Fones de ouvido podem ser encarados como algo simples, corriqueiro, para a grande maioria das pessoas. Porém, na grande maioria das vezes isso ocorre por não se ter a oportunidade de experimentar um bom modelo, que mostre que este pequeno produto de áudio pode nos comprovar que é capaz de nos transportar para outro mundo, nos proporcionando grandes emoções. Pensando nisso, decidi entrevistar um grande amigo meu que está no hobby há tantos anos quanto eu e que já passou por muitas experiências.

Conheci o Frederico na época da rede social Orkut, entre os anos de 2009-2010, na comunidade Fones de Ouvido High-End, e desde então ele acompanhou o grupo de hobbystas, que agora vive no Facebook.

Sem mais delongas, vamos a entrevista com o Frederico!

1 - Qual foi o seu primeiro fone de ouvido de qualidade? Havia alguma necessidade para comprá-lo na época? O que chamou mais a sua atenção para convencê-lo de comprar tal modelo?

Acredito que tenha sido lá em 2008, um AKG K14P. Um fone de ouvido do tipo earbud simples, dinâmico, semi-aberto. Lembro também de ter tido o Sennheiser CX300 e o AKG K414P nessa mesma época, além de um Razer Moray M100, que por incrível que pareça, era um "fonezinho" bem legalzinho. Estes, apesar de simples, já eram bem superiores ao que se encontrava no mercado. E, por mais que fossem baratos, ainda havia o fato de que naquele momento era uma quebra de paradigma para mim, um estudante universitário, gastar 100-200-300 reais num fone de ouvido.

Frederico Veloso
Frederico Veloso

2 - Após algum tempo com o seu novo fone de ouvido, qual foi a sua experiência? Percebeu alguma mudança na maneira como você escutava as músicas? Qual música lhe impactou mais ao ouvi-la com este fone?

No início, a maior diferença que sentia eram os detalhes no som que os fones de ouvido produziam. Eles eram bem mais evidentes que os fones que tive anteriormente, que tinham o som embolado e abafado naquela época. A experiência inicial era a de ouvir detalhes que não percebia antes. De início eu era bem menos chato que hoje com o som que ouvia. Sobre as músicas, não me lembro de uma em específico, mas provavelmente que seja alguma música dos álbuns Rebirth ou Temple of Shadows, da banda Angra, ou Ritual, da banda Shaman. Era uma época que escutava muito faixas dos gêneros Power Metal e Metal Melódico.

3 - O que te levou a querer comprar mais fones após a compra deste primeiro fone citado acima? Como você realizou a escolha do próximo fone?

Queria conhecer o que estes fones poderiam me trazer a mais da música. O que eu ainda não conseguia obter com os fones que possuía. E obviamente, outro motivo de querer comprar outros foi com a intenção de me aproximar mais do sentimento que estes me passavam, de melhora em algo, além de, claro, me divertir mais.

4 - Existe uma lista de músicas que você utiliza para analisar a capacidade dos fones que você compra? Em que ela lhe ajuda a perceber as diferenças entre um fone e outro?

Confesso que não existe uma lista específica. Eu escuto muitos estilos variados de música, tudo irá depender do meu momento. Pode variar de acordo com o que estou escutando naquele momento. Claro que alguns fones possuem características que valorizam mais determinado gênero musical e isso pede algumas músicas especificas para agraciá-lo (dar o melhor que o fone consegue) e nos deixar feliz.

De certa forma existem algumas músicas de Jazz que eu sempre estou escutando, assim como alguns EDM e músicas de Rock que conheço bastante. Muito mais importante do que apenas uma comparação técnica, eu procuro ter uma percepção do fone, das sensações que ele me traz (o que o fone poderá vir a me incomodar e as suas limitações). Ou seja, de cara eu já costumo ter impressões do que ele me traz. Esse meu feeling é bem forte e normalmente certeiro (mais do que avaliar apenas extensão, resolução, transparência, palco e afins).

Acho que a música e o fone devem agradar (fazendo um conjunto). Logo, se tem algo que incomoda, todas as vezes que coloco aquele fone, ele irá me incomodar. Alguns fones simplesmente desaparecem.

Sobre a escolha do fone, eu me baseio no meu gosto.

Atualmente eu tenho bastante tempo e experiência neste hobby, então fica bem mais fácil de saber e ter o entendimento do que gosto. Ainda sim gosto de experimentar coisas novas para dar a oportunidade de volta e meia ser surpreendido.

5 - O que te fez experimentar outros tipos de fones? (in-ear, circunaurais, earbuds, supra-aurais, TWS) Quais foram os que mais lhe agradaram e por quê?

