Se você entrou em alguma rede social nos últimos dias, principalmente o Twitter, deve ter percebido que uma nova febre está tomando conta da internet, a rede social Vero. O sucesso foi tão estrondoso que nem mesmo a própria rede estava preparada para a demanda recebida. Logo que a criação de novos perfis foi liberada os servidores começaram a sobrecarregar, tamanha procura. 

Mas como explicar o fenômeno de uma nova rede social em tempos em que tudo já parece ter sido inventado? Já temos redes sociais para fotos, mensagens curtas, troca de arquivos, troca de arquivos que se apagam após determinado tempo, games, vídeos, vídeos curtos e virais, GIFs, etc.

Pois é, mas o imedaito sucesso da Vero pode ser explicado justamente por não tentar ser um novo modo de compartilhar coisas, mas sim, a redescoberta de um velho modo de interagir com as coisas. Lembra como era legal quando antigamente o Instagram respeitava a ordem cronológica das publicações dos perfis que você segue? Hoje em dia o algoritmo tenta mostrar para você aquelas que ele pensa serem mais relevantes ao seu perfil de usuário. 

Veja o meu exemplo de problema com o feed do Instagram: Gosto de basquete e sigo o perfil da NBA, um dos mais seguidos e ativos do mundo. Dezenas de novas fotos são postadas por dia, consequência direta do fato da liga ter jogos quase todos os dias da semana, de segunda a segunda. Sabendo que o perfil realiza muitas postagens por dia e que eu costumo curtir todas que aparecem para mim o algoritmo do Instagram faz o seguinte: mostra algumas delas uma abaixo da otura, então alterna com as fotos de outras pessoas (para não ficar só NBA no meu feed) e depois volta a mostrar mais algumas da liga de basquete (e no meio disso tudo algumas propagandas e perfis sugeridos).

A ideia de não poluir a timeline com publicações de apenas 1 perfil é interessante, porém, há um problema nessa seleção de posts a serem exibidos: O Instagram não sabe que diversos jogos são realizados por dia e - cada vez mais - mostra para mim publicações de 2 ou 3 dias atrás como resultados e informações de jogos passados, rodadas passadas e coisas que já não são de todo relevante. Enquanto isso pessoas próximas a mim postam algo e o Instagram não exibe, talvez por não ser um perfil que poste com muita frequência, talvez por não ter milhares de seguidores ou ainda por eu não ter uma interação tão frequente com a @.

Irritante? Certamente. Mas esse talvez nem fosse o problema mais votado no quesito "chatice" caso fizéssemos uma pesquisa com os usuários de redes sociais. Aposto que a característica mais odiada dentre todas seria as stories por todos os lugares a publicidade indesejada.

Vender espaços publicitários entre uma postagem e outro foi a forma que as redes encontraram para se manter longe do vermelho, porém, a tática já dá indícios de não ser a melhor das ideias, que o diga o Facebook. Mark Zuckerberg, o Markinho, admitiu, recentemente, que o tempo que os seus mais de 1 bilhão de usuários passam na sua rede social está cada vez menor. E, segundo ele, medidas já estão sendo estudadas para reverter esse jogo.

De todas as grandes redes virtuais, conta-se nos dedos aquelas que ainda não oferecem publicidade, como, por exemplo, o WhatsApp que só não está monetizando seu uso por não ter encontrado a fórmula ideal. Uma das últimas a implementar as propagandas e os impulsos patrocinados de posts foi o Twitter que agora passa a fazer parte da mesma lista que o próprio Facebook, Instagram, Snapchat, YouTube e todas as outras que veem na venda de publicidade a saída para lucrar e se manter sem ter de cobrar dos usuários.

E é aí que o Vero entra.

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Como funciona o Vero? