Fim de ano chegando e com ele as famigeradas retrospectivas. Como eu também sou clichê resolvi fazer uma listinha com os 10 fatos mais importantes do ano sobre o "universo" da astronomia.

Infelizmente, ainda não há descobrimos os alienígenas. Mas ok, 2017 foi excelente para o pessoal que gosta dos demais assuntos que envolvem o universo. Esse ano rolaram descobertas, foram resolvidos algumas questões (enquanto que algumas outras surgiram), erros foram corrigidos, etc.

Pois é, 2017 teve muita coisa e foi difícil escolher somente 10 eventos, mas fiz o meu melhor. A lista você confere a partir de agora.

P.S. Não seguie nenhuma ordem cronológica, de importância, ou qualquer outra. Foi na sorte mesmo.

Achamos uma estrela zumbi?

Lá em 2014, em setembro para ser mais exato, uma pesquisa automatizada de campo aberto chamada de Palomar Transient Factory (PTF) descobriu uma nova estrela. Até aí tudo bem. Primeiro pensou-se que ela não passava de uma estrela normal, tipo o nosso sol, tanto que ela recebeu um nome padrão: iPTF14hls. Até mesmo quando explodiu ela parecia ser um evento recorrente: supernova tipo II-P padrão. Identificada como tal, era sabido pelos cientistas que o brilho da explosão não deveria durar mais do que 100 dias nessa função, porém...

Após alguns meses a estrela inexplicavelmente começou a crescer de novo, mais brilhante do que nunca. Até o exato momento a iPTF14hls flutuou entre os status de "muito brilhante" e "bem fraquinha" pelo menos cinco vezes.

Assim que os astrônomos perceberam que tinham uma estrela incomum em suas mãos eles foram aos arquivos das buscas automatizadas para procurar alguma similaridade com outros corpos celestes e quem sabe alguma pista ou resposta. O mais surpreendente foi o que eles encontraram: outra supernova exatamente na mesma localização em 1954!! 

Ao que tudo indica até o momento a estrela virou uma supernova, sobreviveu por 60 anos, e depois reiniciou o ciclo, fazendo com que ela fosse carinhosamente apelidada de estrela zumbi (se você não entendeu a referência, saiba que uma supernova é o último estágio da morte de uma estrela, ou seja, essa queridinha aí de cima morreu e depois voltou para reiniciar o ciclo). 

Uma teoria afirma que a estrela é o primeiro exemplo confirmado de uma supernova pulsacional de instabilidade par (ou, pulsational pair-instability supernova, no original. Acho que esse esse termo ainda não tem tradução em português), uma estrela tão maciça e quente que pode gerar antimatéria em seu núcleo. Com isso ela se tornaria incrivelmente instável e levaria a repetidas erupções antes de uma explosão final que colapsaria em um buraco negro.

Comparação dos registros anteriores da mesma localização espacial onde se nota uma explosão em 1954, nada em 1993 e, então, a nova explosão em 2014
Comparação dos registros anteriores da mesma localização espacial onde se nota uma explosão em 1954, nada em 1993 e, então, a nova explosão em 2014

Mas nem todos concordam com essa teoria, argumentando que ela não explica todos as particularidades de iPTF14hls. O astrônomo Andy Howell disse, por exemplo, que tais explosões só seriam possíveis durante o início do universo e que acharmos uma delas em 2017 seria o mesmo que encontrarmos um dinossauro vivo andando por aí. 

E caso você tenha se perguntado o porquê de um evento de 2014 estar em uma lista de eventos de 2017 é porque a pesquisa foi concluída e publicada neste ano

Recebemos nosso primeiro visitante interestelar

2017 será lembrado como o ano que, finalmente, descobrimos e confirmamos o primeiro visitante interestelar a vir passear pelo nosso sistema solar.

O pioneiro, que ficou famoso por ter a forma de charuto e que é meio avermelhado, primeiramente foi considerado um cometa, porém, após uma inspeção mais cautelosa do Very Large Telescope (VLT) percebeu-se que ele não tinha um coma (uma nuvem de poeira que circunda o núcleo de um cometa e é uma característica obrigatória deste tipo de objeto.

