Em 8 de junho de 1982, o Brasil foi palco de um dos acidentes aéreos mais trágicos de sua história: o voo VASP 168. A queda do Boeing 727 deixou 137 mortos e revelou falhas cruciais na aviação da época. Este foi o o maior acidente aéreo que já havia acontecido no Brasil, até 2006. Hoje, 43 anos depois, a tragédia continua sendo lembrada como um marco de aprendizado e dor.
O que foi o acidente com o voo VASP 168?
Na madrugada do dia 8 de junho de 1982, um Boeing 727-200 da companhia aérea VASP (Viação Aérea São Paulo), operando o voo 168, caiu em uma região montanhosa próxima à cidade de Pacatuba, a cerca de 25 km de Fortaleza (CE). A aeronave transportava 137 pessoas (128 passageiros e 9 tripulantes) e todos morreram no impacto.

O avião partiu do Aeroporto Internacional de Congonhas, em São Paulo, com destino a Fortaleza, fazendo escalas em Brasília e no Rio de Janeiro. A última etapa, entre o Rio e Fortaleza, foi a mais trágica.
O que causou o acidente?
De acordo com o relatório final da investigação, o principal fator que levou à queda foi erro do piloto. Durante a aproximação noturna para pouso em Fortaleza, o comandante desconsiderou os avisos do sistema de alerta de proximidade do solo (GPWS) e os apelos do copiloto para verificar a altitude.
A aeronave estava descendo abaixo do perfil adequado de aproximação, mesmo com visibilidade prejudicada. O Boeing colidiu com a serra da Aratanha, em Pacatuba, a aproximadamente 760 metros de altitude. O impacto foi devastador e imediato.
Por que o piloto ignorou os alertas?
Essa é uma das perguntas que ainda ecoam 43 anos depois. Testemunhos e análises sugerem que o comandante, um piloto experiente com mais de 15 mil horas de voo, acreditava estar em uma posição segura para continuar a descida. No entanto, ele ignorou alertas visuais e sonoros do sistema GPWS, além das sugestões do copiloto, o que revela uma possível falha de comunicação na cabine e talvez um excesso de confiança.

Hoje, esse tipo de comportamento é estudado como "viés de autoridade na aviação", quando membros da tripulação hesitam em questionar decisões do comandante, mesmo diante de erros evidentes.
O impacto da tragédia
O acidente do voo VASP 168 teve repercussão imediata no Brasil e no exterior. Na época, foi considerado o pior desastre aéreo da história do país, um título que só seria superado em 2006 com o acidente do voo Gol 1907.
A tragédia levou a mudanças nos treinamentos de pilotos, com ênfase na comunicação entre tripulantes e no cumprimento rigoroso dos procedimentos de aproximação por instrumentos, especialmente em condições de baixa visibilidade. Também houve melhorias nos sistemas de alerta e nos protocolos para análise de falhas humanas.
Quem eram as vítimas?
Entre os passageiros estavam brasileiros e estrangeiros, incluindo empresários, famílias inteiras e estudantes. Um dos casos mais lembrados foi o de uma jovem que viajava com a mãe para visitar parentes no Ceará, mas ambas faleceram na tragédia. O empresário Edson Queiroz, conhecido no Ceará e em outros estados brasileiros, também estava entre as vítimas do acidente.

Os corpos foram resgatados com dificuldade devido à localização montanhosa e de difícil acesso. A comoção tomou conta do país, com homenagens em Fortaleza, São Paulo e Brasília.
Em Pacatuba, uma cruz foi erguida no alto da serra da Aratanha como memorial às vítimas do voo VASP 168. Todos os anos, familiares e moradores da região prestam homenagens no local, relembrando não apenas a tragédia, mas também o quanto ela impactou a segurança aérea brasileira.
A história do acidente é usada em cursos de aviação e treinamentos de CRM (Gerenciamento de Recursos da Tripulação), como exemplo da importância da comunicação clara, do respeito aos protocolos e da responsabilidade coletiva dentro da cabine.
O que aprendemos com a tragédia do voo VASP 168?
A queda do voo VASP 168 em 1982 foi um dos marcos mais dolorosos da aviação brasileira, mas também se tornou uma referência para mudanças importantes nos padrões de segurança aérea, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Desde então, diversos protocolos foram aperfeiçoados com base nas falhas identificadas naquele voo. Veja o que mudou na prática:
1. GPWS evoluiu
Na época, o VASP 168 contava com o sistema de alerta de proximidade do solo (GPWS), mas o aviso foi ignorado pelo piloto. Após essa e outras tragédias similares, as regras internacionais passaram a exigir sistemas mais avançados, como o EGPWS (Enhanced Ground Proximity Warning System), que utiliza mapas digitais do relevo e GPS para prever colisões com o terreno mesmo em áreas montanhosas ou com clima ruim.

Hoje, esses alertas são não apenas sonoros, mas visuais e integrados ao sistema de navegação, ajudando a evitar erros de julgamento por parte da tripulação.
2. Treinamento reforçado contra viés de autoridade
Um dos fatores determinantes na tragédia foi o chamado viés de autoridade: o copiloto percebeu que havia algo errado, mas hesitou em corrigir o comandante. Isso levou ao reforço de programas de CRM (Crew Resource Management) no mundo todo.
Hoje, pilotos são treinados para manter comunicação ativa e horizontal, independentemente da hierarquia na cabine. O foco passou a ser a segurança coletiva, não a obediência cega.
3. Padronização de procedimentos em descidas noturnas
Outro legado importante do caso foi a criação de procedimentos mais rígidos para aproximações noturnas, especialmente em aeroportos cercados por terreno acidentado, como Confins e Santos Dumont.
Hoje, descidas por instrumentos (ILS e RNAV) são priorizadas nessas situações, e zonas críticas de relevo são marcadas com alertas automáticos nos sistemas de voo.
4. Monitoramento de fadiga e comportamento da tripulação
A tragédia também acendeu um alerta sobre fadiga e pressão psicológica de pilotos. Na épooca, muito se falou que o piloto cometeu um suícidio, pois estava enfrentando muitos problemas financeiros, bem como um divórcio, mas isso nunca foi provado.
Mesmo assim, hoje em dia as companhias aéreas monitoram jornadas de voo, horas de descanso e padrões de comportamento dos seus tripulantes, utilizando inclusive dados de telemetria e inteligência artificial para identificar sinais de risco.
Mais do que uma tragédia, o voo VASP 168 virou lição. Ele ajudou a transformar a forma como se voa, tornando os céus mais seguros para todos.
Com informações de Aviões e Músicas