Por trás do Telegram, o aplicativo de troca de mensagens considerado mais seguro do que o WhatsApp, encontramos Pavel Durov, o fundador do VKontakte, o "Facebook russo". Conhecido como "o amigo dos hackers", ele lançou em 2013 um aplicativo ultra-seguro, com o objetivo de escapar de qualquer invasão de privacidade do governo de Vladimir Putin, antes de fugir para os Estados Unidos no ano seguinte. 

O Telegram trabalha com o mesmo princípio do WhatsApp ou Viber, permitindo que os usuários se comuniquem pela internet sem custo, onde quer que estejam no mundo, e troquem textos, vídeos e fotos rapidamente. 

A chave para o sucesso do Telegram é seu sistema de criptografia, altamente sofisticado e  uma preocupação real para os serviços antiterroristas que não podem quebrá-lo para monitorar suspeitos, e também para países como Irã, Indonésia e Rússia (país de origem do fundador) onde vários pedidos de bloqueio foram feitos, sem sucesso. Segundo o governo, "O direito à privacidade é mais importante do que o nosso medo de sofrer coisas ruins, como o terrorismo".

100 milhões de usuários

O Telegram conta com mais de 100 milhões de usuários ativos por mês, e 12 bilhões de mensagens trocadas por dia. Um potencial que não escapou do Daesh. 

Depois de tentar reunir os usuários do WhatsApp ou Viber para a sua causa, enviando mensagens aleatoriamente, o Estado Islâmico tinha se apoderado da rede russa para sua propaganda. Em particular, a organização terrorista beneficiou-se do recurso de "cadeia", que permite atender a um número ilimitado de usuários. 

A Amaq, agência de imprensa da organização terrorista, possui até mesmo um canal no qual transmite sua propaganda e mantém contato com seus combatentes. 

Como o Telegram funciona?

Seu uso é simples: Você pode trocar mensagens convencionalmente com uma ou mais pessoas, ou em qualquer critério, através de "conversas secretas" (as chamadas conversas "flash") onde as mensagens são auto-destrutíveis após a leitura. O envio é feito por mensagem, foto ou vídeo. Uma maneira de evitar o custo de SMS e garantir que as trocas sejam ultra-seguras, seja em smartphones, tablets ou computadores. 

Assim como no WhatsApp, o usuário pode adicionar seus contatos digitando seus números de telefone e criar grupos de até 5.000 pessoas. Assim como no YouTube, você pode criar seu próprio canal, no qual outros usuários podem intervir.

Conversas entre Sérgio Moro e Dallagnol

Conversas atribuídas à Sérgio Moro, atualmente Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, e antes Juiz que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgadas pelo site The Intercept, põe em xeque a parcialidade de Moro enquanto juiz. As supostas mensagens trocadas através do Telegram mostram Sério Moro e Deltan Dallagnol, procurador da Operação Lava Jato, que representava a acusação contra Lula.

O site Intercept alega ter recebido as mensagens de uma fonte anônima, mas que teve a autenticidade checada. Moro registrou em 4 de junho a denúncia de que havia sido vítima de um hacker, e Deltan Dallagnol denunciou no mesmo mês que teve seu smartphone hackeado. Ambos questionam a autenticidade das mensagens divulgadas, alegando que elas podem ter sido adulteradas.

Sérgio Moro e Dallagnol
Sérgio Moro e Dallagnol

Dentre as mensagens divulgadas, o então juiz Sérgio Moro teria orientado ações de Dallagnol, o que é proibido pela Constituição, e teria cobrado novas operações dos procuradores. Moro também teria reclamado do tempo entre uma operação e outra.

Em outro trecho da conversa, Moro teria passado para Dallagnol pistas de uma transferência de propriedade para um dos filhos de Lula. Na última sexta-feira (14), o site divulgou novas mensagens, que mostram que no mesmo dia do primeiro depoimento do ex-presidente Lula, Moro teria sugerido ao Ministério Público a publicação de uma nota oficial contra a defesa do ex-presidente.

Moro e os procuradores negam ter visto impropriedades nas mensagens publicadas e dizem não reconhecer a autenticidade das mesmas. Ainda alegam ter sofrido "invasão criminosa" e que as mensagens podem ter sido adulteradas. 

O Telegram é seguro?

A divulgação das conversas entre Dallagnol e Moro abriu precedentes para o questionamento da criptografia do Telegram. Afinal, o aplicativo é realmente seguro?

Alguns especialistas em segurança cibernética criticaram o aplicativo, argumentando que apenas as mensagens de conversas secretas são criptografadas, ao contrário do WhatsApp, que criptografa todas as trocas de mensagens. 

"O Telegram está sujeito a erros", diz Thaddeus Grugq, especialista da 01net.com. "O aplicativo funciona com criptografia feita em casa e já vazou metadados volumosos, roubando listas de endereços". 

Se não houver nada para garantir que o Telegram não seja tão seguro quanto o fundador alega, fica claro que o protocolo não foi criado por especialistas. O fundador do Telegram teria preferido ignorar o comprovado protocolo do WhatsApp, para contratar matemáticos que não são especialistas no assunto.

Nenhum aplicativo é totalmente livre de falhas. Além disso, os dispositivos de ambas as partes da conversa mantém as mensagens armazenadas no aparelho. Porém, a criptografia garante proteção contra certas formas de golpes (mensagens falsificadas, roubo de identidade, etc.). 

Sobre o caso envolvendo as autoridades brasileiras, o Telegram afirma que não há nenhum indício de invasão em seus servidores, e que o mais provável é que tenham acontecido ataques diretamente aos smartphones de Moro e Dallagnol.

Quem é Pavel Durov

Pavel Durov nasceu na Rússia em 10 de outubro de 1984 o criou o aplicativo de mensagens criptografadas que ele construiu depois de fugir da Rússia, com a fortuna de 260 milhões de dólares que acumulou ao criar a rede social VKontakte.

Ele foi apelidado de "Mark Zuckerberg da Rússia" devido ao seu sucesso, mas foi forçado a sair da companhia que fez sua fortuna. Durov atualmente desfruta de um estilo de vida glamoroso em Dubai.

Pavel Durov
Pavel Durov

Durov só usa preto, e costumava viajar constantemente ao redor do mundo. Ele teve desentendimentos com gangues armadas, uma vez jogou aviõezinhos de dinheiro da janela do seu escritório.

Ele aprendeu a codificar na escola e usou isso para mudar as telas de boas-vindas da rede escolar para insultar um professor de quem ele não gostava. Ele era muito próximo de seu irmão mais velho, Nikolai Durov, que também sabia codificar.

Depois de deixar a universidade em 2006, os irmãos Durov criaram o VKontakte, que é uma espécie de Facebook da Rússia. A rede social tornou-se incrivelmente popular, e chegou a marca de 350 milhões de usuários.

Durov deixou a Rússia depois de ter recusado-se a cooperar com os serviços secretos russos, e fornecer dados criptografados dos usuários do Vkontakte. Durov ganhou muito dinheiro com esta rede social. Ele relatou ter um patrimônio líquido de cerca de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,6 bilhão) em Março de 2018.

Fonte: G1