Coma é essa parte branca que envolver o cometa
Coma é essa parte branca que envolver o cometa

Não podendo mais ser um comenta, então tinha de ser reclassificado. Assim "virou" um asteroide e recebeu o nome havaiano ‘Oumuamua (com apóstrofo antes do nome mesmo), que significa "um mensageiro de longe chegando primeiro". O objeto rochoso é alongado e mede mais de 400 metros de comprimento, mas menos de 40 metros de largura, que é uma relação comprimento x largura nunca visto até então em nenhum outro cometa ou asteroide observado no sistema solar.

O ‘Oumuamua também varia em brilho por um fator de dez, pois gira em seu eixo a cada 7,3 horas, o que, mais uma vez, trata-se de um fenômeno inédito nos objetos rochosos já observados na nossa vizinhança galáctica.

Por isso o melhor palpite dos astrônomos até agora sugere que ele veio de longe, da direção da estrela Vega da constelação Lyra (mesmo que a sua viagem tenha começado há tanto tempo que a estrela nem mesmo estivesse naquele ponto do espaço que usamos hoje como ponto de referência).

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Embora o 'Oumuamua tenha sido o primeiro, os astrônomos continuam esperançosos de que mais objetos interestelares sejam encontrados dando uma volta perto da nossa casa graças a novos e poderosos telescópios de pesquisa como o Pan-STARRS.   

Enquanto isso eles estão debatendo se é viável ou não enviar uma sonda para o asteroide, já que o ‘Oumuamua está atualmente passando vuadaço pelo nosso sistema solar a uma velocidade de 138.000 quilômetros por hora, pelo menos duas vezes mais rápido do que qualquer objeto artificial enviado pelo homem ao espaço.

Embora interceptá-lo não seja impossível, a tarefa seria bastante arriscada, sobretudo porque não houve tempo para um planejamento. Mesmo assim, alguns acreditam que é possível pegar ele na passagem. Esse time dos mais esperançosos se reuniu e até lançou o recentemente o Projeto Lyra com essa finalidade.

As especulações sobre o charutão é que são o mais interessante de tudo. Pode ser que lá tenha "água alienígena"  ou até mesmo ser uma nave espacial (risos).

Alguns dizem que o asteroide seria uma nave disfarçada
Alguns dizem que o asteroide seria uma nave disfarçada

Encontrada uma caverna na lua adequada para abrigar humanos e servir como uma base

Uma descoberta que dessa vez não foi feita pela NASA, mas sim por cientistas japoneses, reviveu aqueles antigos e clássicos sonhos de ficção científica de estabelecer uma colônia humana na Lua.

Em outubro, a (JAXA) Agência de Exploração Aeroespacial do Japão anunciou que tinham encontrado uma caverna no nosso satélite que mede 100 metros de largura por mais de 50 quilômetros de comprimento. A caverna foi encontrada pela Sonda de Exploração Lunática e Engenharia (SELENE, no original) sob uma região de cúpulas vulcânicas chamado Marius Hills.

Hoje pensa-se que a cavidade subterrânea seja um túnel de lava formado por atividade vulcânica há 3,5 bilhões de anos. A existência desses tubos de lava tem sido inferida há bastante tempo, mas esta é a primeira confirmação oficial e fundamentada em evidências.

A principal e mais óbvia razão pela qual os cientistas (e eu também) estão tão entusiasmados com essa descoberta é que os túneis de lava são fortes candidatos a abrigarem bases terráqueas na abaixo da superfície da Lua. Eles são termicamente estáveis, o que protege os astronautas das temperaturas extremas na superfície, que variam de -153 a 107 graus Celsius, além de proteger os exploradores e seus instrumentos dos raios cósmicos e micrometeoritos que poderiam destrui-los facilmente (a Lua não tem atmosfera, então os meteoritos chegam pra matar mesmo).

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Além disso, embora ainda não confirmado, não é muito louco pensar que até mesmo seja possível que esses túneis levem a possíveis depósitos de gelo ou água líquida em algum ponto de sua extensão e que poderiam ser usados por nós.

Para dar mais esperança, no fim de novembro Donald Trump assinou um decreto que prevê novas missões tripuladas ao nosso satélite, inclusive, com o possível objetivo de montar ali um entreposto que facilitaria a viagem até Marte. 

