Até que ponto vai o direito de usar um meio midiático potente para alcançar os seus próprios objetivos e eliminar concorrentes de maneira desleal? O quão inexistente precisa ser o cunho jornalístico de uma reportagem a ponto de mostrar um único lado de uma moeda? A mídia é movida por interesses, e isso já não é novidade, ou você acha que ainda formaríamos jornalistas sabendo que a imparcialidade não gera lucros?

Essas são perguntas que podem não ter resposta nos dias de hoje, afinal, a razão parece sempre estar com a maioria, com quem parece mais confiável e que segue os bons padrões da tradicional família brasileira. Mas quanto a isso não existe preocupação, novas gerações estão vindo e elas já conhecem o poder que terão nas mãos e sabem diferenciar os reais perigos do entretenimento.

Como não sou de pensamento fraco e muito menos me deixo levar pela maioria, sei dizer que existem muitas emissoras de televisão e outros veículos de grande mídia que apoiam a industria de videogames assim como eu, que também sei reconhecer que existem jogos focados unicamente na violência explicita por pura "diversão".

O começo da guerra

Uma das primeiras matérias, e talvez a mais conhecida, que alavancou a guerra entre games e a televisão aqui no país, foi a exibida pela Rede Record, emissora do conhecido bispo Edir Macedo, no programa Domingo Espetacular exibido no dia 24 de abril de 2011, na época do massacre de Realengo, quando um jovem entrou em uma escola do Rio de Janeiro armado e matou 13 pessoas, deixando outras 22 feridas. Você não precisa assistir a matéria toda, ela deveria ter acabado em menos de um minuto e dez segundos, quando o repórter deixa bem claro que o assassino tem distúrbios mentais graves, mas não acabou.

Se o assassino tinha distúrbios mentais graves, por que a matéria direciona o motivo do crime para o fato de que o jovem jogava videogames? Foram os videogames que o causaram estes distúrbios mentais? Não existe nenhum motivo aparente que dá liberdade a reportagem para taxar os jogos como inspirações para criminosos.

Ao longo da reportagem é possível ver uma série de "profissionais" dando depoimentos sobre os efeitos psicológicos dos games sobre adolescentes e criminosos, em todos eles é visível que nenhum sabe sequer o que é um jogo eletrônico ou mais, não sabem nem qual é a sensação de jogar um jogo violento.

O apresentado vs A realidade

Você pode assistir qualquer uma das matérias que colocaremos neste artigo, em todas elas, só existem coisas ruins em um mundo de pixels, você não precisa salvar a princesa, nem salvar o mundo, muito menos proteger sua família, tudo o que você verá nos jogos é sangue e horror.

Impor limites é uma obrigação que todo pai deve ter para qualquer tipo de comportamento de seus filhos, por isso, dizer que os jogos deixam as crianças agressivas é balela, afinal. Se a criança está se divertindo, provavelmente vai acabar precisando de uma advertência dos pais para saber quais são os seus limites, assim como precisa ouvir dos pais o horário de voltar para casa depois do futebol com os amigos.

Como se já não bastasse, afirmar que jogos desenvolvem um déficit de atenção é praticamente acabar com a credibilidade da própria emissora, afinal, até mesmo artigos científicos já foram publicados em revistas renomadas como o estudo de Adam Chie-Ming Oei e Michael Donald Patterson (vinculados à Nanyang Technological University, em Singapura), que apareceu na revista PLOS ONE de 13 de março de 2013, provando que jogar videogames durante uma hora por dia aumenta a atividade cognitiva.

O que é pouco frisado em matérias sobre o assunto é a importância que a classificação indicativa que o jogo oferece, ela é determinada pelo próprio governo brasileiro e deve sim ser seguida, pois, se você acha que o seu filho não tem idade ou é facilmente influenciado por jogos violentos, é um direito seu privá-lo desse contato, no entanto, é importantíssimo lembrar que, filmes, séries ou qualquer outro programa televisivo também recebe classificação indicativa, pois, se ele pode ser influenciado por games, certamente poderá ser por programas televisivos.

A suposta apologia a violência

Quando a acusação é a de que existe uma apologia a violência nos jogos, podemos usar o melhor e mais atacado dos exemplos: Grand Theft Auto. Em GTA, quando você mata algum NPC, que seriam pessoas normais caminhando na rua, qual é o seu benefício? Pegar alguns trocados que dropam, é claro. No entanto, vale a pena? O próprio jogo te mostra que você não consegue chegar a lugar nenhum  com isso e ainda será perseguido pela polícia, o que é pior ainda!

