Não há como negar que a Apple popularizou os fones de ouvido Bluetooth que não utilizam fio algum para se comunicar com os dispositivos reprodutores de música. A popularização dos fones True Wireless não foi somente impulsionada pela Apple através do lançamento dos Airpods, mas também através da retirada da saída P2 (3,5mm) para fones de ouvido de seu smartphone, o iPhone. Porém, por mais que a empresa da maçã dite certas tendências com suas ideias "inovadoras", não quer dizer que ela possua a capacidade de extrair o que há de melhor da tecnologia utilizada.

Antes de iniciar este artigo, quero esclarecer que o objetivo dele não é um review dos fones recém lançados pela Apple. O intuito do texto é um debate para mostrar que as alterações feitas pela empresa no fone não caminham para o que diz o nome "Pro". Há tecnologias, que ao serem implementadas, em qualquer fone que seja, impedirão que a qualidade do fone escale, pois o que ocorre na verdade é uma degradação do som ao invés de uma melhora.

Airpods e a concorrência

Após a estreia da primeira geração dos Airpods, causando grande alvoroço (como sempre) pelos fãs da Apple, muitas fabricantes de fones de ouvido viram a possibilidade de entrar no mercado e fazerem melhor do que a empresa de Steve Jobs fez. E realmente foi o que aconteceu, surgiram fones com uma qualidade de som melhor, com uma fixação no ouvido melhor para os praticantes de atividades físicas, com certificação IPX4 (resistência contra suor e respingos de água) e com uma conectividade melhor através da utilização de codecs de áudio Bluetooth mais avançados. Entretanto, como o símbolo da maçã é forte, as vendas da empresa parecem não ter sido prejudicadas pela concorrência, mesmo cobrando mais caro (preço inicial de US$159 na primeira e segunda geração dos Airpods).

Hoje, no mercado, existem bons fones, tanto em termos de construção quanto em termos de ergonomia, som, funcionalidades e transmissão de áudio. Geralmente se encontra fones com uma qualidade sólida, levando em conta todos os quesitos citados anteriormente, a partir de aproximadamente US$99 (US$59 a menos que os Airpods da geração passada). Fora isso, eles ainda têm outra vantagem com relação aos fones da Apple, que é a capacidade de utilizar seus codecs de áudio Bluetooth de maior qualidade em praticamente qualquer aparelho, ao passo que os Airpods só conseguem ter uma qualidade aceitável com a utilização de dispositivos da maçã.

O que os Airpods Pro têm para oferecer, que já não temos?

Imagem ilustrativa. Fonte: Apple
Imagem ilustrativa. Fonte: Apple

Nesta nova geração dos fonesTWS (True Wireless Stereo) da Apple pudemos perceber que a própria empresa sentiu que estava ficando para trás, ficando defasada frente a concorrência. O primeiro e principal ponto foi a troca do tipo earbud para intra-auricular, algo que muitos reclamavam e pediam para que fosse mudado, pois o encaixe dos earbuds não era adequado para atividades físicas, por não oferecerem um encaixe muito seguro. Essa troca nos leva a outra questão, a melhora no isolamento de forma passiva do ruído externo, algo que ajudará a muitos em situações como, por exemplo, no trabalho em que há muitas pessoas falando ou barulho de máquinas ou no deslocamento pela cidade em locais com muito trânsito.

Essa mudança no formato do fone é algo que outras fabricantes de fones já estavam utilizando há um bom tempo, pois o fone do tipo in-ear oferece diversos benefícios, como você pode conferir acima. Entretanto, o formato de earbud não é de todo ruim, pois há pessoas que não conseguem lidar com algo entrando dentro do canal auditivo, que é a maneira como se encaixa fones intra-auriculares. Além disso, o formato dos earbuds também contribui para um melhor conforto que fones in-ear na grande maioria das vezes, e se saem muito bem em ambientes mais calmos (com menos barulho).

Porém, os fones do tipo earbud, possuem um defeito, o som "vaza" muito, diminuindo sua capacidade de reproduzir graves com bom desempenho, deixando um som com uma assinatura mais neutra ou com médios mais proeminentes ou com agudos mais proeminentes. Essa característica de som é perfeita para, por exemplo, atender a uma ligação telefônica ou ouvir podcasts, pois as vozes concentram sua atividade nas frequências dos médios. Mas se partirmos para a audição de uma música, dificilmente um fone do tipo earbud se sairá melhor que um fone do tipo in-ear.

Tecnologias implementadas nos Airpods que degradam o som

Imagem ilustrativa. Fonte: Apple

Partindo para a parte de tecnologias implementadas, vemos que é justamente nesta parte que os Airpods deixaram de evoluir para algo que tenha um som mais fiel, mais "profissional" (não é a proposta, mas o nome do novo modelo diz) e ao mesmo tempo encareceram o valor final sem necessidade. Os Airpods Pro ganharam o cancelamento de ruído ativo (ANC ou Active Noise Cancelling), isso é bom para quem pretende fugir do barulho e escutar sua música sem a necessidade de aumentar mais o volume, mas se você parar para pesquisar um pouco, vai ver que esta tecnologia afeta diretamente na qualidade de som quando ativada. Quando o ANC é utilizado, ele causa interferência na reprodução dos sons, pois afeta a transmissão de sinais em sua placa interna, gerando ruídos e degradando a qualidade da música, por exemplo.

Um ponto ruim que a Apple fez no design do seu fone, foi uma abertura no corpo do fone com a promessa de evitar que a pressão gerada pelos drivers dinâmicos do fone não fique acumulada. Porém, ao fazer isso, a empresa transformou um in-ear em um fone semi-aberto, retirando em partes a capacidade de realizar um isolamento do ruído ambiente de maneira passiva. Ao menos, a empresa conseguiu diminuir o tamanho das hastes, algo bizarro de se ver na primeira e segunda geração dos Airpods.

Porém, a maçã não fez "melhorias" somente na estrutura e hardware do fone, ela adicionou uma tecnologia chamada de equalização adaptativa. Essa funcionalidade promete ajustar os graves, médios e agudos de acordo com o formato do ouvido do usuário. A princípio esta tecnologia parece ser interessante, porém me parece que é uma maneira que a empresa encontrou de "consertar" as falhas de fit (encaixe) no ouvido da pessoa, algo que pode ser resolvido simplesmente com a troca do tamanho das eartips (ponteiras, borrachinhas) de silicone utilizadas (veja aqui a influência das eartips no som dos fones de ouvido) e posicionamento e inserção "corretos" no canal auditivo.

A equalização adaptativa nos leva a outro problema também, a questão da alteração excessiva do som do fone de ouvido, podendo trazer uma sonoridade muito artificial para a música que a pessoa estiver ouvindo.

Vídeo apresentação dos novos AirPods