Em 1998 surgia o DAP (Digital Audio Player), Rio PMP300, que abriria as portas para a popularização do formato de música mais popular de todos, o MP3. Nessa época, até então, os CDs e os discos de Vinil ainda eram populares, porém as coisas começaram a mudar quando o primeiro iPod foi lançado pela Apple em 2001. O reprodutor de músicas no formato digital da Apple permitia que centenas de músicas pudessem ser gravadas em sua memória interna e reproduzidas com facilidade.

Desde o lançamento do iPod, muitos fabricantes lançaram DAPs como a Sony com sua linha Walkman, a Samsung com os Yepp, a Microsoft com os Zune, a Cowon com os Plenue, entre outros. Embora até hoje ainda haja desenvolvedores de players, a grande maioria está sendo lançada com foco no público entusiasta e atualmente o dispositivo mais utilizado para a reprodução de músicas é o celular. Mas não foi somente essa a mudança de comportamento que houve, com a lançamento da plataforma de streaming de músicas em 2006 muitos acabaram parando de comprar CDs ou fazer download de músicas, pois grande parte dos artistas que as pessoas gostam já estava sendo disponibilizada pelo serviço de transmissão de faixas que utiliza a nuvem como forma de armazenamento.

Imagem ilustrativa de serviços de streaming de música. Fonte: Vitor Valeri
Imagem ilustrativa de serviços de streaming de música. Fonte: Vitor Valeri

Com a popularização dos serviços de streaming como o Spotify, Deezer, Apple Music, Amazon Music, YouTube Music, entre outros, a qualidade dos arquivos de música acabou caindo consideravelmente e a grande maioria das pessoas deixou de comprar CDs ou obter músicas da internet. Entretanto, isso começou a mudar com a plataforma de streaming lossless (sem perdas) Tidal em 2014, que tem a proposta de trazer o áudio de alta fidelidade para os consumidores de músicas armazenadas na nuvem. Quatro anos depois, outras empresas do ramo acabaram adotando a ideia e em 2018 a Deezer lançou seu plano Hi-fi, seguida pela Amazon que em 2019 estreou o Amazon Music HD.

Neste ano de 2021, as músicas em alta qualidade, também denominadas como áudio "Hi-fi" ou "Hi-Res", ganharam uma força considerável com o anúncio da transmissão de arquivos lossless (sem perdas) pelo Spotify e pela Apple para o Apple Music. Em particular, a "maçã" acabou causando mais uma vez (lembra do iPod citado anteriormente?) o surgimento de uma necessidade ao informar aos assinantes do seu serviço de streaming que eles precisam utilizar um hardware externo para desfrutar melhor da transmissão de áudio lossless oferecida. Com isso, muitos estão procurando saber como obter uma qualidade maior ao ouvir suas músicas, o que nos leva a esse artigo, onde tentarei mostrar o caminho para saber que é preciso para conseguir apreciar as faixas de seu artista favorito com alta fidelidade.

O que é preciso para reproduzir músicas em alta qualidade (Hi-fi)?

Atualmente no Brasil temos 5 serviços de streaming oferecem músicas em formato lossless (sem perdas): Amazon Music Unlimited (24bits/192Khz), Tidal (até 24 bits/352 kHz), Qobuz (24bits/192kHz), Deezer (até 16 bits/44,1Khz) e Apple Music (até 24bits/192Khz). Para que você consiga obter a reprodução com a máxima qualidade oferecida pelas plataformas, o ideal é utilizar um hardware externo e conectá-lo ao celular. Quando o usuário do Apple Music atualiza a versão do app que traz a implementação do áudio sem perdas, há um aviso dizendo:

"Para reproduzir conteúdo em Hi-Res Lossless de resolução completa, você precisará de um conversor de digital para analógico externo."

Telas do app Apple Music (v3.6) para Android, onde se exibe a mensagem de que é necessário um DAC (Digital to Analog Converter) externo para reproduzir conteúdo Hi-Res. Fonte: Vitor Valeri
Telas do app Apple Music (v3.6) para Android, onde se exibe a mensagem de que é necessário um DAC (Digital to Analog Converter) externo para reproduzir conteúdo "Hi-Res". Fonte: Vitor Valeri

Esta mensagem está mal traduzida, mas o que foi dito no aviso é sobre a necessidade de um DAC (Digital to Analog Converter) externo para que seja possível obter a qualidade máxima do conteúdo em alta resolução (Hi-Res) que está sendo oferecido pelo serviço de streaming. Para entender melhor o motivo dessa exigência, precisaremos entender do que se trata o hardware citado.

Atenção: Se você é um usuário de celulares Android, acesse o artigo "Tidal e Qobuz não entregam a qualidade máxima no Android? Resolva agora".

O que é um DAC?

