Em abril, Wanderson Oliveira, secretário nacional de Vigilância em Saúde alertou que o Brasil poderia viver uma "tempestade" envolvendo picos da dengue em conjunção à pandemia de coronavírus. De 2018 para 2019, já havia sido registrado um aumento de 488% no número de casos, e o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde aponta que até o momento, 676.928 casos já foram confirmados de dengue, enquanto o país ainda enfrenta crescentes 241 mil casos confirmados de COVID-19. Há ainda a preocupação com o vírus da gripe (influenza), podendo criar uma situação sem precedentes de 3 epidemias simultâneas nacionais e de 3 doenças muito similares. As principais preocupações são o já sobrecarregado sistema de saúde e a maior dificuldade de tratamento e identificação de qual vírus que se está lidando por paciente.

Casos de dengue alarmantes

Os casos de dengue seguem em alta alarmante, estatisticamente mostrando uma incidência de 322,1 casos por 100 mil habitantes. Até o momento foram confirmadas 265 mortes por dengue sob extrema subnotificação, principalmente nesses últimos dois meses de quarentena. Essa incidência representa um aumento de cerca de 60% frente ao mesmo período no ano passado. Historicamente os meses de abril e maio são os meses de picos infecciosos de dengue, zika e chikungunya, e esse ano não tem sido diferente. A maior diferença é que por algum motivo, a dengue tem se tornado mais ameaçadora enquanto já se tem uma pandemia mundial nas mãos dos profissionais de saúde brasileiros.

O pico de influenza começa no inverno que se aproxima

O próprio vírus influenza também é outra ameaça, no ano passado matou 1.122 pessoas entre seus 3 tipos e com a chegada do inverno os casos vão estourando. Por mais que o coronavírus, a influenza e a dengue causem sintomas similares, os tratamentos podem ser muito diferentes para cada caso e a dificuldade de identificação de qual vírus pode ser perigosa no tratamento de pacientes.

Convergência epidêmica reforça necessidade do isolamento social

Essa convergência epidêmica é mais um fortíssimo motivo para que os hábitos de isolamento social e de higiene reforçados sejam mantidos e ampliados. Afinal, ao combater o COVID-19, também combatemos simultaneamente a influenza. Já a dengue requer muita atenção nos ambientes domésticos para que não exista água parada. Com o inverno chegando, as chuvas são mais raras e teoricamente o mosquito vetor Aedes Aegypti tem reprodução e presença reduzidas. Acontece que em pleno isolamento social é muito mais difícil para os governos estaduais e municipais de promover mutirões de redução de focos de reprodução de mosquitos como geralmente há em picos de casos de dengue. Até o momento a dengue não mostrou sinais claros de desaceleração, mas o frio de junho deverá conter ao menos um pouco esse avanço.

COVID-19 é mais letal que a dengue e influenza

Enquanto a população e governantes ainda parecem subestimar o COVID-19, a taxa de infectados graves é muito maior do que da dengue e influenza. Lembrando que tivemos 676.928 casos de dengue confirmados e 265 mortes frente à 241 mil casos de COVID-19 e 16.118 mortes. Não que a dengue deva ser subestimada, mas o coronavírus se mostra nesse momento como a principal ameaça à saúde pública e definitivamente não é apenas uma "gripezinha". Claro que ainda não há nem vacina e nem um tratamento específico para o coronavírus, enquanto a dengue já não é uma doença nova e existem já muito mais informações e formas mais efetivas de tratamento do que para o coronavírus, mas a taxa de casos graves de infectados com o COVID-19 também se mostrou maior aos infectados com dengue, que apresenta uma letalidade similar à do influenza, cerca de 0,01% até 0,08%, que também predomina fortemente nos idosos com mais de 70 anos. A taxa de mortalidade do COVID-19 ultrapassa os 15%.

Nesse momento, a maior preocupação é do sistema de saúde brasileiro, tanto público quanto particular, entrar em colapso. Por si só o COVID-19 sozinho já sobrecarregou a estrutura existente e um estouro de casos graves de influenza e dengue podem ser a gota d’água para um colapso. Há mais a se fazer e a se prevenir do que somente o COVID-19, o isolamento social é ainda mais importante uma vez que previne também a contaminação do vírus influenza, enquanto os cuidados com a dengue não devem afrouxar porque estamos entrando no inverno. A consciência da população em reconhecer a responsabilidade individual de se prevenir tais vírus, o respeito à quarentena e adoção dos hábitos de isolamento social é o que nos tirará dessa situação. Não há políticas públicas suficientes e milagrosas para impedir uma catástrofe epidêmica caso o brasileiro ainda continue burlando a quarentena e desrespeitando as obrigações que cada um tem para com a saúde pública.