Desembarcou no Brasil na última sexta-feira, dia 1º de julho, uma nova opção em serviços de internet banda larga via satélite. A empresa norte-americana, Hughes, que já atuava no país desde 1968, com soluções em telecomunicações para grandes empresas e governos, está ampliando seu portfólio brasileiro com a HughesNet, serviço de internet banda larga para uso residencial e empresarial. Nos Estados Unidos, o serviço ocupa o primeiro lugar no ranking dos principais provedores de internet, por cumprir a performance divulgada aos consumidores.

Inicialmente, o serviço está disponível para os estados de São Paulo e Minas Gerais, mas a HughesNet estreia com planos audaciosos e em pouco tempo a companhia pretende estar presente nos quatro cantos do país. O objetivo é cobrir 80% do território nacional na primeira fase de implementação, chegando a mais de 4 mil municípios em seu primeiro ano de atuação. Até 2018, a companhia pretende ampliar o atendimento para 90% e até 2020, passar a atuar em 100% do território nacional.

Levar internet para lugares onde não exista o serviço ou para locais em que as pessoas são mal atendidas do ponto de vista de qualidade da internet, é o principal foco da companhia. Então, se você já está comemorando e pensando em uma alternativa para substituir seu atual provedor, levando em conta fatores como preço, velocidade e franquias, poderá se decepcionar. Não em relação a velocidade, já que a qualidade da HughesNet é um de seus pontos fortes, mas os preços e a questão de franquias podem decepcionar os consumidores mais ávidos por mudanças. Isto porque os planos da HughesNet não são dos mais leves, partindo de R$ 249,90, para 10Mbps. E sim, haverá limite de franquias. Contudo, diferente do modelo adotado pelas demais operadoras no Brasil, não haverá corte, mas sim redução da velocidade de conexão, que deverá ficar entre 1Mbps e 500Kbps.

Mas, se você mora em áreas onde não há soluções em internet, pode comemorar, pois a empresa pretende levar internet de qualidade, respeitando a velocidade contratada pelo consumidor para estes locais. Isto será possível, pois assim como nos Estados Unidos, o serviço irá operar na banda Ka, faixa na qual os satélites de alta capacidade trabalham com um custo mais baixo, além de receber os mesmos padrões globais de qualidade.

Para saber quais os planos e expectativas da Hughes no Brasil, conversamos com o presidente da companhia no país, Rafael Guimarães.  Na entrevista, que você confere na íntegra a seguir, Guimarães fala sobre os investimentos no país, argumenta sobre os valores cobrados pelo serviço e ainda explica porque hoje no Brasil, é inviável oferecer um serviço de internet banda larga sem a aplicação de franquias. Confira:


Rafael Guimarães, presidente da Hughes Brasil

Oficina: O Brasil, fora os Estados Unidos, será o primeiro país a receber o serviço de banda larga HughesNet. Por que a empresa escolheu o Brasil para expandir o seu serviço de internet via satélite?

Rafael: Por uma série de motivos. Primeiro, a Hughes está no Brasil operando desde 68.  Então, o primeiro ponto é que é um país com o qual a empresa tem grande familiaridade com outras linhas de negócio. Outra coisa é que é um país com uma população grande, com uma classe média grande e com uma demanda de banda larga fixa grande e, em algumas regiões, que são as regiões que nos interessam, ou a banda larga não existe, que são as regiões não atendidas, ou ela existe com alternativas um pouco piores do que aquelas que nós vamos oferecer. Então, é uma combinação de fatores: conhecimento do país, o tamanho do país, a economia e a gente vê claramente que existe demanda pelo nosso serviço aqui.

Oficina: E já fazia algum tempo que a empresa vinha planejando e se preparando para investir no Brasil?

Rafael: Sim, com relação a trazer para o Brasil este serviço específico, a gente começou a falar sobre isso em 2011, então foram cinco anos aí entre estudo de mercado, planejamento e de fato tomar as decisões que culminaram com o lançamento.

Oficina: E a empresa sentiu alguma dificuldade para se instalar aqui no Brasil, para trazer esta internet via satélite? O processo foi rápido ou levou mais tempo do que o planejado?

