A Qobuz chegou ao Brasil no dia 4 de maio de 2022 e um dia antes da estreia do serviço de streaming de músicas "Hi-Res", já foi possível acessá-lo em território brasileiro sem a ajuda de VPN. Muitos usuários brasileiros do Tidal chegaram a assinar a Qobuz na Europa e havia diversos elogios sobre a qualidade de áudio das faixas reproduzidas. Mas será mesmo que vale todo esse "hype"?

Por pouco mais de 1 mês e meio (7 semanas), pude testar a Qobuz nas plataformas Android e desktop (Windows). Nesse meio tempo, tive surpresas e decepções ao utilizar o serviço. Confira abaixo quais foram as minhas conclusões durante esse período de testes.

Interface dos aplicativos

Não senti dificuldades para ajustar as configurações tanto no app mobile quanto na versão para desktop (Windows). Há uma seção dedicada somente para o armazenamento e outra para a qualidade do streaming. Porém, acho que poderia melhorar a maneira como se acessa essa seção no Android, pois é necessário em "Minha Qobuz" e selecionar o ícone com símbolo de engrenagem (em cima no canto direito), que não está tão destacado.

Analisando somente os ajustes do aplicativo para desktop (Windows), é interessante notar que tanto o armazenamento quanto a qualidade do streaming foram reunidos na seção "reprodução da música". Para acessá-la, basta selecionar o nome do usuário em cima no canto direito e em seguida clicar em "Configurações".

É interessante notar que no app para desktop para Windows, é possível selecionar tanto o driver WASAPI quanto o ASIO, trazendo uma qualidade melhor para a reprodução ao utilizar um DAC USB. Para entender melhor sobre como utilizar e o porquê utilizar estes recursos, recomendamos ler os seguintes artigos:

Opções de driver para utilizar no app Qobuz para desktop no Windows. Fonte: Vitor Valeri
Opções de driver para utilizar no app Qobuz para desktop no Windows. Fonte: Vitor Valeri

Infelizmente, há bugs gerais que ainda não foram resolvidos pela equipe de desenvolvedores da Qobuz como, por exemplo, o da duplicação de álbuns. Isso foi parcialmente corrigido, embora ainda haja momentos em que você encontra álbuns com o mesmo nome sem especificar que a diferença é que um tem conteúdo "explícito" (explicit) e o outro não (exemplo: discografia de Kendrick Lamar).

Biblioteca de músicas

Houve diversos momentos em que a Qobuz Brasil compartilhou playlists em suas redes sociais e em um deles, foi compartilhado uma playlist feita pela curadoria da Qobuz USA, porém não houve a análise da reprodutibilidade do conteúdo antecipadamente. Na playlist "Hi-Res Masters: Metal Essentials" há músicas que não estão disponíveis para reprodução. Entretanto, ao acessar o artista e em seguida selecionar o álbum onde a música se encontra, é possível reproduzir a faixa normalmente (exemplo: música Tomorrow’s Dreams (2021 Remaster) do álbum Vol. 4 (2021 Remaster) da banda Black Sabbath).

Playlist Hi-Res Masters: Metal Essentials na Qobuz. Fonte: Vitor Valeri
Playlist "Hi-Res Masters: Metal Essentials" na Qobuz. Fonte: Vitor Valeri

Durante o tempo que utilizei o serviço da Qobuz, notei em diversos momentos que não havia determinados álbuns e faixas. Notei que casos em que ou o artista não estava presente nas buscas ou havia pouquíssimos álbuns dele. Algo que não tive tantos problemas no Tidal, que ainda possui um catálogo menos variado se comparado com serviços como Spotify, Apple Music e Amazon Music Unlimited.

Indicação de artistas, faixas e álbuns

Mesmo com uma biblioteca de músicas mais limitada, gostei muito do que foi indicado pela Qobuz após o fim da reprodução de um álbum que selecionei para ouvir. Além disso, na página inicial do app, há em minha opinião seleções de playlists, álbuns e artistas que são interessantes para o meu gosto. Este aspecto se destacou consideravelmente durante meus testes, comparado aos outros serviços de streaming de música, em minha opinião.

Qualidade de som

Inicialmente tive uma impressão boa sobre a qualidade de som entregue pela Qobuz ao testar através do aplicativo para desktop no Windows 10. Entretanto, após algum tempo ouvindo as músicas e alternando entre os fones de ouvido que tenho, notei que havia algo diferente comparado à sonoridade entregue pelo serviço Tidal e pelo app MusicBee reproduzindo músicas "ripadas" por mim de um CD (físico) que comprei. Abaixo os equipamentos utilizados para a análise no sistema de mesa para fones de ouvido:

  • DAC Topping D70S
  • Amplificador Woo Audio WA3
  • Headphone Sennheiser HD600
  • Headphone ATH-ESW9
  • Headphone Grado RS2e

Para ter certeza de que houve uma diferença na reprodução das músicas na Qobuz, utilizei o mesmo álbum, o Death Stranding Original Score, lançado em 2020. É interessante notar que, neste caso, a informação no aplicativo está errada, pois ele foi lançado em 2020, não em 2019 (ano de lançamento do jogo no PS4).

Álbum Death Stranding Original Score de Ludvig Forsell. Fonte: Vitor Valeri
Álbum "Death Stranding Original Score" de Ludvig Forsell. Fonte: Vitor Valeri

Ao ouvir com um fone de ouvido mais neutro como, por exemplo, o Sennheiser HD600, percebi que a música do álbum que eu estava testando estava com agudos mais fortes e médios graves mais recuados (faixa de frequência responsável por dar "volume" aos graves). Descobri isso ao fazer um A/B com a mesma faixa sendo reproduzida no app MusicBee, onde neste caso o arquivo foi "ripado" para FLAC por mim através da mídia física que comprei. Surpreendentemente, a sonoridade no Tidal, mesmo não sendo exatamente igual, se mostrou semelhante ao que ouvi a partir do arquivo original (extraído do CD físico).

Álbum Elis & Tom de Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. Fonte: Vitor Valeri
Álbum "Elis & Tom" de Elis Regina e Antonio Carlos Jobim. Fonte: Vitor Valeri

Após essa descoberta, passei a comparar diretamente diversos álbuns entre o Tidal e a Qobuz e constatei uma estridência maior nos agudos em vários casos. Entretanto, isso não se mostrou evidente ao utilizar fones de ouvido que possuíam uma ênfase maior nos graves e agudos sem muito brilho e extensão. Isso ocorreu quando utilizei o fone de ouvido Bluetooth Sennheiser Momentum 3 (review aqui) conectado ao meu celular Android (OnePlus 5T).

Conclusão

Mesmo assinando o plano Hi-Fi Plus do Tidal, que é mais caro do que o "Solo" da Qobuz, achei a sonoridade do Tidal mais agradável, pelo menos para os meus ouvidos. Além disso, a variedade do catálogo da Qobuz ainda deixa a desejar frente à concorrência, fazendo com que o uso do app seja menos frequente, embora haja excelentes indicações de artistas e músicas, como mencionei ao longo da análise.

Considerando que o serviço de streaming da Qobuz foi lançado originalmente em 2007, a plataforma parece ter parado no tempo, pois há muitos erros e bugs que não existem na concorrência. O Tidal, seu concorrente direto, um serviço originalmente sueco, focado na transmissão de músicas sem perdas (lossless), foi lançado somente sete anos depois (2014) e conta com um software mais robusto, com menos falhas.