Em 17 de junho de 1967, apenas dois anos e meio após seu primeiro teste nuclear, a China surpreendeu o mundo novamente ao realizar com sucesso sua primeira explosão de bomba de hidrogênio. O teste, realizado no deserto de Lop Nur, marcou a entrada definitiva da China no seleto grupo de potências nucleares capazes de construir armas termonucleares muito mais poderosas do que as bombas atômicas convencionais.

O que tornou esse feito ainda mais impressionante foi a rapidez. Enquanto os Estados Unidos levaram cerca de sete anos entre sua primeira bomba atômica e o primeiro teste de bomba H, e a União Soviética demorou quase quatro, a China conseguiu o mesmo avanço em apenas 32 meses. Um sinal claro de que o país não apenas dominava a tecnologia nuclear, mas também estava disposto a desafiar o equilíbrio de poder mundial.

O que é uma bomba de hidrogênio e por que ela é tão poderosa?

A bomba de hidrogênio, também chamada de bomba H ou termonuclear, é uma arma de destruição em massa baseada em reações de fusão nuclear, o mesmo processo que alimenta o Sol. Ao contrário da bomba atômica tradicional, que usa fissão para liberar energia (como as de Hiroshima e Nagasaki), a bomba H combina átomos de hidrogênio sob altíssimas temperaturas e pressões, liberando uma quantidade de energia muito maior.

Desenho de uma bomba de hidrogênio. Imagem: The Bulletin/Reprodução
Desenho de uma bomba de hidrogênio. Imagem: The Bulletin/Reprodução

Em termos simples, enquanto uma bomba atômica mede sua força em quilotons, uma bomba de hidrogênio pode chegar a megatons. Isso significa que seu poder destrutivo é centenas de vezes maior, com capacidade para devastar cidades inteiras e alterar o equilíbrio militar entre nações.

O teste de 1967: uma explosão que sacudiu o mundo

Na manhã de 17 de junho de 1967, o céu do deserto de Lop Nur foi iluminado por uma enorme bola de fogo. A explosão termonuclear da China foi lançada por um avião bombardeiro e teve potência estimada em 3,3 megatons, um número impressionante para um país que só havia feito seu primeiro teste atômico em 1964.

O sucesso do teste provou que os cientistas chineses tinham desenvolvido, de forma independente, a capacidade de projetar e montar uma bomba de hidrogênio funcional. Isso desafiava a lógica da Guerra Fria, onde os EUA e a URSS acreditavam controlar com exclusividade o conhecimento nuclear mais avançado.

Além disso, o teste foi totalmente atmosférico, ou seja, realizado ao ar livre, o que amplificou seus efeitos visuais e sísmicos. Embora isso tenha gerado críticas por parte da comunidade internacional devido à contaminação radioativa, a China deixou claro que não dependia mais de ajuda externa em assuntos militares estratégicos.

Por que a China fez esse teste tão rápido?

A resposta passa por política, rivalidade e ambição. No fim dos anos 1950, a China tinha laços estreitos com a União Soviética, que inicialmente ajudou os chineses em seus primeiros passos no campo nuclear. Mas com o rompimento entre Mao Tsé-Tung e Nikita Khrushchov, essa ajuda foi interrompida em 1959.

Deng Jiaxian (à esquerda) conhecido como o pai da bomba atômica da China e Yu Min (à direita) conhecido como o pai da bomba de hidrogênio da China. (Crédito: Xie Jianyan/Reprodução)
Deng Jiaxian (à esquerda) conhecido como "o pai da bomba atômica da China" e Yu Min (à direita) conhecido como "o pai da bomba de hidrogênio da China". (Crédito: Xie Jianyan/Reprodução)

Sem apoio soviético, a China investiu pesado em desenvolver sua própria tecnologia. A ideia era movida por um sentimento de independência e pela necessidade de se proteger em um mundo dominado por superpotências nucleares. O teste de 1967 foi a forma mais clara de dizer: "Estamos prontos e ninguém vai nos impedir."

Além disso, o contexto era tenso. A Guerra do Vietnã estava no auge, os EUA estavam instalando armas no Pacífico, e o isolamento político da China fazia com que o país buscasse reconhecimento como potência global. Mostrar força era, portanto, uma estratégia diplomática e militar.

O legado do teste de 1967

O primeiro teste da bomba H da China foi mais do que um avanço científico. Foi um marco geopolítico. A partir daquele momento, o país entrou oficialmente no clube das nações com capacidade de represália nuclear em larga escala, ao lado dos EUA, da URSS e do Reino Unido.

Hoje, olhando para trás, o teste de 1967 é lembrado como um dos momentos-chave da história militar do século XX. Não apenas pelo poder da explosão em si, mas pelo que ela representou: o surgimento de uma nova superpotência, decidida a escrever suas próprias regras no jogo global.

Com informações de The Bulletin