Com a popularização dos fones de ouvido de múltiplos drivers de baixo custo, especialmente os do tipo in-ear, muitas pessoas começaram a acreditar que quanto mais drivers o dispositivo tiver, melhor será a qualidade. Porém, não é bem assim que ocorre na realidade. Entenda neste artigo o que poderá afetar para pior ou para melhor a qualidade sonora de um fone de acordo com o número de drivers que ele possui.

Quantidade de drivers é sinônimo de mais qualidade em fones de ouvido do tipo intra-auricular (in-ear ou IEM)?

A maior quantidade de drivers em fones de ouvido do tipo in-ear pode sim colaborar para melhorar a qualidade sonora, mas não determina se um fone será melhor que o outro somente pela quantidade. Para que haja de fato um melhor desempenho utilizando um maior número de drivers, há de se observar, por exemplo, as tecnologias dos drivers utilizados (dinâmico, armadura balanceada, piezo elétrico, eletrostático), pois cada uma delas se comporta de maneira diferente na produção dos sons além do fato de existirem casos em que elas são utilizadas em conjunto (fones híbridos), tornando o projeto mais complexo ainda.

Estruturas internas do CIEM (custom in-ear monitor) JH Audio Layla. Fonte: 94dio (Instagram)
Estruturas internas do CIEM (custom in-ear monitor) JH Audio Layla. Fonte: 94dio (Instagram)

Mas o driver sozinho não irá fazer com que o som produzido chegue exatamente como foi gerado inicialmente até os seus ouvidos, pois existe um caminho a ser percorrido que influenciará nas características que o som terá no final. Começando pelo(s) tubo(s) que guiam o som dos drivers até o(s) bore(s) do intra-auricular (buracos por onde sai o som), que influência no som de acordo com o material que é feito, espessura, comprimentoe até maneira como é posicionado.

O nozzle é o local por onde sai o som do fone e pode ter mais de uma saída (bores). Fonte: 94dio (Instagram)
O nozzle é o local por onde sai o som do fone e pode ter mais de uma saída (bores). Fonte: 94dio (Instagram)
Entretanto, nem sempre o som sai como o esperado, pois há a influência do corpo dos IEMs (house), que absorve e reverbera os sons emitidos pela atividade dos drivers (BAs, DDs, piezo ou electrostaticos). Além disso, ocorre tambem a interação dos sons de cada driver, ao chegar até o nozzle do fone, podendo ou não, resultar no som que os engenheiros imaginaram.

Nozzle do fone in-ear Audio Technica ATH-CK350M. Fonte: Vitor Valeri
Nozzle do fone in-ear Audio Technica ATH-CK350M. Fonte: Vitor Valeri

Na tentativa de contornar estas influências, os drivers são posicionados de maneiras diferentes dentro da house (estrutura do fone), além de também utilizar diferentes filtros em distintos lugares ao longo dos tubos na tentativa de talhar o som de acordo com a intenção dos produtores.

Para controlar melhor a maneira como cada driver irá trabalhar com o som, é utilizado o crossover, um circuito elétrico que divide o sinal de áudio em várias partes para que cada driver seja responsável por reproduzir uma pequena faixa do espectro do som, conseguindo dessa forma uma reprodução com menos distorções.

Enfim, como você pôde perceber, a quantidade de drivers não irá dizer se um fone irá soar melhor que outro. Isto dependerá do projeto do intra-auricular como um todo, e só será possível julgar a sonoridade do fone através de testes, ou ao menos lendo análises de outras pessoas, para chegar a ter alguma noção sobre seu som. Hoje temos exemplos de bons fones in-ear com 1 único driver dinâmico (DD) feitos de Berílio como o Final Audio A8000 e Dunu Luna que competem com fones multi-BA na mesma faixa de preço, conseguindo ser melhores em diversos aspectos.

Fone in-ear Final Audio A8000 possui um único driver dinâmico feito em berílio. Fonte: Final Audio
Fone in-ear Final Audio A8000 possui um único driver dinâmico feito em berílio. Fonte: Final Audio

Curiosidade sobre tecnologias empregadas em CIEMs (custom in-ear monitors)

Com o intuito de evitar o cancelamento de frequencias em fones multi-driver em CIEMs (custom in-ear monitors), a JH Audio patenteou uma tecnologia chamada FreqPhase, que consegue de maneira física (através dos componentes internos do fone) evitar que os sons graves, médios e agudos não sejam cancelados ao chegar no nozzle (bocal por onde sai o áudio do fone).

Quantidade de drivers é sinônimo de mais qualidade em fones de ouvido do tipo circunaural (over-ear ou headphone)?

No caso dos fones do tipo circunaural, a situação muda de figura, comparado aos fones de ouvido in-ear, e na grande maioria das vezes, a adição de mais drivers por lado não irá trazer benefício algum, em termos de qualidade sonora, podendo até piorar a reprodução das frequências.

Em fones over-ear utiliza-se, geralmente, drivers do tipo dinâmico, que exigem um espaço maior para serem fixados corretamente para realizarem a excursão (movimentação) do diafragma de forma eficiente. O primeiro obstáculo a surgir nos headphones multi driver, é o espaço disponível para o posicionamento dos drivers, que não é muito grande, levando em conta que é necessário colocar drivers de diferentes tamanhos (podendo ter diferentes comportamentos dependendo da tecnologia), para que seja possível reprodução das frequências de som de maneira mais fiel. Entretanto, o problema não é somente o espaço e tamanho dos drivers, e sim a distância e posicionamento dos mesmos, entre o diafragma e o seu ouvido.

Imagem ilustrativa de drivers dinâmicos de um headphone. Fonte: Unbox Therapy
Imagem ilustrativa de drivers dinâmicos de um headphone. Fonte: Unbox Therapy (YouTube)

Como não há uma maneira eficiente para direcionar o som dos múltiplos drivers dos headphones até os nossos ouvidos, e muito menos espaço para se realizar efeito de som surround, que é feito em caixas de som, é extremamente difícil se obter um bom resultado utilizando este método para este tipo de fone de ouvido (entenda melhor sobre o multicanal em fones aqui). Ou seja, é melhor comprar headphones estéreo do que com múltiplos drivers.

Esse artigo é feito em parceria com o Grupo Fones de Ouvido High-End: