Não é segredo que o mundo todo está passando por tempos difíceis. Atividades econômicas foram reduzidas pelo menos pela metade, a movimentação das pessoas caíu e consequentemente as emissões de carbono de veículos e muitas outras atividades poluentes, resultando na maior queda de emissões de carbono já registrada. Sim, o coronavírus fez o que nenhuma guerra, recessão ou mesmo pandemias anteriores fizeram dentro de pelo menos um século.

Isso tudo é influenciado pelo uso de combustíveis fósseis, como gasolina, carvão e queima de gases. Uma vez que algo acontece globalmente, essas atividades costumam ser reduzidas, consequentemente reduzindo também a poluição emitida no ar. Por exemplo, a crise financeira de 2008 resultou um uma queda das emissões de carbono em todo o mundo de 450 milhões de toneladas entre 2008 e 2009, o que na realidade é uma queda pequena em comparação ao período pós Segunda Guerra Mundial que registrou uma queda média de 800 milhões de toneladas de emissões. Nas grandes recessões entre o final dos anos 70 e começo dos anos 80, uma queda de quase um bilhão de toneladas de CO2 na atmosfera chegou a ser registrada.

A maior queda de emissões da história

Esses eventos duros para todo o planeta demoraram pelo menos um ou dois anos para registrar essas quedas de emissões, mas o que vemos em 2020 é que em alguns meses já se viu uma redução dramática de emissões. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), o mundo usará 6% menos energia neste ano, enquanto a instituição Carbon Brief estima que 2020 verá uma redução de 2 a 3 bilhões de toneladas de emissões de gases que causam o efeito estufa, isso seria entre 4% e 8% de redução em todo o planeta. Esses números já seriam até 10 vezes maiores do que os registrados durante a última recessão global.

O principal fator para essas reduções é a quarentena e a menor necessidade de transportes. Enquanto a demanda de energia também caiu em média 20% durante lockdowns, segundo a IEA. Ou seja, menor demanda de queima de combustíveis. O uso de carvão também caiu drasticamente, principalmente pela China ter sido o primeiro país a paralisar suas atividades. As atividades nas estradas chegaram a cair em média 50% comparando o final de março deste ano e o ano de 2019. Estima-se que a demanda por petróleo caiu em 10 milhões de barris diários nesse período de pandemia.

Mas e o pós-pandemia?

Esses efeitos são substancialmente circunstanciais, ou seja, eles não deverão se manter para sempre, são atrelados à pandemia. Porém, será que o mundo não vai aprender nada com essa crise? Acontece que o combate às mudanças climáticas deverão se fortalecer por uma série de fatores enquanto algumas coisas nunca mais serão as mesmas.

O principal fator positivo de toda essas crise são as lições aprendidas, principalmente por governantes. Muitos pesquisadores climáticos estão otimistas afirmando que algumas lições críticas foram ensinadas e que elas podem ser aplicadas ao combate climático. É incrível observar que governantes (pelo menos em sua vasta maioria por todo o mundo) colocaram a saúde e a vida das pessoas como prioridade em detrimento da economia. Isso é algo um tanto quanto inédito na história mundial. E isso também significa que a sobrevivência do planeta e consequentemente de nós mesmos pode chegar a se tornar uma prioridade nas cúpulas internacionais.

Para além de governantes, a sociedade como um todo aprendeu muitas coisas valiosas, dentre elas a economizar, oferecer opções de trabalho a distância, cortar custos e consumo

de recursos, mas, acima de tudo, se desenvolveu um maior senso empático que é absolutamente fundamental para se implementar medidas contra o efeito estufa, desmatamento e desperdício.

Avanços na ciência

O COVID-19 também proporcionou avanços mais práticos e tangíveis do que apenas aprendizado social. Por exemplo, cientistas de universidades de múltiplos países, como Inglaterra, Noruega e Estados Unidos, aproveitaram os céus mais limpos para estudar mais a fundo os efeitos que aerossóis causam na nossa atmosfera. Esse tipo de gás impacta a formação de nuvens e interceptam a luz solar, influenciando a temperatura global. De maneira geral, os efeitos práticos desses gases sempre foram incertos e os cientistas nunca tiveram muitas chances de obter respostas, até agora. Os aerossóis poderiam, por exemplo, rebater um pouco os efeitos do monóxido de carbono na atmosfera. Enquanto o CO aquece o planeta, talvez fosse possível fazer com que a modificação nas propriedades de nuvens causadas por aerossóis entrasse como um fator compensador a esse aumento de temperatura ao absorver radiação solar.

São inúmeras possibilidades, mas o COVID-19 e toda a crise sem precedentes que gerou pode nos ajudar a repensar o futuro do planeta e todo o nosso modo de vida. A prova está aqui, se é possível trabalhar, viver e sobreviver durantes tempos tão difíceis como esses, também é possível nos adaptar para não destruirmos nosso planeta.