Necessidade. Eu era um cara que viajava muito. Logo, tive a necessidade de ter in-ears para transporte e uso com fácil acesso (para pegar e colocar) em qualquer lugar e situação.

Os fones do tipo circunaural vieram num momento em que eu estudava bastante sentado numa cadeira/mesa. Nesta época eu dividia o quarto na república onde morava e necessitava de algo que me isolasse do barulho de fora e que não incomodasse os colegas. Também utilizava os headphones para estudar guitarra.

Se me lembro bem, meu primeiro fone over-ear foi o Audio-Technica M50.

Os headphones Bluetooth e TWS foram os tipos de fones que experimentei por último em meu hobby. Sou um cara que faz bastante atividades físicas, corrida, academia, musculação. Daí eles acabam sendo muito mais apropriados para este tipo de situação.

Conjunto de DACs e amplificadores de Frederico Veloso. Fonte: Frederico Veloso
Conjunto de DACs e amplificadores de Frederico Veloso. Fonte: Frederico Veloso

6 - Onde você costuma escutar suas músicas? Qual o seu local preferido? Existe um momento para isso?

Escuto bastante música no carro (sempre que estou dirigindo). Possuo também uma sala em casa, onde montei um Home Studio, um Home Cinema e também meus equipamentos de áudio e vídeo (amplificadores, DACs, headphones, consoles e etc). Infelizmente, por falta de tempo, tenho os utilizado bem menos do que gostaria.

Atualmente utilizo mais meus headphones e caixas no meu escritório da minha empresa. Mas na academia ou quando vou dormir, costumo utilizar o meu intra-auricular. No caso do momento em que estou em minha cama, utilizo o in-ear em conjunto com o DAC/amp Chord Mojo e fico deitado escutando-o.

Acho que músicas se adequam aos diversos momentos da vida. Ou seja, cada estilo casa mais com o momento que está passando naquele instante. Busco músicas mais alegres e divertidas durante o dia, ao acordar. Músicas eruditas e clássicas para estudar ou ler algumas coisas. E músicas de maior complexidade de audição e de conexão na parte da noite.

7 - Porque você decidiu comprar um DAP (Digital Audio Player)?

Comprei mais por curiosidade e ver qual era o real benefício deles. Para saber se eles de fato poderiam me entregar algo a mais do que eu já possuía. Também queria saber se com os players eu poderia organizar todo o meu acervo musical apenas em um único local. Ou seja, ter tudo que precisasse ali, fácil, rápido.

8 - Quando você sentiu a necessidade de comprar um amplificador dedicado de mesa? O que te levou a fazer isso?

Vejamos, necessidade é algo difícil de falar sobre. Acredito que comprei um amplificador mais pelo que se falava no hobby, sobre extrair o máximo do headphone e por saber que seria um próximo passo para evolução no hobby.

Talvez quando adquiri o AKG Q701 e o Sennheiser HD650 era unânime para todos os meus amigos que havia a necessidade de um amplificador. Por mais que os meus ouvidos ainda não eram tão sensíveis como hoje, estes já eram headphones que obtinham ganhos com um sinal de maior qualidade e uma maior potência para excitação do driver.

9 - Mesmo tendo um fone de ouvido para cada tipo de atividade, o que te levou a comprar outros fones?

Experiência, conhecer coisas novas. Na minha concepção você só se conhece mais e o que mais gosta, quando conhece o máximo de variantes possíveis. Exemplo: atualmente gosto de um som neutro pendendo levemente para warm. Só mudarei de ideia quanto a isso se eu conhecer headphones que possam me trazer algo novo, que me faça gostar mais do que o que eu já ouvi.

A jornada no hobby, em minha opinião, é muito mais sobre, primeiramente, conhecer-te, saber sobre os seus gostos e evoluir a sua percepção. Após isso, é interessante buscar um equipamento que consiga te trazer os gostos desenvolvidos anteriormente.

10 - Ao longo de sua escalada no hobby, você chegou a conhecer pessoas e fazer amizade com elas? A troca de ideias com estas pessoas te fez enxergar o que você tinha de equipamentos de forma diferente?

Poxa vida, muito! Hoje talvez sejam o grupo de pessoas que eu mais converso. Se tornaram grandes amigos, não só para o mundo dos fones, mas até para trocar ideias sobre a parte profissional, social etc. Sem dúvida alguma aprendi muito com a percepção e experiência diferente que cada amigo tinha/tenho.

Reunião entre amigos do hobby de fones de ouvido. Fonte: Frederico Veloso
Reunião entre amigos do hobby de fones de ouvido. Fonte: Frederico Veloso

11 - Com o conhecimento que você tem hoje, como você faria para escolher um fone de ouvido? Quais seriam os primeiros passos que você considera importantes para quem está iniciando neste mundo e quer comprar um bom fone de ouvido?