O mistério da estrela que desaparece

Há 580 anos astrônomos coreanos registraram uma nova estrela que aparecia no céu em uma constelação já conhecida por eles. Embora o simples fato de registrar uma estrela pudesse ser avançado para a época, o que aconteceu depois foi ainda mais curioso: Após 14 dias a estrela desapareceu. Ela não era satélite, então o que ela era?

Pois é, o fato demorou séculos para ser resolvido, quase 600 anos, na verdade. Demorou, mas os cientistas finalmente parecem ter encontrado a explicação. A resposta foi encontrada por uma equipe de pesquisadores liderada pelo Dr. Michael Shara, do Museu Americano de História Natural, e, segundo eles, a estrela sumida faz parte de uma variável cataclísmica

Uma formação deste tipo consiste em uma anã branca e uma outra estrela (anã vermelha, por exemplo) que, de tão próximas, a segunda acaba transferindo massa para a primeira. A segunda é, comumente, chamada de estrela doadora.

Quando a temperatura e a densidade atingem níveis altos o suficiente para iniciar uma reação de fusão nuclear, a anã branca desencadeia uma explosão de energia chamada nova. Este evento astronômico é incrivelmente brilhante e representa o que os astrônomos coreanos viram. Depois de algumas semanas, a nova desaparece e com ela o seu brilho, que neste caso era a "nova" estrela vista por eles.

A descoberta foi possível graças à precisão dos coreanos, que em 11 de março de 1437 registraram sua visão em Seul, entre a segundo e terceira estrela da sexta casa lunar. Assim, Shara "só" precisou consultar alguns historiadores e depois examinar os mapas astronômicos chineses para identificar a localização da anã branca.

Mais importante ainda é que o astrônomo acredita que a descoberta valide uma hipótese segundo a qual os dois tipos de estrelas binárias são, na verdade, dois estágios do mesmo tipo de estrela.

Estrela doadora à esquerda passando sua massa
Estrela doadora à esquerda passando sua massa à colega

Sinal Weird!

Em 1977, os astrônomos da Universidade Estadual de Ohio estavam monitorando casualmente à procura de algum sinal de inteligência extraterrestre quando captaram uma transmissão de rádio anômala que parecia ser alienígena. Os cientistas ficaram tão espantados que um deles acabou escrevendo um "Wow!" na impressão das leituras, dando origem ao famoso "Sinal Wow!" que talvez você já tenha ouvido falar.

E se a coisa só com o Wow! Já era bastante locaça, imagine você que este ano tivemos a captura de mais um sinal "de outro mundo", o "sinal Weird!" (que significa "sinal estranho!"), capturado em 12 de maio no Observatório Arecibo em Porto Rico

registro original do sinal Wow!
registro original do sinal Wow!

A fonte do sinal aparenta ser Ross 128, uma estrela anã vermelha até então sem planetas conhecidos, localizados a 11 anos-luz da Terra. Durante dez minutos, o sinal foi observado como sendo quase periódico, após os quais desapareceu para sempre.

Obviamente, quando o anúncio oficial da captação foi feito, a primeira reação de muitas pessoas foi pensar em alienígenas. No entanto, ao admitir que os sinais eram "muito peculiares" a equipe de Arecibo concluiu que o mais provável é que eles sejam o resultado de interferências de rádio de satélites humanos ou até mesmo uma tempestade em alguma estrela.

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sinal Weird!

E para tristeza geral de todos que ainda se agarravam a uma pontinha de esoerança do sinal ser uma mensagem inteligente, más notícias: após um esforço conjunto entre os astrônomos porto-riquenhos e diversas instituições do SETI (Search for Extraterrestrial Inteligence) foi confirmado que o Weird! vinha mesmo de satélites geoestacionários orbitando a Terra. 