O DAC é um chip DAC (Digital to Analog Converter) responsável por converter um sinal digital em um sinal elétrico analógico. Ele é uma peça necessária para fazer com que o fone de ouvido emita algum som quando se está reproduzindo arquivos de música digitais. Porém, somente este sinal não basta para fazer com que o driver funcione e reproduza as ondas sonoras. Ou seja, um DAC sozinho não irá fazer o fone de ouvido funcionar, é necessário amplificar o sinal através de um sistema de amplificação (amplificador).

DAC Topping E30 (em cima) e amplificador Topping L30 (embaixo). Fonte: Henrique Lira
DAC Topping E30 (em cima) e amplificador Topping L30 (embaixo). Fonte: Henrique Lira

Por que o amplificador é necessário para ouvir música?

O amplificador é o hardware responsável pela amplificação do sinal analógico convertido pelo DAC. Ele é a "peça" responsável pela amplificação do sinal de maneira suficiente para que o diafragma do fone de ouvido vibre o suficiente para gerar ondas de som audíveis pelo ouvido humano.

Amplificador Woo Audio WA3 e headphone Sennheiser HD560S. Fonte: Vitor Valeri
Amplificador Woo Audio WA3 e headphone Sennheiser HD560S. Fonte: Vitor Valeri

Qual é a alternativa mais barata para ouvir músicas em alta qualidade (Hi-fi)?

Mesmo que o seu celular possua um bom DAC internamente e uma saída para fones de ouvido (P2/3,5mm), ainda haverá uma deficiência na seção de amplificação. Ou seja, na grande maioria das vezes haverá um benefício em comprar um dispositivo externo para obter um desempenho maior ao ouvir as músicas em alta resolução. A alternativa mais barata para isso é adquirir adaptadores USB para P2 ativos (mais abaixo será explicado sobre ser ativo ou passivo), que possuem um DAC e um amplificador internamente (DAC/amp). Eles serão capazes de proporcionar uma qualidade superior à que o smartphone consegue entregar (principalmente em termos de amplificação) e ao mesmo tempo poderá utilizar um fone de ouvido cabeado com terminação de 3,5mm SE (single-ended) ou 2,5mm balanceada (para saber mais sobre conexões SE e balanceadas, acesse este artigo).

É interessante mencionar que adaptadores USB para P2 com conexão 2,5mm balanceada costumam entregar uma potência maior para os fones de ouvido. Entretanto, vale dizer que são raros os casos que fones de ouvido já vem com um cabo balanceado de fábrica, ou seja, a pessoa terá de comprar outro cabo para seu in-ear, on-ear ou over-ear caso ela queira se beneficiar desta característica.

DAC/amp USB iBasso DC01 e fone in-ear Campfire Audio IO. Fonte: gagadget.com
DAC/amp USB iBasso DC01 e fone in-ear Campfire Audio IO. Fonte: gagadget.com

Basicamente, quando um adaptador USB para P2 (3,5mm) é ativo, significa que ele possui um DAC (digital to analog audio converter) e um amp (amplificador) internamente. Confira abaixo as diferenças de funcionamento entre um adaptador passivo e um ativo:

  • Ativo: Quando o sinal digital é enviado pelo conector USB ignorando o DAC/amp integrado do celular. O sinal digital é convertido em analógico e amplificado no próprio adaptador USB para P2, pois ele possui um DAC/amp internamente.
  • Passivo: O DAC/amp integrado na placa do smartphones converte o sinal digital em analógico e amplifica antes de enviá-lo para o adaptador USB para P2. Ou seja, não há interferência na qualidade de áudio produzida pelo hardware de áudio do celular. Geralmente este tipo de adaptador é mais barato, pois não há qualquer circuito de processamento do sinal de áudio dentro dele, deixando esta tarefa para o telefone.

Fones de ouvido precisam ser compatíveis com streaming de músicas lossless ou Hi-res?

Confesso que não sei exatamente o motivo, mas muitos me perguntam se determinados fones possuem compatibilidade com streaming de músicas lossless ou Hi-res, como se houvesse um impeditivo devido a resolução do arquivo de áudio ser maior do que, por exemplo, uma faixa no formato MP3. Entretanto, a realidade é que não existe pré-requisito nenhum, não importa se o fone ouvido custa R$10 ou R$1000, ambos serão capazes de reproduzir músicas em alta definição. Agora, dizer que todo modelo de fone de ouvido irá tocar da mesma forma o arquivo, é outra história, ou seja, é necessário saber separar uma característica da outra.

Ou seja, caso você queira garantir que tem um dispositivo capaz de entregar a máxima qualidade oferecida pelo serviço de streaming, a melhor alternativa é adquirir um DAC/amp USB, também chamados de "adaptadores USB para P2 ativos", e um fone de ouvido com fio. O motivo da necessidade do cabeamento é que simplesmente o Bluetooth causa uma perda de qualidade no caso dos fones de ouvido sem fio.

Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End: