Este é um tema muito evitado entre as pessoas, não só na audiofilia, mas em outras áreas também. Mas como hobbista da área do áudio, me sinto mais a vontade para debater sobre o assunto unindo a temática hobby ao forte interesse na reprodução e gravação do som com alta fidelidade (definição de audifilia da Oxford em seu site Lexico).

O que é o hobby?

Segundo a Oxford, significa a atividade realizada regularmente nos momentos de lazer por prazer, porém não há como debater sobre o assunto somente com esta informação e fui procurar mais afundo o que seria. Segundo o site seriousleisure em seu artigo "A perspectiva séria de lazer (SLP)", os hobbistas (chamados também de hobbystas ou hobistas ou hobbyist) pertencem a um grupo mais amplo de pessoas que se envolvem com algum tipo de lazer, onde cada categoria se sobrepõe de certa forma.

No artigo mencionado acima, são formados três grandes grupos de atividades de lazer realizadas como passatempos, onde o primeiro deles é o lazer casual, onde é realizada uma atividade gratificante, de curta duração e prazerosa, que necessita de pouca ou até mesmo nenhuma preparação. O segundo tipo de lazer é o sério, onde a pessoa irá pesquisar de forma sistemática sobre o assunto, podendo ser classificada como amadora, hobbista ou voluntaria, onde a atividade é gratificante e gera um sentimento de realização. Por último, temos o lazer baseado em projetos, onde se tem um projeto de curto prazo, que muitas das vezes é recompensador (retirado da obra "Serious Leisure: A Perspective for Our Time" de Robert Stebbins).

Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa Fonte: definicao.net

Qual a diferença entre hobbista e amador?

Segundo Robert Stebbins, o lazer levado a sério é realizado tanto por amadores, quanto por hobbistas e voluntários. Os amadores participam de atividades que possuem uma visão profissional, como tocar um instrumento. Já os entusiastas do hobby, estão envolvidos em cinco tipos amplos de atividades: colecionismo, fazer e modificar objetos (DIY), participação de atividades (eventos e reuniões de hobbistas), atividades de artes liberais (trabalhos com madeira, fotografia, cinema, produção de joias, projetos de software, produção de música, desenho, pintura, leitura de livros e/ou histórias em quadrinhos e/ou jornais e/ou e-books e/ou textos na internet, cosplay, etc), esportes e jogos (incluso e-sports, chamado também de esporte eletrônico ou ciberesporte). Os voluntários participam de organizações (grupos ou clubes), onde trabalham como guias, conselheiros. Por fim, a separação entre o hobbista e o amador ocorre porque o amador possui o espírito profissional (sabe o caminho para se tornar um), e age como guia para a prática, já o hobbista possui a prática e sabe os meandros, detalhes, da atividade e pode saber como realiza-la da melhor forma possível devido a sua experiência.

Afinal de contas, sou um hobbista?

Dito isto, você já deve ter percebido que possuímos um pouco amador, um pouco de voluntário e um pouco de hobbista entusiasta. Afinal de contas, não sabemos sobre tudo e sempre temos algo a aprender, também nos voluntariamos a guiar, aconselhar, outras pessoas com o que sabemos e ao mesmo tempo, acumulamos uma boa experiência em certos assuntos. Cada uma destas caracterizações pode variar de pessoa para pessoa, onde a proporção pode ser tanto equilibrada quanto haver um grande desequilíbrio como, por exemplo, focar somente em ser hobbista entusiasta e ao mesmo tempo amador, evitando agir como voluntario.

Não é errado ser aquele entusiasta no hobby que tem muita experiência em determinado saber, o que busca sempre aprendizado e não age como voluntário. A pessoa pode possuir diversos motivos para não agir como tal, como por exemplo, egoísmo, falta de interesse, preguiça ou até mesmo por falta de tempo.

Ao mesmo tempo, existem aquelas pessoas que são amadoras e optam por praticar somente o tipo de hobby que tem como característica o lazer casual. Ou seja, ela não tem pretensões de aprender algo sobre o assunto, ela simplesmente quer se divertir com o momento e não deseja se tornar um voluntário ou entusiasta.

Há também aqueles que levam o lazer a sério, pesquisando mais afundo sobre o assunto, mas que não querem se tornar hobbistas entusiastas. Ao mesmo tempo, algumas pessoas que se enquadram nestas características que procuram, a medida do possível, agir como voluntários.

E claro, não poderíamos deixar de mencionar a existência de pessoas que possuem o equilíbrio entre o lado amador, o entusiasta e o voluntário. Geralmente, estes são muito procurados e queridos por se dedicarem ao hobby e compartilharem o seu conhecimento sempre que podem.

Hobbistas na audiofilia

Imagem ilustrativa. Fonte: The Guardian Fotografia: Katherine Anne Rose
Imagem ilustrativa. Fonte: The Guardian Fotografia: Katherine Anne Rose

Levando para o lado da audiofilia, mais especificamente o de fones de ouvido, área onde eu tenho maior vivência, observa-se vários traços citados acima em pessoas de grupos que participo (seja pela internet, seja em encontros presenciais). Observa-se, em diversos casos, um exagero em certos pontos, muita falta em outros e até mesmo chegando ao extremo, onde entusiastas do hobby deixam a essência do hobby, não tendo mais prazer durante suas atividades, se preocupando somente com o lado técnico, acabando por esquecer o prazer da música. Daí a ideia do hobby da audiofilia andar sempre junto da melômania (amante e conhecedor de música), para que a atividade não se torne um desprazer, pois a pessoa pode chegar ao ponto de ficar procurando defeitos em busca da perfeição, ao invés de aproveitar a música.

Por conta do mencionado acima, há uma grande discussão acerca do equipamento de áudio em conjunto com o desejo da perfeição entrar em conflito com o prazer do hobby. A pessoa no início do hobby, costuma não se importar muito com os "defeitos" do equipamento de áudio que ela está utilizando, mas através dos voluntários, ela passa a aprender mais e "avançar" no hobby, adquirindo maior conhecimento e conhecendo "equipamentos melhores". À medida que o tempo passa, o indivíduo pode "tomar gosto" pelo assunto e ir cada vez mais fundo, chegando ao ponto de se preocupar somente com o equipamento que possui e esquecer o que levou ele a iniciar no hobby, a música. Este é um erro que muitos cometem, mas não admitem.

Você pode pensar que é impossível "avançar no hobby" sem adquirir "equipamentos melhores", mas é importante refletir que nem sempre o dispositivo que possui maior capacidade técnica irá trazer maior prazer para o usuário. Afinal, o som é algo muito subjetivo e é influenciado por nosso gosto musical ou pela atividade que exercemos (jogos, filmes, esportes etc.). Ou seja, no final das contas, o que importa mesmo é ser feliz com o que está ouvindo (se lhe agrada, ótimo).

Outro caso extremo do hobby da audiofilia que vejo ocorrer algumas vezes é o colecionismo ao extremo. A pessoa compra diversos equipamentos somente para ouvir por um curto período ou ouvir uma única vez ou até mesmo chegar a comprar e não ouvir. Chega um certo ponto, que o dito "hobbysta entusiasta" não sente mais prazer em ouvir música, ele sente prazer somente em comprar, ou seja, mais uma vez chegamos ao ponto de que o hobby foi deixado de lado, pois a pessoa não possuí mais prazer ao realizar a atividade de ouvir música com seus fones de ouvido, o foco passou a ser outro.

Conclusão

Há de se ter um certo equilíbrio em nosso hobby e ao mesmo tempo não deixar de ter prazer em executá-lo. Afinal, você começou o hobby para que mesmo?

Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End:

Fonte: The Serious Leisure Perspective (SLP) ; Stebbins, Robert (2015) Serious Leisure: A Perspective for Our Time ; Gelber S M. Hobbies: leisure and the Culture of Work in America Columbia University Press, 1999, p. 28. ; Gelber, Steven. A Job You Can't Lose: Work and Hobbies in the Great Depression. Oxford University Press ; Site newyorker; Site Lexico