E um bônus sobre Ross 128: Esta não foi a única vez em que a estrela ficou famosinha. Em novembro, astrônomos anunciaram que a anã vermelha, na verdade, tem um exoplaneta em sua órbita. Batizado de Ross 128 B ele não é só um exoplaneta qualquer, mas um exoplaneta terrestre com rotação lenta e uma distância de "apenas" 11 anos-luz, o que o torna o segundo candidato mais próximo para abrigar vida alienígena fora do nosso sistema solar. Além disso ele leva vantagem sobre o número 1, Proxima Centauri b, porque orbita uma anã vermelha muito menos volátil, ou seja, que não emite tantas explosões de radiação e que por isso pode possuir um atmosfera.

representação do exoplaneta sendo iluminado por Ross 128
representação do exoplaneta sendo iluminado por Ross 128

Neste ano chegou ao fim também o mistério do sinal Wow! Segundo o astrônomo Antonio Paris, da Universidade de São Petersburgo, a confusão foi criada por 2 cometas.

Estes cometas, conhecidos como 266P/Christensen e 335P/Gibbs, têm nuvens de hidrogênio com milhões de quilômetros de diâmetro ao redor deles. O Wow! O sinal foi detectado em 1420MHz, que é a radiofreqüência que o hidrogênio naturalmente emite. Após esse insight inicial a equipe do pesquisador verificou que os cometas estavam na vizinhança no momento da captura do sinal e que os sinais de rádio de 266P/Christensen combinavam com os do sinal Wow!

Encontrando o link perdido da formação do planeta

Em 2014 vivemos um dos maiores episódios na história da exploração espacial de todos os tempos: a nave espacial Rosetta conseguiu pousar o módulo Philae em um cometa pela primeira vez na história (por isso que disse ali em cima que pousar uma sonda no Charutão seria difícil, mas não impossível).

Sério, essa história é demais: Conseguimos fazer um pouso controlado e em segurança no 67P/Churyumov-Gerasimenko, um cometa que estava viajando a 135 MIL quilômetros por hora. Deve ser mais ou menos a mesma coisa que acertar um tiro numa mosca em movimento há 50 quilômetros de distância. 

Passada a euforia (e após perder comunicação com o Philae), Rosetta ficou orbitando o cometa enquanto enquanto continuava enviando informações de volta à Agência Espacial Europeia (ESA). Os dados só pararam de chegar quando ela se chocou com um outro cometa e foi destruída. Mas até sua destruição foi tempo suficiente para Rosetta cumprir sua missão com louvor e enviar tantos dados que, mesmo um ano depois do término dos envios, ainda estamos descobrindo coisas novas. De acordo com um estudo publicado pela Royal Astronomical Society, estes dados revelaram o elo perdido da formação do planeta. 

A equipe de pesquisa concluiu que o cometa de 4,5 bilhões de anos é formado por seixos de poeira de tamanho milimétrico nas camadas externas, que se misturam com pedras de gelo dentro dele. Atualmente, apenas um modelo usado para a formação de grandes corpos no início do sistema solar poderia explicar essa composição: o modelo da nebulosa solar.

Por essa linha de pensamento, os seixos de poeira foram inicialmente formados na nebulosa solar e constantemente agrupados por colisão para formar um corpo maior e com uma maior atração gravitacional. Assim, essas pedras se concentram tão fortemente que sua força gravitacional conjunta pode, eventualmente, levar a um colapso. No entanto, o cometa 67P era pequeno demais para que isso acontecesse, permitindo que os cientistas confirmassem a teoria pela primeira vez.

Esse processo atua como "intermediário" entre duas operações que a NASA já conhece bem: a formação de pequenos seixos, que representa os "blocos de construção planetários", e a acumulação gravitacional de planetesimais para formar planetas gigantes.

Ainda bem que passou longe. Esse é o 67P em comparação com a cidade de Toronto
Ainda bem que passou longe. Esse é o 67P em comparação com a cidade de Toronto

Decidindo sobre água marciana e areia

Nem tudo nessa lista pode ser considerado como coisas boas e motivadoreas. Olhe esse exemplo:

Voltemos a 2015 quando o anúncio de água líquida encontrada em Marte tornou-se uma das maiores manchetes do ano. Muita felicidade, esperança e tal, porém, com o avanço das pesquisas, novas conclusões apontam que o anúncio de 2 anos atrás pudesse estar errado. Segundo as conclusões mais recentes os fluxos provavelmente eram feitos de areia e não de água.

Desde a primeira observação, esses fluxos, denominados linhas de declive recorrente (RSL, no original), foram encontradas em mais de 50 áreas diferentes em Marte. Eles aparecem como marcas escuras sazonais que se estendem gradualmente em temporadas quentes e desaparecem durante o inverno, retornando no ano seguinte para reiniciar o ciclo.

