Seja muito bem vindo a mais um capítulo onde conto a você o básico sobre fones (ainda não leu os anteriores? Acesse-os aqui!). No capítulo passado discutimos sobre qual seria o melhor fone de acordo com a atividade exercida pela pessoa e como o prometido em seu final, no capítulo de hoje falarei sobre quais características analisar no fone para lhe ajudar a fazer a escolha mais acertada possível.

Depois que as pessoas conseguiram filtrar algumas escolhas de fones de acordo com a sua atividade, a maioria fica em grande dúvida sobre qual fone pegar por conta das diferenças de assinatura sonora e de qualidade de som. Porém, não basta ter uma assinatura sonora que lhe agrada e um som de qualidade (com boas capacidades técnicas). A grande maioria das pessoas acaba caindo nesse erro e acaba vendendo o fone mais tarde ou até "perdendo" ele.

Para que você faça uma escolha de algo que seja realmente bom, é importante analisar o conjunto e não somente um único fator ou característica. A seguir elencamos algumas características principais que devem ser levadas em conta na hora de se escolher um bom fone de ouvido.

Loja dedicada a áudio portátil no bairro Akihabara em Tóquio, Japão
Loja dedicada a áudio portátil no bairro Akihabara em Tóquio, Japão (Foto por/Photo by: Deezel on the site theheadphonelist.com )

Cabos

Cabo Effect Audio Thor Silver II. Fonte: Vitor Valeri
Cabo Effect Audio Thor Silver II. Fonte: Vitor Valeri

Os cabos são uma estrutura dos fones de ouvido que por vezes são desprezados, mas eles têm diversos pontos importantes que devem ser analisados para que você tenha uma boa experiência com o seu fone de ouvido.

O primeiro deles é a microfonia, que é aquele barulho que você ouve quando está com os fones nos seus ouvidos sem ouvir música e o cabo balança batendo ou esfregando no corpo gerando ruídos. Quanto melhor o cabo, menos ruído ele gera e alguns chegam até a não gerar microfonia. Isso é algo que deve ser considerado, pois pode interferir na música degradando a experiência final.

Outro ponto importante é a maleabilidade/flexibilidade do cabo, pois isso influencia no conforto durante a utilização do fone. O mais influenciado em termos de conforto são os do tipo in-ear quando o cabo passa por cima da orelha. Além disso, temos que levar em conta que essa característica também influencia na facilidade de guardar e retirar o fone de ouvido de sua case (acessório utilizado para guardar o fone).

Uma característica interessante que poucos notam, é a questão do peso de um cabo. Isso influencia e muito o conforto durante a utilização de um fone (sendo in-ear ou headphone). Os fatores que podem acrescentar peso ao cabo são o comprimento do cabo, a grossura do fio, o material do fio e do que o envolve, tamanho dos conectores e do divisor em Y, material dos conectores e do divisor.

Comprimento do cabo é algo que deve ser pensado também, pois ele pode facilitar ou dificultar o uso do fone de ouvido de acordo com a atividade exercida pela pessoa. Se for algo portátil, por exemplo, a maioria dos fones costuma ter um cabo de 1,2m de comprimento enquanto um headphone, por exemplo, para ser utilizado em casa ou em estúdios pode variar o tamanho do cabo podendo ser de 1,2m ou 3m ou até 5m.

E por último, deve ser analisar o conforto do material que reveste os fios do cabo. Existem cabos com revestimento de plástico, de tecido e até de malha de metal.

Earpads (almofadas)

ZMF Earpads Perforated.
ZMF Earpads Perforated.

As earpads (ou pads), encontradas nos fones do tipo headphone e on-ear (saiba mais sobre os tipos de fones aqui) são itens que devem ser muito bem avaliados, pois além de influenciarem no seu conforto, também influenciam no som (mas esse é um assunto para outro artigo).

Existem pads de diversos formatos e tamanhos. O tamanho delas pode influenciar no conforto que a pessoa terá dependendo do tamanho da orelha dela. Já o formato influenciará na ergonomia do fone, a maneira como as pads abraçam a cabeça fará a diferença na distribuição do peso e pressão que o fone exerce na cabeça do usuário.

O material interno e externo das pads também influenciará também no conforto final que a pessoa terá ao colocar o headphone em sua cabeça. Existem, por exemplo, espumas com ou sem memória de diferentes densidades dando a você sensações totalmente diferentes dependendo de suas características. A parte externa pode ser feita, por exemplo, de veludo, courino, couro, tecido liso, tecido com enrugado, tecido com pequenos poros, entre outros materiais e formatos, alterando também o conforto. Por isso deve se pesquisar, se possível, informações acerca dessa característica também.

Eartips (ponteiras)

Eartips de diversos tipos (Foto por/Photo by: soundphilereview.com )
Eartips de diversos tipos (Foto por/Photo by: soundphilereview.com )

As eartips (tips) são utilizadas nos fones do tipo in-ear (saiba mais sobre os tipos de fones aqui) e são uma parte do fone que deve ser muito bem analisada para se poder extrair o máximo de conforto, isolamento e qualidade de som possível (no caso do som, será mais bem abordado em outro artigo).