Rafael: Não. De fato, a grande vantagem nossa é que a empresa já operava aqui e o que foi feito foi trazer para esta operação existente um serviço novo. Então, neste aspecto, a gente não teve grandes dificuldades regulatórias ou de burocracias porque a gente já conhecia o ambiente, já tinha uma operação bem consolidada no Brasil.

Oficina: A Hughes optou por levar seu serviço de banda larga, como você disse antes, para locais não assistidos ou com soluções que não ofereçam uma experiência completa ao consumidor. Por que a escolha destas áreas e não os grandes centros urbanos?

Rafael: A comunicação por satélite, no nível que nós estamos hoje com tecnologia, a melhor aplicação que a gente dá para ela é justamente nestas áreas onde ou não há oferta de outra banda larga ou as ofertas que existem são precárias. Porque a gente não tem interesse, apesar de nós termos capacidades técnicas e o serviço está disponível, por exemplo, aqui em São Paulo ou no Rio, a gente não tem interesse em levar o serviço para estas áreas, porque já tem bastante oferta de banda larga de altíssima qualidade, às vezes mais de dois provedores na mesma rua. Então, a ideia de fato é nós sermos a melhor alternativa para áreas não atendidas ou mal atendidas. Zonas muito densas ou urbanas, muito bem atendidas, com dois, três provedores não são o nosso foco.

Oficina: E para o futuro, vocês podem pensar em investir também nestas áreas?

Rafael: Sim. A expectativa nossa é que com a evolução tecnológica, isto aí para os próximos anos, e de fato nós chegarmos em um ponto de custo, aí de fato a gente consegue competir em zona urbana. Por enquanto a gente consegue ter uma solução muito eficaz para as zonas que eu te falei, não atendidas ou mal atendias.

Investimentos

Oficina: O objetivo de vocês, como já divulgado, é cobrir 80% do território nacional na primeira fase de implementação. Até 2018 espera-se chegar a 90% e até 2020 passar a atuar em 100% do território nacional. É um crescimento rápido, para pouco tempo. Como a empresa espera conquistar estes resultados? Que tipo de investimentos já foram feitos ou estão sendo feitos para se chegar a este objetivo?

Rafael: Então, os principais investimentos que é garantir o segmento satelital, que é o ponto crucial da nossa solução, nestas três fases que você mencionou, eles já foram feitos. Este é o ponto mais importante da nossa estratégia. A gente já traçou uma estratégia que envolve os próximos 15 anos com três fases. E estas três fases do ponto de vista do maior investimento, que é o satélite, já foi feito.

Dificuldades

Oficina: Quais as dificuldades que a empresa pode enfrentar para conseguir estes resultados? Tem algum fator ainda para ser superado?

Rafael: Olha, o grande desafio de uma operação destas é justamente primeiro construir a marca e nos fazer conhecidos nos locais onde nós temos interesses de mercado. Depois a questão dos desafios de distribuição (a logística), e conseguir entregar o serviço, ou seja, instalar na casa do assinante. Só para salientar, a gente não está em grandes zonas muito densas, então, o desafio de distribuição, de entrega do serviço, ele é amplificado. Então, eu diria que os grandes desafios que a gente vai ter agora é, primeiro, fazer a marca ser conhecida e garantir que nós consigamos realizar a instalação de forma bem pulverizada no Brasil, como vai ser nossa base de assinantes, de uma maneira rápida e eficaz. Estes são os grandes desafios.

Oficina: E o que vocês já pensaram em fazer para conseguir superar estes desafios? Como se fazer conhecido às pessoas e como conseguir atender esta questão da demanda de distribuição?

Rafael: Com relação a parte de marketing, como nos fazer conhecidos, a gente vai trabalhar em uma estratégia de comunicação bastante regionalizada. Já que eu não tenho interesse em vender aqui na grande São Paulo, não adianta gastar recursos e comunicação aqui em São Paulo. Então, a ideia é fazer algo extremamente segmentado, regionalizado, identificando as regiões que nos interessam e fazendo ações específicas ali para construir a marca e gerar demanda naquelas regiões. E do ponto de vista de distribuição, a gente assinou uma parceria com uma empresa muito forte no Brasil (Elsys), que tem a capacidade que a gente precisa para realizar a distribuição, que é o segundo ponto mais crítico da nossa equação.

Expectativas

Oficina: E fora esta questão da cobertura em território nacional, quais os outros planos e expectativas da empresa para o Brasil?

Rafael: A empresa hoje, ela já tem um braço muito bem estabelecido no mercado de grandes empresas, então nós prestamos serviços muito específicos, especializados, para grandes empresas e para governos. O novo braço da empresa, nossa nova linha de negócios é justamente a internet massificada, internet banda larga para residências e pequenas e médias empresas. Então, nosso foco de atenção para os próximos anos é fazer com que este braço novo decole.

Oficina: Como está a expectativa da empresa em relação a aceitação dos brasileiros com o serviço de internet de vocês?

Rafael: A expectativa não poderia estar melhor. Apesar da crise, o Brasil está em uma situação complicada, mas a gente está vendo que para o nosso mercado alvo, que é aquela pessoa ou aquela empresa que precisa de uma internet de qualidade e hoje não tem, a gente tem uma perspectiva muito boa. Imagine você, você tem uma empresa ou tem uma residência, você é um produtor rural, tem uma casa de campo, uma casa de praia... a facilidade de você a partir de agora, em ter uma internet banda larga de altíssima qualidade. Basta você contratar, que uma pessoa vai na sua casa, instala em questão de horas uma antena parabólica apontando para o céu, puxa os cabos e ativa o serviço. Então, de maneira muito fácil, sem depender de nenhuma infraestrutura terrestre, de cabos, de nada, onde quer que você esteja, a gente vai conseguir te dar uma internet de alta qualidade. Então, este é um discurso de venda, é um diferencial do produto extremamente forte.

Preços salgados

Oficina: Referente ao valor dos planos residenciais. Eles não são considerados dos mais leves, se comparados com o que a gente já tem no mercado, partindo de R$ 249,90 para a velocidade de 10MBps e R$ 449,90 para 20MBps (confira tabelas). A empresa não acha que isto poderá ser um empecilho para que os brasileiros contratem os planos?

Rafael: É, de fato a gente tem consciência que o nosso produto hoje, ele é, ou para empresas que podem arcar com o plano, ou para uma fatia de residências de classes A e B que de fato precisam da internet. Infelizmente, por causa do patamar tecnológico que nós estamos e devido também a carga tributária, a gente não consegue fazer algo mais barato do que isso, mas vamos trabalhar neste sentido. Para você ter uma ideia, no nosso plano de R$ 249, acredite ou não, mas R$ 75 são impostos, eu não ganho nada. Então de R$ 249, R$ 75 ficam com o governo estadual e federal. É um absurdo né? Para um serviço de tamanha importância, você vê que uma mensalidade de R$ 249, R$ 75 são impostos.


Tabelas: RP1 Comunicação


Polêmica franquia de dados

Oficina: Já faz um certo tempo, desde fevereiro, que vem gerando polêmica a questão das franquias limitadas na internet banda larga no Brasil. Grande parte dos brasileiros já se posicionaram contrários a isso. Os planos de vocês terão franquias. Por que a empresa optou por comercializar planos com limite de dados?

Rafael: Aí na verdade é uma necessidade tecnológica. Só para lembrar, na internet por satélite nós usamos espectro - cabeada em sequência - assim como o celular também usa, então, do mesmo jeito que em uma rede celular não dá para você garantir uma internet banda larga, um 3G, um G4 de qualidade sem franquia, nós que usamos satélite, que também é uma tecnologia muito parecida (usa a rádio frequência), para a gente também conseguir oferecer um serviço de qualidade a gente precisa estabelecer franquias. As franquias têm dois objetivos. O objetivo principal é o espectro de frequência. Não sei se você tem familiaridade, mas se a gente não colocar franquia e se por acaso eu e você tivermos compartilhando a mesma frequência, cada megabyte que você utilizar a mais, na verdade você está tirando de mim, que sou seu vizinho. Então, isto aí não é necessariamente verdade em internet cabeada com fio, mas em internet banda larga que usa espectro de frequência, wireless, que é ocaso do satélite e do celular, é uma necessidade de fato técnica. A gente sabe que não é algo que o pessoal vê com bons olhos hoje. Está sendo muito politizado este assunto das franquias, mas no nosso caso a gente precisa colocar. Para garantir um serviço de qualidade para todos, a gente precisa ter a franquia. Não é uma questão de decisão de negócio, entende? Isto que é importante. Devido ao fato de nós sermos uma tecnologia sem fio, que usa rádio frequência, espectro, e espectro é um recurso limitado, a gente precisa ter algum mecanismo que garanta o uso mais ou menos equitativo do espectro. Por enquanto, está maneira disponível para todo mundo é a franquia. Se a tecnologia evoluir, a ponto de nos permitir oferecer internet de qualidade sem a franquia, a gente vai fazer isto no futuro. Mas hoje a gente não vê como.