O primeiro passo para um iniciante é testar e escutar cada fone de ouvido com tempo e paciência. Conferir diversas sonoridades, marcas e passar um bom tempo com cada fone. Nada funciona com impressões de poucos dias ou horas.

Minha dica é tentar escutar os fones de ouvido com paciência, sem forçar nada e com diversos estilos musicais. Desta forma, conseguimos "entender" melhor a sonoridade do headphone resultante do conjunto dos seus equipamentos com os estilos musicais que se escuta. Um fone pode se encaixar bem com alguns estilos, se tornar um fone interessante para usos específicos ou mesmo servir para a maioria dos estilos musicais que escuto. Caso não se torne empolgante com nada, venda.

O legal do hobby é que, em muitos casos, se fizer uma boa compra, que esteja em um preço legal e justo, você consegue praticamente vende-lo sem perdas financeiras. Isso aumenta a possibilidade de testarmos mais equipamentos e conseguir encontrar aquele headphone que case com você.

A partir de uma definição mais concreta do que você realmente busca, os upgrades ficam mais fáceis e certeiros. Mas como disse anteriormente, até para você saber o que gosta, é necessário experiência e tempo. Isso ocorre devido ao fato de que estamos alterando as nossas percepções, nossos gostos e estilos preferidos a todo momento.

É fato que nós também evoluímos e refinamos nossos gostos a partir das experiências que passamos. Por exemplo: nada impede de você ter uma experiência nova, nunca sentida com algum headphone, e ela se tornar a sua preferida (aquela sensação inesquecível). Por isso devemos estar sempre abertos ao novo, para que as chances aumentem.

Atualmente, já com um bom tempo de hobby, eu tenho fones específicos para cada estilo e situação de uso. Algo que case melhor com alguns estilos, algo que me permita exercitar, correr, viajar, estudar ou mesmo relaxar. Acho que isso já é um próximo passo no hobby. Se dar ao luxo de ter equipamentos que te levem uma boa experiência de som, mas também comodidade e flexibilidade.

12 - Quais as dicas que você daria para quem está iniciando no mundo dos fones?

Não se afobar nem sair comprando equipamentos um atrás do outro. Aqui não se trata de ter ou não condições financeiras de poder adquirir ou não. Experiência você não compra, você só adquire com o tempo, não adianta. E isso exige anos.

Além do que, se tiver pressa, você perderá o mais gostoso do hobby: os aprendizados e os amigos. Hoje existem inúmeras opções, excelentes fones de baixo custo que te permitem ter uma "baita" qualidade sonora gastando pouco. Comece por ele, passe por alguns modelos e marcas e fique com eles por algum tempo. Leia, converse, troque experiências e esteja aberto a ter percepções e conhecimentos errados, é normal.

13 - Como você montaria um sistema de fones de ouvido hoje? No que você investiria primeiro? Por quê?

Inicialmente compraria um IEM de bom custo-benefício. Atualmente eu partiria de um in-ear como, por exemplo, o Blon BL03, o Tin T2 ou mesmo o KZ ZS10 Pro. O primeiro motivo desta escolha é pelo fato de o custo ser extremamente baixo e tocarem bem em qualquer fonte como notebook, smartphone ou pc com ótima qualidade. Ou seja, intra-auriculares são flexíveis e podem ser utilizados em praticamente qualquer tipo de situação.

Creio que desta forma, que citei acima, você conseguirá obter um ótimo desempenho e ir moldando o seu gosto e a sua assinatura sonora preferida sem gastar mundos e fundos.

Um próximo passo, a meu ver, seria adquirir um headphone (algum modelo que não seja muito difícil de ser amplificado). Caso o fone de ouvido circunaural seja intermediário ou acima, talvez seja interessante a compra de um DAC/amp simples como um dongle para conectar ao celular, que já possui um DAC de boa qualidade e mais potência do que o smartphone oferece. Há também outras opções de DAC/amps como, por exemplo, um SMSL iDEA, Schiit Fulla ou FiiO Q1 Mark II. Eles refinarão sim o som no geral e te trará mais potência, caso seja necessário.

Lembre-se, na minha opinião, diria sempre para investir a maior parte do investimento disponível no headphone, depois num amp e/ou dac.

Headphone planar magnético Audeze e amplificador valvulado Little Dot. Fonte: Frederico Veloso
Headphone planar magnético Audeze e amplificador valvulado Little Dot. Fonte: Frederico Veloso

14 - O que você, em sua experiência, acha que influencia na qualidade de um arquivo de música?