O erro inicial da afirmação decorre do fato de que, segundo as análises feitas em terra, apenas a infiltração de água já é necessária para fazer isso, e, pela lógica, o mesmo pensamento foi aplicado a Marte.

No entanto, um novo relatório do Astrogeology Science Center, nos Estados Unidos, sugere que o comportamento das marcas se assemelha mais ao dos fluxos granulares. Explicando mais detalhadamente, os cientistas apontam que as linhas marcianas somente são encontradas em declives mais altos do que 27 graus, onde o ângulo de repouso corresponde ao das dunas de areia da Terra. Assim, se eles consistissem em água corrente, eles deveriam se estender para trilhas mais rasas (assim como acontece aqui) e não ficar restritas a um só local.

E o assunto está longe de ser resolvido já que diversas questões pairam no ar, como o fato da areia fluida também não conseguir explicar completamente certos traços de RSL, como a aparência sazonal, o crescimento gradual, a presença de sais hidratados e a seu sumiço rápido quando inativo. Alguns especialistas acreditam que o RSL pode ser de um mecanismo exclusivo para Marte, o que exigiria investigação no local para que possa ser entendido completamente.

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Observação de duas estrelas de nêutron colidindo e detecção das ondas gravitacionais

Este daqui é tão importante que poderia ser dividido em 2 tópicos (a observação das estrelas se chocando e a detecção das ondas, conforme previra Einstein, há 100 anos atrás, porém eu juntei num só pra economizar espaço e poder colocar mais um tópico sem extrapolar os 10 previstos inicialmente porque eu sou da malandragem).

Pois bem, começando pelas estrelas: Primeiramente temos que saber o que são as estrelas de Nêutrons. Elas são os núcleos colapsados ​​resultantes de uma supernova. Elas são as menores e mais densas estrelas que se conhece. Com um raio de cerca de 10 km (menos que o seu bairro, talvez) elas tem uma massa de 2x o sol (que por sua vez tem 333 mil vezes a massa da Terra).

Além das próprias estrelas de nêutron já serem uma visão rara e misteriosas para nós, ver elas se chocando aovivasso foi a primeira vez

A colisão das estrelas foi acompanhada pelos telescópios dos institutos LIGO e VIRGO que miraram suas lentes ao evento durante a fusão e observaram, pela primeira vez, tanto as ondas leves de um mesmo evento cósmico como as gravitacionais. Ao flagrarem o evento, dezenas de outros telescópios foram direcionados à colisão e os dados resultantes ajudaram os cientistas a elucidar diversos enigmas sobre o cosmos.

Abaixo uma representação de como ocorre o evento:

Por exemplo: conseguimos confirmar que uma fusão entre duas estrelas de nêutrons (evento chamado de kilonova) produz uma pequena emissão de raios-gama (GRB, no original). Além disso, o Telescópio Espacial Fermi mostrou que, como previsto, as ondas gravitacionais viajam à velocidade da luz ou incrivelmente próximas. Já o telescópio Spitzer da NASA capturou a luz infravermelha de maior comprimento de onda resultante do evento, que mostrou o processo de forja de metais pesados como o ouro, comprovando que as kilonovas são a principal fonte para a criação de elementos pesados ​​que não se formam com as tradicionais supernovas.

Claro que quando vimos um evento dessa magnitude pela primeira vez é mais comum que "muitas perguntas surjam" ao invés de que "muitas perguntas sejam respondidas". Os astrônomos descreveram o estouro de raios gama, por exemplo, como "estranho", já que, embora o evento tenha alcançado o brilho de uma explosão típica, tudo aconteceu a menos de um décimo da distância de qualquer outro GRB já registrado. Isso significa que ele foi incrivelmente fraco, e não temos certeza do porquê.

Esperamos que mais revelações, dúvidas e especulações estão por vir, assim que os cientistas forem desvendando e interpretando os dados fornecidos por este evento único.

