No último dia 15 de setembro, a SpaceX lançou a Inspiration4. O feito histórico ficou marcado como a primeira missão totalmente tripulada por civis, viajando por três dias na órbita terrestre. Mas não é só no turismo espacial que a SpaceX, empresa de Elon Musk, pensa. Há um plano para colonizar Marte, e aqui vamos explicar como funciona o Super Heavy, foguete capaz de mandar para o espaço a nave Starship com 100 humanos a bordo.

Sobre a SpaceX

O bilionário Elon Musk criou a SpaceX em 2002 com o capital resultante da venda de duas empresas: a empresa de serviços de software Zip2 e o provedor de pagamentos online PayPal.

Seu objetivo era criar uma empresa para colonizar Marte. E para além do foco no planeta vermelho, a SpaceX tem feito bastante coisa no espaço: a empresa construiu as naves de carga Dragon e a Crew Dragon para a Estação Espacial Internacional da Nasa. Além disso, a SpaceX lançou satélites a bordo dos foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy para vários clientes.

Como funciona a Starship e o Super Heavy?

Quanto a Marte, Musk periodicamente fala sobre novas ambições distantes para o envio de tripulações a Marte, carga e foguetes. O bilionário renomeou sua nave em 2018, passando a se chamar Starship.

Starship, Starhopper, Superheavy. Foto: Mundo Conectado
Starship, Starhopper, Superheavy. Foto: Mundo Conectado

A Starship e o Super Heavy são as maiores e mais importantes peças do grande plano de Elon Musk para a SpaceX. A nave espacial Starship terá capacidade de enviar até 100 passageiros para Marte, e para isso ela conta com o gigantesco foguete conhecido como Super Heavy. Juntos, eles constituem o sistema de transporte que Musk acredita ser o necessário para que o ser humano colonize Marte.

De acordo com Musk, "Tecnicamente, são duas partes: a Starship é a nave espacial/estágio superior e o Super Heavy é o foguete propulsor necessário para sair da gravidade da Terra (não necessária para uso em outros planetas ou luas)".

A ideia é que a grande espaçonave, em conjunto com o foguete, serão completamente e rapidamente reutilizáveis. O foguete lançará a nave na órbita da Terra, e ela voltará à Terra em um pouso vertical e propulsivo.

A nave espacial, entretanto, fará seu próprio caminho da órbita da Terra até Marte (ou a lua, ou qualquer outro destino. A Starship pousará e decolará sem a necessidade de qualquer nave de pouso adicional ou veículos de subida. Isso porque o foguete Super Heavy é necessário apenas para sair da gravidade da Terra.

O reabastecimento fora da Terra é a chave para a visão de Musk. Por exemplo, naves espaciais voltando de Marte ou da lua precisarão ser cobertas por lá, usando propulsores produzidos localmente.

O Sistema de Transporte Interplanetário (ITS)

Em 2016, Musk chamou a arquitetura do Starship e Super Heavy de Sistema de Transporte Interplanetário. O nome era novo, já que o bilionário havia se referido ao seu conceito imaginado como o Transporte Colonial de Marte.

O ITS terá 122 metros de altura quando empilhado. O foguete tem 77 metros, enquanto a nave tem 49 metros. Haverá uma sobreposição entre os dois veículos, o que explica porque a altura total não é de 126 metros. Ambos os veículos serão alimentados pelo motor Raptor da SpaceX, que é mais potente que o Merlin, motor responsável por impulsionar os foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy.

Super Heavy. Imagem: SpaceX / Divulgação
Super Heavy. Imagem: SpaceX / Divulgação

A nave vai ostentar nove motores, e um propulsor de 12 metros de largura que contará com 42 motores, permitindo que o foguete produza 13.033 toneladas de impulso na decolagem — 3,6 vezes mais do que o foguete lunar Saturn V da NASA. Para fins de comparação, o Falcon 9 tem nove motores de primeiro estágio e o Falcon Heavy tem 27 motores.

E não haverá apenas a nave e o propulsor. O planejamento envolve o envio de 1.000 ou mais naves espaciais lotadas de pessoas para Marte a cada 26 meses. Assim, gradualmente o sistema de transporte levaria pessoas suficientes para estabelecer uma cidade com uma população de um milhão de seres humanos no Planeta Vermelho, dentro de 50 a 100 anos, de acordo com Musk.

Como se dará a colonização de Marte, segundo Musk

Musk não estabeleceu planos para construir esta cidade. Isso acontecerá organicamente à medida que mais e mais pessoas chegarem ao planeta. Aliás, Musk compara seu plano de colonização de Marte com a ferrovia transcontinental, que ajudou a abrir o Ocidente americano para o assentamento do Leste e Centro-Oeste dos Estados Unidos, no século XIX.

E esses pioneiros não serão apenas os super-ricos, se tudo correr de acordo com o plano. A reutilização do sistema de transporte poderia baixar o preço da viagem para Marte o suficiente para torná-la acessível para um grande número de pessoas.

De acordo com Musk, "a arquitetura da nave permite um custo por passagem inferior a US$ 200.000. Achamos que o custo de se mudar para Marte pode ser menor do que US$ 100.000."

Mudança no design

No início do projeto, Musk pensou em fazer a Starship com fibra de carbono. Entretanto, em janeiro de 2019, ele anunciou que ela seria construída a partir de aço inoxidável.

Embora o aço inoxidável seja mais pesado que a fibra de carbono, o que aumentaria o combustível necessário para lançamento, juntamente com mais custos associados, o material tem melhores propriedades térmicas para voos espaciais, e assim reduziria o custo a longo prazo. E um tempo depois, Musk afirmou que a mudança no design foi a decisão mais acertada que ele tomou no projeto.

Neste ano de 2021, a empresa anunciou uma mudança de design inesperada para a Starship. Musk disse que, ao assistir o filme "O Ditador", de Sacha Baron Cohen (2012), teve uma ideia que poderia tornar o veículo mais pontiagudo. "Arredondado não é assustador. Pontudo é assustador", disse o almirante Aladeen, um ditador fictício, sobre um míssil que seus engenheiros criaram.