Quem aí disse que o Google Glass não tinha nenhuma utilidade para as massas? Se você disse esse disparate, saiba que a polícia na China agora tem seus óculos equipados com dispositivos de reconhecimento facial que já estão sendo usados para escanear passageiros de trem e avião em busca de indivíduos que possam estar tentando evitar a lei através de documentos falsos, por exemplo. 

De acordo com o site chinês Peolple's Daily, até agora a polícia capturou sete pessoas ligadas a crimes de grande periculosidade e 26 que estavam usando documentos falsos para viajar. O Reino Unido fez sua primeira prisão auxiliada pelo reconhecimento facial ainda em 2017.

Segundo o Wall Street Journal informa que a LLVision Technology Co., com sede em Pequim, foi quem desenvolveu os dispositivos. Além desta versão chinesa do Google Glass - literalmente - a empresa também produz câmeras de vídeo "wearable". Enquanto que este último tem a comercialização livre, o dispositivo de reconhecimento facial somente são comercializados a compradores pré-aprovados (e, pelo menos por enquanto, não consumidores "civis" nem mesmo podem concorrer ao direito de comprá-los).

A LLVision diz que em testes realizados o seu sistema foi capaz de encontrar pessoas em um banco de dados com 10 mil pessoas cadastradas em um intervalo de 100 milissegundos. O CEO da empresa, Wu Fei, ressalta que no "mundo real" a precisão provavelmente cairá devido aos ruídos ambientais e outros fatores.

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A grande vantagem do gadget, além de ser portátil, e que o diferencia dos outros dispositivos e sistemas típicos de reconhecimento facial é que o seu banco de dados usado para comparar imagens está contido em um dispositivo local sempre à mão, ao invés de ficar na nuvem. Ou seja, aquelas cenas de filme onde o bandido desliga a energia do ambiente para passar pela segurança não vão ser possível aqui.

Mas claro que nem tudo são flores: há preocupações de privacidade com relação a esta tecnologia e nem todos acreditam que a polícia deveria usá-la. William Nee, da Anistia Internacional, disse ao jornal britânico que "o potencial de fornecer tecnologia de reconhecimento facial a policiais e tempo real em seus óculos poderia eventualmente tornar o estado de vigilância da China ainda mais omnipresente".

No mês passado, surgiram relatos de que a China estava usando o reconhecimento facial para analisar os residentes da região de Xinjiang, dominada pelos muçulmanos no país. A notícia caiu como um bomba e atraiu críticas de vários grupos de direitos humanos ao redor do mundo.

Além disso a China também está trabalhando na construção de um banco de dados de reconhecimento facial que contenha informações sobre todos os seus 1.3 bilhão de cidadãos.

A inauguração da tecnologia justamente nesta época do ano tem um propósito: é um dos períodos de viagem mais movimentados na China, já que este mês abriga o novo ano lunar. Espera-se que cerca de 389 milhões de viagens de trem aconteçam durante o Festival da Primavera deste ano, bem como 65 milhões de viagens de avião.

Embora a China seja o país que, abertamente, mais vigie seus residentes, diversos países, cidades e eventos começam a ser analisados com as novas tecnologias. As Olimpíadas de Tokyo, por exemplo, contarão com o reconhecimento facial. Já a Rússia está adicionando esse poder diretamente às câmeras de vigilância instaladas nas ruas, processo similar ao implementado no aeroporto de Dubai.