As tips dependendo dos materiais utilizados podem ou não ser flexíveis e isso afeta o conforto, o isolamento e a fixação no seu ouvido. Porque a eartip tem que ser flexível o suficiente para quando encaixada, seguir a curvatura do canal auditivo tanto com a deformação da estrutura do duto da tip quanto de sua parede mais externa que entra em contato com a parede do canal auditivo.

Uma boa eartip tem que conseguir preencher todas as curvas do nosso canal auditivo selando o ar de fora do ar do duto da ponteira até o tímpano.

O material de que é feito a ponteira também influenciará na qualidade do isolamento do ruído externo. Por exemplo, as ponteiras feitas de espuma irão isolar de maneira mais eficiente o ruído externo.

Também existem diferenças no formato das tips que podem proporcionar um maior ou menor isolamento. É o exemplo das eartips triple flange (3 barreiras para atenuar o ruído externo) e double flange (2 barreiras).

Ergonomia

Fone in-ear Kinera Seed. Fonte: Vitor Valeri
Fone in-ear Kinera Seed. Fonte: Vitor Valeri

A ergonomia em um fone de ouvido é um dos fatores essenciais que tem que ser considerado. De nada adianta um headphone ou IEM tocar excepcionalmente bem e ser desconfortável, sendo possível escutá-los somente por alguns minutos.

Um dos fatores para um fone possuir boa ergonomia é o peso. O fone deve possuir uma estrutura leve o suficiente para não incomodar o usuário depois de algumas horas de audição.

Outro item que deve ser analisado dentro da ergonomia á a questão do formato. Um headphone, por exemplo, tem que ser pensado para seguir os contornos da maioria das cabeças das pessoas de forma confortável com uma estrutura maleável o suficiente para ser possível, caso necessário, fazer pequenos ajustes para tornar a experiência o mais confortável possível.

Já nos fones in-ear, a situação se torna um pouco mais difícil, pois é possível fazer poucas coisas para o corpo do fone se ajustar melhor ao ouvido da pessoa (única forma que encontraram foi por meio de "asas" que se encaixam no fone e dá uma fixação melhor no ouvido da pessoa). Então as fabricantes desse tipo de fone buscam encontrar uma forma/Shell (saiba mais sobre a estrutura dos fones aqui) que siga da melhor forma possível a maioria dos contornos dos ouvidos das pessoas para que nenhuma parte do fone venha a causar algum desconforto por ficar em atrito com a pele ou aplicando pressão em um único ponto por longos períodos de tempo causando dores nas orelhas da pessoa.

Qualidade do material

Fone in-ear Audio Technica ATH-CKM99 que possui uma house feita em Titânio. Fonte: Vitor Valeri
Fone in-ear Audio Technica ATH-CKM99 que possui uma house feita em Titânio. Fonte: Vitor Valeri

A qualidade do material do fone de ouvido é algo imprescindível de ser analisado no momento da escolha de um fone. Afinal, ninguém quer comprar algo descartável que funcione por três ou seis meses apenas.

No caso dos fones do tipo in-ear é importante se analisar a qualidade do material da house (corpo) do fone (saiba mais sobre a estrutura dos fones aqui), do nozzle (bocal) e do conector do cabo (onde o cabo sai da house). Por vezes a house sofre rachaduras por mais que a pessoa seja cuidadosa por conta da qualidade pobre do material utilizado, o mesmo pode chegar a ocorrer com o nozzle. O conector pode sofrer problemas como perder a conexão com o circuito do fone ou causar a quebra do conector do cabo (no caso de um cabo removível). Então sempre é bom conferir informações acerca da qualidade destas estruturas.

Em earbuds analise a qualidade da house, como que o cabo sai da house e a qualidade das espumas que cobrem o earbud.

Em headphones deve-se analisar a qualidade das pads, do arco, das cups, dos sistemas de movimentação das cups e do arco, do encaixe do cabo (caso seja removível).

Outra estrutura que deve ser analisada a qualidade é a do cabo, que por vezes é uma estrutura tão frágil no revestimento dos fios e na qualidade dos conectores e divisor (Y) que ocorre o mau contato e a necessidade de trocar o cabo do fone (isso se for removível, se não a solução é a realização da solda do cabo ou a troca de fone).

Então não analise somente o preço quando for comprar um fone de ouvido, porque se a qualidade do material for ruim, você irá gastar seu dinheiro em vão.

Conclusão

É muito importante sempre analisar o conjunto do que o fone de ouvido oferece a você e não somente uma parte. Uma única parte não irá tornar um fone melhor do que o outro, afinal o que conta realmente é a experiência como um todo do uso do fone para a pessoa durante um longo tempo.

Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End:

Fonte da imagem da capa / Source of cover image: TheHeadphoneList