Por ter como o principal objetivo gerar entretenimento, os personagens de jogos na maioria dos casos serão mais fortes que seus oponentes. Isso não quer dizer que o intuito seja criar uma assassino em série, no final, você sempre se dá mal de uma maneira ou outra se não tiver uma boa conduta ou deixar de seguir os padrões do game.

No caso de campanhas publicitárias como algumas da série de jogos "Call of Duty", onde parcerias com fabricantes de equipamento bélico são firmadas, é preciso lembrar em primeiro lugar que, em muitos estados americanos, o porte de armas letais é liberado, chegando a ser um hobby colecionar armamentos, assim, compradores que gostam de ter armas mas não tem muita vontade de sair atirando em pessoas na rua, costumam comprar jogos para terem um mínimo da sensação que é atirar em alvos feitos de pixels com uma arma também de pixels.

Vídeo incorporado do YouTube

Como tornar o jogo mais o próximo possível da realidade é a porta de saída para evitar que alguém sequer pense em testar o mesmo na vida real, é preciso que exista uma parceria que não gere gastos exagerados para a desenvolvedora com captura de sons das armas e modelagem das mesmas.

É até bastante interessante tentar entender o motivo de salientar que, na página do Facebook de uma fabricante de armas parceira da desenvolvedora, um pai americano diz querer ensinar o filho a usar armas em um estado livre dos Estados Unidos, onde isso é praticamente uma cultura.

Jogos online Pay To Win

É muito provável que você ao menos uma vez já tenha ouvido falar de jogos onde o usuário pode até jogar de graça, mas só consegue se dar bem se comprar bons equipamentos. Games deste tipos são conhecidos na comunidade como "Pay to Win" (pague para ganhar), ou seja, você pode jogar normalmente e com qualquer pessoa, no entanto, pessoas que compram equipamentos recebem itens melhores e mais fortes, massacrando quem não quer ou não pode gastar dinheiro jogando.

Um dos jogos mais conhecidos do gênero e que fazia muito sucesso até certo tempo atrás era GunBound, que chegou até mesmo a virar caso de polícia depois que o jogador brasileiro considerado como o melhor no game foi sequestrado para ter sua conta roubada. De começo você já percebeu que este tipo de entretenimento, onde é preciso pagar para vencer, é na verdade um grande perigo.

Em uma reportagem exibida no Fantástico no dia 19 de julho de 2015, a Rede Globo expõe atividades ilegais que ocorrem livremente no jogo Legend Online, que também é Pay to Win, já que é possível começar jogando de graça e o jogador só paga por equipamentos que chegam aos milhares de reais para ficar mais forte.

Vídeo incorporado do YouTube

Se quiser, você pode assistir a matéria toda, na qual não ouvirá em momento algum o repórter deixando claro que o jogo em questão é o próprio Legend Online, eles apenas falam de jogos online e a industria de jogos. Pais que assistem essa matéria, sabem que se trata somente de um único game? Sabem que são pouquíssimos os games que exigem a compra de equipamentos para vencer?

Você até pode achar que eles não podem falar o nome do jogo durante a matéria, no entanto, na teoria esta regra vale o mesmo para imagens mostrando o logotipo do mesmo, que aparece mais de uma vez em flashes de um ou dois segundos, tornando quase impossível para uma pessoa que desconhece Legend Online saber que se trata do mesmo.

Como sempre acontece em jogos Pay To Win, pessoas mentalmente fracas fazem de tudo para conseguirem os melhores e mais caros equipamentos desse tipo de jogo, chegando a prostituição e ao roubo, algo que é bastante reforçado em matérias deste tipo.

Proibir jogos Pay To Win seria a solução para acabar com o preconceito das emissoras? Absolutamente não, mas acabaria com crimes cometidos dentro de games deste tipo.

A esperança para o cessar fogo

É bem provável que essa guerra nuca acabe, a industria de games continuaria crescendo e trazendo história cada vez mais incríveis enquanto a televisão ataca títulos mal intencionados usando de suas reportagens tendenciosas e mal informadas.

A única chance de que um dia poderemos jogar videogames em paz sem termos que nos preocupar se um deficiente mental que jogava videogames cometeu uma chacina (assim como muitos outros que não jogam também cometem), é o próprio tempo, que trará novas gerações conscientes da diferença entre o vício e a diversão.

Assim como a educação é a principal solução para a maioria dos problemas da humanidade, ela também pode ser o divisor de águas entre o preconceito e a informação, vinda principalmente dos pais, que devem educar e impor limites aos seus filhos, ensinando-lhes o que é certo e o que é errado nas coisas que vêem na televisão, no cinema e nos videogames.