Um dos principais problemas causados pelo Coronavirus é o momento em que as pessoas com a enfermidade confirmada começam a ser tratadas. O tratamento, em casos graves, é intensivo e necessita de oxigenação para sobreviver à infecção por tempo o suficiente para que os anticorpos do corpo consigam combater o vírus. Isso significa, que uma das formas de diminuir o impacto do Coronavírus neste momento, além das práticas de prevenção, é ter o maior número possível de dispositivos de reanimação em funcionamento. Pensando nisso, Thabata Ganga, 26 anos, engenheira biomédica especialista em impressão 3D na área da saúde, resolveu criar uma rede de pesquisadores, engenheiros, profissionais da saúde, programadores e designers, para fabricar peças 3D para equipamentos que estão em falta nos hospitais.

A inspiração

A inspiração de Thabata veio do caso ocorrido na cidade de Brescia, na Itália, onde um hospital necessitava urgentemente de válvulas para um equipamento de terapia intensiva. O problema é que o fornecedor da peça não podia entregá-la em pouco tempo. Nunzia Vallini, editora do jornal local Giornale di Brescia, sabendo da situação alarmante e que vidas poderiam ser perdidas neste meio tempo, entrou em contato com diversos produtores de peças 3D para que fosse utilizada a tecnologia da impressão 3D para salvar as vidas que estavam em risco.

Alessandro Romaioli (esquerda) e Cristian Fracassi (direita). Fonte: nytimes
Alessandro Romaioli (esquerda) e Cristian Fracassi (direita). Fonte: nytimes

Foi então quando Alessandro Romaioli e Cristian Fracassi, CEO e criador da empresa Isinnova, fabricante de sensores de terremotos, ataduras de silicone, bicicletas, entre outros objetos práticos, souberam da situação e se dispuseram a ajudar. A dupla visitou o hospital par analisar a válvula, peça responsável por conectar o paciente ao respirador (realiza a mistura de oxigênio puro com o ar), e logo em seguida voltaram ao escritório e começaram a produzir as primeiras peças, que embora não tenham sido bem sucedidas de início, foram aprimoradas e conseguiram com sucesso obter o resultado necessário.

O projeto contra o Coronavirus (COVID-19)

No dia 18 de março, inspirada pelos italianos, Thabata decidiu utilizar o seu conhecimento e organizar uma força tarefa para combater de alguma forma o crescente número de surtos ocorrendo em nosso país. Para isso, a engenheira biomédica especialista em impressão 3D postou na rede social Twitter um formulário para quem estivesse disposto a ajudar, preenchesse, para assim organizar grupos de profissionais para ajudarem os hospitais.

O objetivo de Thabata era reunir diversos profissionais especialistas, e em seguida, contactar os administradores dos hospitais públicos de todo o Brasil, para assim poder ajudar o maior número de pessoas possível.

E assim a engenheira biomédica fez, espalhando o seu formulário e pedindo ajuda a todos que trabalham em hospitais ou que possuíam habilidades para ajudar na fabricação de equipamentos hospitalares para o tratamento do COVID-19.

Thabata percebeu que estava recebendo apoio de diversas instituições e profissionais. Empolgada com a situação, a especialista em impressão 3D decidiu postar um vídeo pedindo mais ajuda.

O movimento foi tamanho, que a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, decidiu se reunir com o MEC e pedir R$500 mil para que fosse possível colocar o projeto de Thabata em prática dentro da universidade e do Hospital São Paulo.

No dia 19 de março, a cientista informou em seu Twitter que o projeto para ajudar os hospitais com a impressão 3D para o tratamento do Coronavirus já contava com mais de 500 inscrições no formulário que ela compartilhou no início. Então, ela anunciou que faria uma análise com a sua equipe para distribuir de forma eficiente os inúmeros profissionais dispostos a ajudar.

A força em ajudar foi tanta, que a informação sobre o projeto de Thabata chegou a um pesquisador no Chile, Ricardo Rodrigues, que disponibilizou para a cientista o arquivo de impressão 3D para reproduzir a válvula utilizada pelos italianos nos hospitais.

Um dia depois da engenheira biomédica anunciar que havia conseguido 500 voluntários para o projeto, ela revelou, com muita felicidade, que já estava com incríveis 1000 pessoas se disponibilizando a ajudar na causa.

Pensando em esclarecer da melhor maneira possível as coisas, Thabata criou um grupo no Whatsapp para explicar melhor sobre as fablabs, impressoras 3D e a tecnologia envolvida em geral.

No mesmo dia da criação do Whatsapp, a cientista especialista em impressões 3D decidiu criar diversos grupos no aplicativo de mensagens Telegram. Sua ideia foi criar grupos para o projeto separando por áreas, tendo grupos, por exemplo, para modelagem, insumos para produção, TI, usinagem, legislação, engenharia biomédica, hospitais e gestores públicos, entre outros.

No dia 21, Thabata anunciou alguns equipamentos que podem ser produzidos com a utilização da impressão 3D como a Máscara N95, a máscara facial, o ventilador mecânico semiautomático e a válvula para o ventilador.

Além disso, a engenheira complementou que a equipe de seu projeto já contava com 373 makers, 239 engenheiros, 35 fablabs, 50 acadêmicos, 30 empresas, 79 profissionais da saúde, 30 estudantes, 15 profissionais de T.I., 3 advogados e 2 jornalistas.

Como todos os colaboradores do projeto estão em diversas partes do país, Thabata comenta que esta realização está sendo um hackaton a distância e que isso é incrível. Hackaton é uma maratona de desenvolvimento colaborativo e é muito comum na área de ciências da computação.

No dia 20, Thabata chegou se reunir com o Ministério Público do Trabalho e com a Defensoria Pública. No dia seguinte, dia 21 a cientista recebeu uma ligação do secretário da Casa Civil da Presidência da República. Segundo a especialista em impressão 3D, sua equipe do projeto já estaria entrando em contato com a ANVISA também. Tudo isso nos mostra que o processo está sendo feito da melhor maneira possível, afinal de contas, há direitos autorais envolvidos na produção das peças e isso poderia gerar um grande problema com os desenvolvedores e fabricantes originais.

Os desafios

Apesar do ato da engenheira biomédica Thabata Ganga ser excelente, temos que ter ciência de que não será uma tarefa fácil, pois há questões como a toxicidade do plástico utilizado na impressão 3D, a qualidade do material em si, a precisão (padrões hospitalares exigem alta precisão), etc.

Quer ajudar? Ajude a disseminar o projeto!

Se você conhece alguém que pode colaborar com o projeto ou tem contatos em hospitais, acesse e compartilhe este formulário criado pela Thabata Ganga.