Já a segunda parte desse evento é ainda mais interessante, pois trata-se da confirmação da última previsão em aberto de Albert Einstein. Segundo ele, quando escrevia sobre a Teoria Geral da Relatividade, lá em 1916, colisões colossais no espaço ou explosões estelares deveriam emitir tanta energia que as ondulações iriam passar a vagar pelo universo na velocidade da luz (ou quase).

E foram justamente estas ondas que foram captadas.

Além de serem legais só por confirmar uma teoria de mais de 100 anos, elas são extremamente importantes por diversos motivos. Por exemplo: as ondas gravitacionais são a geram uma nova visão sobre a história do universo. Seria algo como se, até sua descoberta, os cientistas só pudessem ver coisas com os telescópios. Agora, com as ondas eles podem, além de enxergar, ouvir coisas, ganhando um novo sentido e tornando as medições mais apuradas, certeiras e, também, dando a capacidade de perceber coisas que até então passavam despercebidas.

As ondas gravitacionais detectadas foram emitidas durante os momentos finais da fusão que vimos acima, onde uma das estrelas possuía uma massa inicial de 31 sóis e a outra cerca de 25. O evento gerou um buraco negro de cerca de 53 massas solares. Agora é só colocar na calculadora e ver que 3 massas solares desapareceram, ou melhor, foram reconfiguradas. Essas 3 massas solares viraram energia proveniente da colisão e passaram a vagar pelo universo em forma de onda até nos alcançarem.

Segundo Stephen Hawking, essa descoberta dá aos cientistas uma nova forma olhar para o universo. "Podemos esperar ver buracos negros ao longo da história do universo. Poderíamos inclusive ver os vestígios do universo primordial, durante o Big Bang, graças às ondas gravitacionais", disse Hawking.

Além disso, estima-se que algo entre 80% e 90% do universo seja formado por matéria escura. Hoje ela é um dos grandes mistérios da ciência, porém, com as ondulações gravitacionais, cientistas poderão estudá-la com mais detalhes

Ondas sendo geradas em meio ao processo de aproximação das estrelas
Ondas sendo geradas em meio ao processo de aproximação das estrelas

São determinadas as chances de vida em Encélado

Um estudo publicado na revista Science indica que o mesmo tipo de reações químicas que são responsáveis ​​por sustentar a vida na Terra perto de aberturas hidrotermais no fundo do oceano também podem estar acontecendo no oceano subterrâneo de Encélado, lua de Saturno, neste exato momento.

Esta conclusão vem como resultado de um sobrevoo feito pela sonda Cassini em 2015, quando ela passou por uma placa de gelo e pôde detectar hidrogênio molecular usando seu espectrômetro de massa.

A equipe por trás do estudo acha que esse hidrogênio provavelmente esteja sendo produzido continuamente por reações entre água quente e rocha dentro e ao redor do núcleo da lua. A ideia é respaldada por um estudo, também de 2015, que descobriu que os grãos de sílica detectados pela Cassini em Encélado provavelmente foram produzidos em água quente em profundidades significativas.

Na Terra, os micróbios que vivem nas aberturas hidrotermais de profundidade se dedicam a um processo metabólico primitivo chamado metanogênese e, segundo as análises da sonda, o oceano de Encélado possui os mesmos recursos que são necessários para essa ação. No entanto, os pesquisadores enfatizam que essas novas descobertas não sugerem uma detecção da vida, mas sim um aumento na habitabilidade.

A lua de Saturno tornou-se um dos principais alvos para a vida extraterrestre desde que descobrimos, em 2005, que lá existia água em estado líquido sob a superfície. Hoje governos e empresas privadas consideram missões na década de 2020 para enviar sondas equipadas com equipamentos de detecção de vida para analisar as erupções de gêiseres do satélite.

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Bônus

E agora, nos últimos dias do ano uma boa notícia para quem acha que os EUA estão escondendo os sinais de vida extraterrestre e contatos.

Tudo porque o Departamento de Defesa do próprio governo americano admitiu ter alimentado durante 5 anos (2007 a 2012) um programa secreto de identificação de Ovnis.

O anúncio oficial foi necessário após o The New York Times ter revelado a iniciativa ao publicar este vídeo (clique para ver a versão legendada). 

E ae, qual você tiraria e qual você colocaria na lista de 10 acontecimentos mais marcantes de 2017 na astronomia? Deixe um comentário.