net
Sem estes recursos o Spotify Hi-Fi não irá melhorar sua qualidade de som. Fonte: Oficina da Net

Embora haja muito marketing sobre a alta resolução dos arquivos de música por serviços de streaming como Qobuz, Tidal e mais recentemente o Apple Music, não é isso que fará diferença na qualidade de som na prática. No aplicativo Qobuz, por exemplo, é possível selecionar a transmissão "streaming" no formato MP3 a um bitrate de 320 kbps, além da qualidade de CD (16 bits/ 44,1 KHz ou 1411 kbps), do padrão "Hi-Res" (24 bits / 96 KHz) e dos arquivos em alta resolução (24 bits / 192 Khz). Caso você utilize o app na mesma plataforma (Android, iOS, Windows, macOS), irá notar que não há diferença clara ao mudar nas configurações a resolução das faixas transmitidas.

É importante mencionar que formatos de arquivos de áudio utilizados pelos serviços de streaming que oferecem transmissão lossless ("sem perdas") em geral são: FLAC e ALAC. Porém, o Tidal utiliza um terceiro formato chamado MQA, uma solução que chega a ser controversa devido a alterações detectadas comparado às músicas no formato FLAC, conforme relatamos em nosso artigo sobre o que é o MQA. De qualquer forma, tanto o formato quanto a resolução e o bitrate das músicas não são o fator determinante para se obter uma boa qualidade de som, com exceção de casos extremos, onde o bitrate é menor que 192 kbps, onde começa-se a perceber uma degradação e consequentemente distorção nos sons reproduzidos.

Diferenças de qualidade entre os apps de streaming reproduzindo um mesmo álbum

É provável que você já tenha percebido em algum momento que um mesmo álbum pode soar diferente ao reproduzi-lo em aplicativos de streaming diferentes. O motivo disso pode ser diverso, mas normalmente temos duas situações comuns: bitrate abaixo do prometido pelo serviço e masterização diferente. No segundo caso não há como saber exatamente qual a masterização que a plataforma escolheu e um mesmo álbum pode ter 10 ou mais versões com diferentes masterizações como você pode conferir no site "Dynamic Range DB" pesquisando por algum título.

Captura de tela do site DynamicRangeDB mostrando o resultado da pesquisa do álbum Hotel California (Eagles) com suas respectivas masterizações. Fonte: https://dr.loudness-war.info/
Captura de tela do site DynamicRangeDB mostrando o resultado da pesquisa do álbum Hotel California (Eagles) com suas respectivas masterizações. Fonte: https://dr.loudness-war.info/

A interferência dos sistemas operacionais na reprodução das músicas

Outro motivo pelo qual pode haver diferença na qualidade de som reproduzida entre diferentes aplicativos de streaming de música é a ausência de recursos. Há funcionalidades que são necessárias para que não haja alterações/influências do sistema operacional do dispositivo responsável pela reprodução da música.

Os celulares Android irão alterar todas as músicas para a taxa de amostragem para 48Hz na saída USB ou na saída para fones de ouvido. Para evitar isso, o aplicativo de streaming terá de oferecer um recurso que utilize o áudio de forma exclusiva, sem a interferência de outros apps ou do sistema operacional. Até o momento, o único que faz isso de forma nativa é o Tidal, como comentamos no artigo sobre nem todos os serviços de streaming de música lossless serem realmente sem perdas.

No caso dos smartphones com iOS (iPhones), não existem o problema de alteração na taxa de amostragem, mas como não há mais saída para fones de ouvido, a única alternativa para se obter a conexão bit perfect é através de um DAC/amp e um cabo com certificação MFi, que atesta o funcionamento em produtos Apple. Em nosso artigo sobre os melhores "adaptadores USB para fones de ouvido" (DAC/amps USB) indicamos algumas opções interessantes.

Já nos PCs Windows, é necessário que o aplicativo de streaming tenha suporte aos drivers de áudio WASAPI e/ou ASIO. Desta forma, o sistema operacional ou os aplicativos instalados não irão influenciar na transmissão do áudio. Hoje somente o Tidal, o Qobuz e o Amazon Music têm essa capacidade, como explicamos em nosso artigo sobre a transmissão do áudio em serviços de streaming lossless.

A importância do hardware e dos cabos na reprodução das músicas comparado ao Bluetooth

Infelizmente o fluxo de transmissão de dados (bitrate) é um fator importante para a transmissão das músicas. No caso do Bluetooth, onde há a preocupação com a latência e a estabilidade do sinal, há uma compressão (codificação) e descompressão (decodificação) rápida e isso limita o fluxo de transmissão de dados que pode ser utilizado. Desta forma, caso você queira a melhor qualidade de áudio possível, será necessário utilizar fones de ouvido cabeados, como explicamos neste artigo sobre o que são codecs de áudio Bluetooth e qual a diferença para o MP3 e FLAC.

Se você utiliza um celular para reproduzir suas músicas e ele não conta com uma saída para fones de ouvido, será necessário adquirir um DAC/amp USB ("adaptador USB para fones de ouvido). Recomendamos a você que leia este artigo onde falamos sobre o assunto e indicamos as melhores opções.