Um novo golpe tem sido usado para enganar e fazer a limpa na conta de diversas vítimas que utilizam aplicativos como iFood, Rappi e Uber Eats. Imagine a seguinte situação: você escolhe uma comida pelo aplicativo, confirma o pedido e um tempo depois recebe uma ligação dizendo que o seu entregador sofreu um acidente e o restaurante vai enviar outro no lugar, porém com uma cobrança extra de um pequeno valor, às vezes menos de R$ 5. O que você faria?

Cuidado com o “golpe da maquininha no iFood”

A frase “o entregador sofreu um acidente” pode fazer com que você sinta compaixão e, com isso, se sentir motivado em contribuir com uma pequena ação para contornar o problema. O pequeno valor adicional cobrado para enviar um novo entregador, que geralmente gira em torno de 3 ou 4 reais, é mais um motivo para você não hesitar em continuar com a entrega. Porém, infelizmente, essa é mais uma desculpa que tem sido usada no famoso "golpe do delivery".

Na última semana, diversas pessoas abriram reclamações ou chegaram até a relatar o ocorrido numa delegacia policial, por terem sido surpreendidas com cobranças absurdamente indevidas em sua conta ou no cartão de crédito.

Isso porque, na verdade, “o novo entregador” faz parte do golpe e quando chega em sua residência, pode acabar induzindo você a usar a maquininha do cartão para o pagamento mesmo que ela esteja com o visor quebrado. Antes de você inserir a senha, o valor original pode ter sido alterado por um número muito maior e com o visor quebrado, você não consegue perceber isso.

Conforme reportado pelo Fantástico no último domingo (12), uma usuária deveria pagar apenas R$ 3,90 pela taxa adicional, mas foi surpreendida com uma compra de mais de R$ 2.000 em sua conta bancária. A modelo Yasmin Brunet chegou a perder R$ 7,9 mil dessa forma. O caso mais recente ocorreu na sexta-feira, 29 de outubro, quando um casal de Belo Horizonte pediu um lanche, recebeu a ligação dizendo que o entregador sofreu um acidente e que o substituto iria cobrar uma taxa de R$ 7. O prejuízo desse casal foi de R$ 4.507.

De acordo com o Procon-SP, o número de reclamações de golpes envolvendo aplicativos de entrega aumentaram 186% entre 2020 e 2021. Os principais aplicativos utilizados na tentativa de fraude foram iFood, Rappi e Uber Eats.

5 dicas para não cair no “golpe do delivery”

Veja cinco dicas para não cair no golpe do delivery. (Imagem: Reprodução / Canva)
Veja cinco dicas para não cair no golpe do delivery. (Imagem: Reprodução / Canva)

Devido a gravidade do problema, o Oficina da Net separou 5 dicas que podem te ajudar a identificar se você é uma vítima do famoso “golpe do delivery”.

1. Recebeu uma ligação que o entregador teve um acidente?
Desconfie. Acidentes realmente acontecem, mas evite acreditar nesta situação logo de primeira, mesmo que alguém ligue em nome do restaurante e confirme as informações sobre o seu pedido ou sobre você.

2. O rosto do entregador não é o mesmo da foto que está cadastrada no aplicativo?
Evite fazer o pagamento. Às vezes, é possível que alguém trabalhe nos apps de entrega com o perfil de algum parente ou namorado. Mas quando você vai realizar o pagamento para esta pessoa, é bom se certificar que seja a pessoa certa.

3. O entregador disse que a maquininha do cartão está com problema, com o visor quebrado ou algo do tipo?
Não pague! Em hipótese alguma você deve inserir seu cartão em uma máquina que você não consegue visualizar as informações. Tente entrar em contato com o restaurante e solicite outra maquininha.

4. Foi solicitado o pagamento de uma taxa extra de entrega?
Não realize o pagamento. Para te convencer a aceitar, o valor adicional é de menos de R$ 5. Pode parecer pouco para alguns, mas é na hora de pagá-lo que a surpresa acontece. Lembre-se que todo o pagamento, inclusive da entrega, é discriminado pelo aplicativo na hora da compra — não aceita pagar nada além disso.

5. Você recebeu uma mensagem ou ligação do restaurante pedindo seus dados pessoais como do seu cartão de crédito?
Jamais forneça qualquer informação pessoal. Todos os dados pessoais são solicitados pelo aplicativo — e somente pelo aplicativo. Não existe motivo plausível para o restaurante te pedir, por exemplo, a bandeira do seu cartão de crédito.

Como se prevenir?

Além das dicas sobre o que fazer em cada uma das situações acima, saiba também como proteger você e sua família, quando solicitam comida pelo aplicativo.

  • Evite usar maquininha. Prefira pagar o pedido diretamente no aplicativo;
  • Mas se você realmente precisa pagar com a maquininha, fique atento ao valor que for exibido na tela. Caso você não consiga enxergar, não faça o pagamento;
  • Ainda para quem usa maquininha, tenha cuidado ao digitar sua senha. Faça isso de uma maneira que outras pessoas não vejam;
  • Se você já pagou pelo compra e entrega no aplicativo, não faça nenhum outro pagamento na hora da entrega;
  • Assim que a compra for aceita, verifique o valor cobrado na sua conta ou no extrato do seu cartão. Você pode fazer isso pelo aplicativo do seu banco ou até pelo WhatsApp oficial da rede bancária que você utiliza.

Caí no golpe! E agora? Quem paga a conta?

O Oficina da Net entrou em contato com as empresas iFood, Rappi e Uber Eats, para saber o que é possível fazer nessa situação.

O que diz o iFood?

Em nota, o iFood reforçou a importância de acionar a empresa por meio dos canais oficiais de atendimento e enviar um boletim de ocorrência.

"Após o recebimento dos casos, o iFood realiza uma análise e caso seja constatada a fraude, faz o ressarcimento para o cliente e desativa o entregador."

O que diz o Rappi?

O Rappi, por sua vez, afirmou que o valor cobrado indevidamente deveria ser solicitado ao banco para o cancelamento da compra, já que se trata de “uma cobrança fora da plataforma". A plataforma disse que não consegue intermediar o ressarcimento de pagamentos fora da plataforma, já que os entregadores são profissionais independentes.

Mesmo assim, a empresa salienta que pode tomar as medidas cabíveis com relação à má conduta do entregador, mas sem detalhar quais seriam essas medidas. Para coibir esse tipo de conduta, a empresa acrescenta que mapeia e analisa fraudes realizadas pelos entregadores e consegue identificar o perfil do fraudador.

"Estruturamos uma equipe que trabalha em conjunto com as polícias civil e federal para identificar o modus operandi das fraudes, como os locais mais utilizados e o perfil do entregador fraudador. Já abrimos investigações e originamos ações legais das autoridades contra entregadores que roubaram ou prejudicaram nossos usuários."

O que diz o Uber Eats?

Já o Uber Eats nos enviou um posicionamento sobre o caso informando que os pagamentos por cartão (débito e crédito) só podem ser feitos pela plataforma. A maquininha de cartão, principal ferramenta utilizada pelos golpistas, não é aceita como meio de pagamento oficial. A empresa salienta que está "continuamente reforçando que os usuários sempre façam o pagamento conforme informado no pedido".

Com relação aos valores alegados, "a Uber informa sempre aos seus usuários que não retifica valores e nunca faz cobranças adicionais por meio de entregadores parceiros, seja com dinheiro ou com maquininha". Mesmo assim, reforça a necessidade de se avaliar a qualidade do serviço que está sendo prestado por meio do sistema de avaliações do aplicativo.

"Parceiros [entregadores] com sucessivas avaliações negativas podem, inclusive, ter as contas desativadas da plataforma. Parceiros que descumpram os Termos de Uso da plataforma (por exemplo, com seguidos cancelamentos injustificados, reiteradas denúncias de extravio de pedidos ou tentativas de fraude identificadas por nossos sistemas e equipes) também estão sujeitos à desativação."

Além disso, o Uber Eats conta com uma equipe de suporte disponível 24/7, que analisa individualmente caso a caso. O contato pode ser feito pelo menu de ajuda do próprio app ou pelo site https://help.uber.com/.