Sem sombra de dúvidas, a masterização. Já escutei arquivos de áudio de 128Kbps (o que, para mim, já traz perdas de informação consideráveis do arquivo) que possuíam uma qualidade excelente. Assim como já escutei arquivos de alta resolução muito ruins como, por exemplo, os diversos álbuns da Adele. Ou seja, na minha opinião, a compressão não é e nunca foi um problema para a má qualidade de um arquivo de música.

Obviamente que em situações críticas como arquivos de áudio em .mp3 de 64Kbps ou 128Kbps danificam sim a qualidade, mas no caso de um arquivo de bitrate 320Kbps, já é suficiente para essas "perdas" não serem identificadas. Percebo uma "forçação de barra" quando dizem que arquivos Hi-Fi ou HD são melhores. Muitas vezes eles pioram os arquivos comuns para justificarem a venda de pacotes de streaming mais caros ou mídias mais caras. Isso não quer dizer que o arquivo comum não possa ter a mesma qualidade, como sabemos que pode.

15 - Quais foram as mudanças de pensamentos durante a sua jornada pelo mundo dos fones? Houve algo que anteriormente você pensava que era de uma forma e depois, com a experiência, fez com que mudasse de ideia?

Sim, com certeza. Damos muito valor aos sentimentos subjetivos de cada um e, muitas vezes, sem muita experiência, nós tomamos aquilo como uma verdade para nós. O que é errado. Eu acho que para quem está começando, o achismo e a certeza ainda são muito frágeis e muitas das vezes, são percepções exageradas de algo que de fato eles não sentem.

Inicialmente eu me forçava a sentir diferença entre amps e DACs. Na verdade, eu queria escutar diferenças sólidas de algo que não existia. Hoje, como o ouvido bem mais apurado, consigo sentir sutis diferenças sim, mas bem longe das enormes diferenças que um mero ouvido sem experiência pode discernir.

Acredito que o refinamento do sistema deve ser buscado sim, mas existe o momento certo para isso. Que é estar com equipamentos a altura, com headphones que exijam aquele nível de equipamento. Também há casos em que você já possui uma experiência e ouvido suficientemente desenvolvidos para aquela pequena melhora e isso pode fazer sentido para você.

Mudei muito meus conceitos a cerca de amps, dacs e cabos. Todos com as suas peculiaridades, que demoraria muito para citá-las aqui.

16 - O que você aprendeu ou descobriu, durante a sua jornada pelo mundo dos fones, que mais lhe surpreendeu?

Por muito tempo eu esperei por um fone que fosse mágico e me trouxesse aquele brilho nos olhos, que fosse de fato bem superior aos outros fones e me fizesse sentir algo realmente incrível. Isso demorou acontecer e eu achei que, mesmo gastando relativamente muito, isso nunca iria acontecer. O que acontece é que, encontrei a sonoridade que gostava num fone para os estilos de música que escutava mais. Por este motivo que devemos conhecer, testar, estudar e experimentar.

Muitas vezes um fone mais barato pode lhe trazer uma experiência superior à de equipamentos mais caros. De repente o problema seja a qualidade do arquivo ou da masterização utilizada. Alguns fatores podem ser primordiais para a experiência de escutar música.

Digo mais: tem dias que nada soa legal, acredito sim que o nosso humor faça diferença na nossa conexão com a música.

Frederico Veloso
Frederico Veloso

17 - Depois de tantos anos no hobby, que aspectos lhe agradam mais atualmente? Levando em conta equipamentos, pessoas que você conheceu e a música.

Sem dúvida as recordações, histórias, aprendizados e amigos que fiz e que converso diariamente. Me recordar de onde tudo começou, os equipamentos que já tive e o meu pensamento e conhecimento na época. Histórias que tive com esses equipamentos e que tive com amigos. As milhares de conversas, discussões e até "tretas". Sem dúvidas evoluí a forma com que ouço música. Sou muito mais rigoroso, mas ao mesmo tempo consigo me conectar muito mais com a música. Sobre equipamentos, fico feliz em perceber que a cada dia mais temos produtos de ótima qualidade com preços bem mais baixos e acesso muito mais fácil.

A comunidade no Brasil vem crescendo substancialmente, o conhecimento tem se disseminado mais. Claro que ainda é algo muito restrito, mas que se compararmos há 5-8 anos atrás, há uma enorme evolução, crescimento e disseminação dessa cultura. Fico feliz com isso, de saber que hoje se compra um IEM (in-ear monitor) como o Blon 03 que agrada até pessoas experientes no hobby, por pouco mais de R$100,00. Isso era impossível há pouco tempo atrás. Assim como temos Dac’s e Amp’s de relativo baixo custo e extremamente competentes. Hoje eu tenho bem definido o tipo de som e o timbre que gosto num headphone e que me agradam bastante. Logo, consigo acertar mais do que errar.

Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End: