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Qual a profissão mais legal do mundo? A resposta é uma só: Astronauta. Nada pode ser mais legal do que entrar num foguete e sair a milhão desse planeta.

Além de trabalhar na Nasa e dirigir uma espaçonave, uma das coisas mais incríveis deve ser as visões que os astronautas tem do planeta e do universo. Quem segue eles no Twitter sabe do que estou falando. Essa abaixo, por exemplo é São Paulo:

E essa é Brasília e arredores:

Mas nem tudo é festa no espaço.

Ficar privado da gravidade pode trazer consequências para o corpo dos astronautas, mesmo que eles não fiquem mais do que alguns poucos dias por lá. Já é bem conhecida a chamada "Reação Física Inicial de Síndrome de Adaptação ao Espaço". Um nome complicado para descrever os comuns enjoos pelos quais passam os astronautas que retornam e que dura, em média, alguns poucos dias.

Porém, caso o explorador tenha uma permanência mais longa do que o habitual - cerca de 20 dias, em média -, danos maiores, e as vezes, irreversíveis, podem ser causados.

Hoje o recorde de permanência ininterrupta no espaço é do astronauta russo Valery Polyakov, que ficou mais de 437 dias fora do planeta, de 9 de janeiro de 1994 a 22 de março de 1995. Já os segundos colocados, o russo Mikhail Korniyenko e o americano Scott Kelly, ficaram 340 dias na Estação Espacial Internacional entre 2015 ~ 2016.

A missão de Kelly, aliás, era permanecer todo esse tempo no espaço enquanto conduzia mais de 400 experimentos com seu organismo. Após a volta os resultados começaram a ser comparados com seu irmão gêmeo que ficou na Terra.

Além desta "fonte" de estudo, outro importante case usado para identificar a influência do espaço nos humanos é o organismo do russo Gennady Padalka que já participou de diversas missões e acumula, até hoje, mais de 879 dias no espaço. Ainda na ativa ele disse que espera passar a marca dos mil dias em órbita até o final da carreira.

Como as permanências mais longas são recentes e pouco numerosas, ainda não se conhece todos os efeitos colaterais possíveis que podem ocorrer ao ficarmos expostos por longos períodos em um ambiente totalmente estranho ao corpo humano. Mas, as previsões são bem pessimistas: Especula-se desde danos ao sistema nervoso até câncer e mutações genéticas.

Então, se você é um futuro astronauta, confira o pior que pode te acontecer ao retornar de uma missão.

Ossos

Parece óbvio tamanha a banalidade, mas a gravidade está aí para nos puxar para baixo, certo? E nosso corpo, é claro, é adaptado a responder a esses estímulos. Já são milhares de anos em que temos nossa coluna empurrada para baixo dia após dia. Mas sem problemas, ela foi totalmente moldada e adaptada a isso.

O problema é quando vamos a um local onde a gravidade não impera e então os ossos não são comprimidos entre si como deveriam. Isso sim é estranho. O resultado imediato é que as vértebras da coluna irão aumentar de tamanho. Sim, em até algumas polegadas dependendo do tempo que o astronauta ficar no ambiente estranho.

Isso acontece por causa dos fluídos que temos nos discos espinhais. Em um dia normal aqui na Terra eles são "espremidos" para fora, mas até aí tudo bem. É o certo. O problema é quando eles ficam se acumulando e acabam tornando a coluna mais alongada do que quando em Terra. Após o retorno ao planeta e à gravidade, tudo terá de se encaixar novamente.

As dores são intensas, segundo os astronautas. Mas pelo menos algumas consequências curiosas podem ser notadas com o "espichamento" da coluna, como o aumento da altura.

Mark e Scott Kelly. O gêmeo da direita passou quase 1 ano em um ambiente sem gravidade.

Além do problema com a coluna, o espaço pode atingir de um modo geral todos os nossos ossos. Estima-se que mais de 10% de densidade óssea possa ser perdida a cada mês vivido em um ambiente sem gravidade (número bastante diminuído com a rotina de exercícios diários).

Mas como nada pode desaparecer do dia para a noite, se o cálcio - que formam os ossos - não estão nos ossos, estarão se acumulando onde não devem, neste caso, em outros órgãos dos astronautas. Isso eleva vertiginosamente o risco do desenvolvimento de pedra nos rins.

Partes ósseas específicas do corpo sofrem com problemas mais específicos, também. Os ossos das pernas, por exemplo, livres da pressão diária de nos manter fixos em pé passam a perder sua densidade e diminuir de tamanho rapidamente - deixando-os bem mais suscetíveis a quebraduras. Os problemas a longo prazo podem incluir a osteoporose.

Exames como os da pressão ocular são feitos constantemente durante as missões
Estima-se que até 50% da densidade perdida possa ser recuperada em 9 meses após o retorno à Terra.

E se por um lado os ossos das pernas (mais utilizados na Terra) são os que mais sofrem no espaço, os ossos dos braços sofrerão um aumento da densidade, já que eles serão mais exigidos pelos astronautas durante suas "caminhadas" dentro da Estação Espacial. Por caminhada leia-se "empurrar-se e puxar-se de uma lado para o outro".

Músculos

Enquanto estamos na Terra os músculos são os grandes responsáveis por aguentarmos a gravidade, contraindo-se continuamente e fazendo o esforço necessário para que não desabemos. Quando entramos, portanto, em um ambiente sem gravidade e lá permanecemos por um longo período eles começam a definhar por inatividade.

Este é o mesmo processo pelo qual passarão os músculos das pernas de pessoas que sofrem um acidente e perdem os movimentos da cintura para baixo, por exemplo. Astronautas com poucos dias de permanência no espaço já estão "aptos" a sofrer com esse problema, sendo aqueles com permanência acima de 6 meses as maiores vítimas, de acordo com estudos preliminares.

Além dos músculos das pernas (pois os astronauta não precisam caminhar) os outros músculos que mais sofrerão serão os do torso (pois no espaço eles não precisarão fazer "esforço" para ficar em pé).

Para evitar danos ainda maiores são necessários exercícios diários que trabalhem a parte muscular dos astronautas. Veja que eu disse "evitar danos maiores", pois nem mesmo com as 2 horas e 30 minutos recomendadas pela NASA o astronauta irá livrar-se das complicações, sendo necessário um programa de reabilitação após sua volta.

Coração

Ossos mais frágeis e músculos molengas são complicado, mas nenhum chega perto daquilo que acontece ao coração. Hoje, vivendo na Terra, temos um coração adaptado às dificuldades do dia a dia, isso é, bombear sangue de cima a baixo do seu corpo sem se importar com a gravidade (e não a sofrência, caso você estivesse imaginando).

Quando o astronauta vai então ao espaço, sem a gravidade para dificultar, o trabalho do coração fica muito mais fácil e, após um tempo, o órgão acabará se adaptando ao trabalho de irrigar o seu corpo sem muito esforço e impedimentos.

Assim, mesmo que sofra uma leve dilatação, o coração perderá peso e massa muscular devido a menor exigência. Ele irá diminuir cerca de 25% em 1 semana de vida espacial (o mesmo índice atingido por alguém que adoeça e tenha de passar 6 semanas de cama e sem esforços aqui na Terra). 

Você pode achar que ele está ali de boa e tranquilo tendo que realizar menos força, mas o risco de uma arritmia cardíaca aumenta consideravelmente neste cenário.

E depois do explorador retornar ao seu planeta irá levar algum tempo ainda para tudo voltar novamente à normalidade. A readaptção ao esforço extra causado pela gravidade não irá ser imediata e esta sofrência irá gerar alguns probleminhas relacionados à oxigenação do cérebro, levando a tonturas e, principalmente, alguns desmaios.

Sangue

Os problemas com o sangue (no plural, pois são vários) são os mais variados possíveis.

Um deles é que com a falta de gravidade diária cerca de 2 litros de fluídos corporais (inclusive urina) que antes ficavam confinados nos membros inferiores agora poderão se locomover livremente pelo corpo. Com isso teremos uma concentração de líquidos na cabeça muito maior do que aquela que a evolução adaptou o corpo humano a suportar.

Por conta de tal acúmulo de líquido na cabeça, além de sofrer com a pressão intercraniana, os astronautas irão parecer - pelo menos nos primeiros dias em órbita - como alguém que saiu há pouco de uma cirurgia plástica no rosto. A pele estará esticada e o rosto bastante inchado. A doença é mundialmente conhecida como "Cara de Bolacha".

Além disso, com mais sangue no cérebro, o próprio órgão ficará sem saber como agir direito. Bastante desnorteado uma das primeiras medidas será a diminuição na produção de glóbulos vermelhos, que, como causa imediata, poderá levar à anemia. Por estas e outras que os astronautas comem refeições carregadas de vitaminas.

Miopia

Este é um problema que, de tão normal, já possui até uma tipologia específica: "Miopia Espacial". Constitui-se de diversas deficiências que podem acometer a visão dos astronautas, mesmo aqueles sem qualquer histórico, problema ou indício de futuras complicações oculares.

O problema é o mesmo já visto acima: Acúmulo de líquidos no cérebro que acabam pressionando o nervo ótico e deformando o globo ocular dos cosmonautas. Ainda não se sabe qual o tempo necessário para a recuperação.

Exames como os da pressão ocular são feitos constantemente durante as missões

Problemas psicológicos

De nem tão fácil identificação como os demais, os problemas psicológicos que os astronautas podem sofrer são aqueles mais temíveis. Entre eles estão desde uma simples insônia até diversas e perigosas "sensações", como o pavor de estar cara a cara com o desconhecido, estar preso no espaço, depressão, problemas na equipe, etc.

Mesmo que os astronautas sejam pessoas treinadas à exaustão, tanto física quanto mentalmente, para aquilo que enfrentarão, o aspecto psicológico é muito mais perigoso e provável de levar uma missão ao fracasso do que uma falha mecânica, por exemplo.

Por isso eles costumam receber medicamentos e são acompanhados de perto por especialistas. 

Imagem da da anisotropia da radiação cósmica de fundo em micro-ondas do universo observável

Mutação genética

Como se sabe, o espaço está em constante fluxo de radiação, seja ela solar, radiação de fundo ou ainda alguma outra que nem mesmo conseguimos identificar. Estando aqui na Terra estamos - em tese - seguros, já que a Camada de Ozônio age como um enorme escudo, impedindo que a grande maioria nem mesmo atinja o solo. Assim, com alguns cuidados básicos podemos chegar a idade avançada sem maiores problemas.

Só que os astronautas não têm essa sorte. Acontece que a Estação Espacial Internacional - embora possua proteção artificial aos raios cósmicos - não consegue, nem de perto, ter um desempenho igual ao da Camada de Ozônio (que bloqueia 98% dos raios). Os danos a longo prazo podem incluir o câncer.

Este assunto interessa muito as agências espaciais, pois para alcançarmos Marte teremos de passar por cerca de 3 anos de exposição ininterrupta à radiação espacial. Acredita-se que uma exposição tão longa aos diferentes raios cósmicos poderá quebrar algumas cadeias do DNA humano, rearranjar outras e fazer com que ele se comporte de maneira diferente, em outras palavras: causará mutações genéticas.

Neste momento um estudo mais aprofundado está sendo realizado comparando uma amostra do DNA de Scott Kelly com a de seu irmão gêmeo, Mark. Quando ficar pronto poderemos saber se o espaço é capaz de mexer com nosso código genético e, se sim, qual foi grau. Ou melhor, se o intervalo de 1 ano é capaz...

Imagem da da anisotropia da radiação cósmica de fundo em micro-ondas do universo observável

Velhice

Quem passa muito tempo no espaço envelhece mais rápido do que quem fica quietinho de boas no planeta em que nasceu.

Mas calma que isso não tem nada a ver com os cálculos de relatividade de Einstein ou qualquer outra distorção no tempo. Segundo estudos com o russo recordista de tempo fora do planeta, cada vez que ele sai em missão seu corpo está em um determinado estado. Quando retorna ele está debilitado com todos problemas que vimos acima.

Hoje, todos os tratamentos que dispomos "consertam" o corpo do astronauta somente até certo ponto. Na prática, mesmo depois de passar por todos os cuidados pós-reentrada, o estágio biológico do cosmonauta russo, por exemplo, poderá ser comparado a pessoas de mais idade do que ele, principalmente pelas questões ósseas (osteoporoese é um dos maiores problemas da 3ª idade) e o enfraquecimento do coração. 

Só isso?

Claro que não, estes foram somente os efeitos mais "chamativos". Outras coisinhas pequenas incluem perda significativa do paladar e olfato; redução na capacidade de oxidação da gordura; deficiência no sistema imunitário e sensação de fome constante.

A quem interessar, a revista Time acompanhou o antes, durante e depois da jornada de Scott Kelly. O resultado foi uma minissérie documentário que pode ser vista gratuitamente neste link.