Espectro é um recurso escasso, se o provedor não conseguir usá-lo, administrá-lo de uma forma eficiente, ele acaba deixando alguns usuários se beneficiarem às custas de outros, este é o ponto chave.

Oficina: E qual a avaliação de vocês referente a esta polêmica que foi instaurada ao entorno das franquias?

Rafael: Olha, eu tenho minha opinião pessoal, como Rafael, que eu não sei se corresponde com a opinião de todo mundo (empresa). Eu acho que o modelo de prestação de serviços de banda larga vai acabar necessariamente tendo que ter algum tipo de franquia. Até para justificar os investimentos, para você garantir que os usuários que extrapolam o uso normal, eles tenham algum tipo de sinalização, (como): olha, você precisa mudar de plano, você precisa fazer alguma coisa a respeito disto. Mas isto é uma convicção minha, com relação a empresa eu não sei o que ela acha. No caso específico de comunicação por satélite, aí sim eu posso falar pela empresa, hoje não existe maneira de prestar o serviço banda larga sem a franquia.

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Velocidade contratada

Oficina: No Brasil as operadoras não precisam entregar 100% da conexão contratada. A Anatel determina que as empresas devem oferecer 80% da transmissão média mensal e 40% da taxa instantânea. Esta é uma das reclamações constantes dos consumidores. Como irá funcionar com vocês, com planos de 10, 15 e 20Mbps? Esta velocidade será entregue em sua totalidade aos consumidores?

Rafael: Sim, esta é a nossa ideia. Como você bem empregou, a gente tem a obrigação legal de entregar no mínimo aquilo que a Anatel pede. Mas a gente não está satisfeito com isto. Nós vamos correr atrás de uma internet cuja a percepção e medição que os assinantes façam, sejam de fato muito melhor que isto, que é o mínimo. A gente entende que o que a Anatel exige é o piso. A gente não vai estar satisfeito com o piso, vamos tentar sempre oferecer mais.  E vale a pena destacar, que nos Estados Unidos, o FCC, que é a Anatel deles, também faz medições de banda larga, e a Hughes vem se destacando regularmente nestas medições. É a empresa que oferece o mais próximo ou às vezes até excede o que se compromete nominalmente a entregar aos consumidores. Então, isto é algo bem interessante, é este tipo de relação, é este tipo de qualidade de serviço que nós estamos almejando aqui no Brasil também.

Pontos fortes

Oficina: E além deste, quais são os outros pontos fortes da internet via satélite da Hughes, perante a concorrência?

Rafael: O grande diferencial de fato é que não importa onde você esteja, qual seja o seu endereço, se você vive em uma cidade ou se você vive isolado em uma fazenda, se você tiver dentro de nossa área de cobertura, a resposta é: sim, a partir de agora você pode ter uma internet de qualidade. A contratação vai ser bastante fácil, a instalação também vai ser rápida e nós vamos prezar por oferecer do ponto de vista de qualidade do serviço, um serviço muito melhor do que este piso que a Anatel exige dos provedores.

Pontos fracos

Oficina: E quais os pontos que vocês acreditam que precisam ser revistos, se tiver algum?

Rafael: Como a gente está começando agora, por enquanto a gente não viu nenhum ponto de revisão, mas você tocou em um ponto importante. A medida que a gente vai ganhando conhecimento, ou seja, o mercado vai conhecendo a gente, a gente vai adquirindo volume, vendas, instalações e assinantes, a gente vai pegar o feedback e certamente, se nós tivermos que fazer algum tipo de ajuste na oferta, no serviço, no produto, vamos fazer, faz parte do aprendizado.

Para quem quiser saber mais sobre a Hughes ou contratar o serviço de internet via satélite, pode entrar em contato pelo site HughesNet ou pelo telefone: 4003 - 5111.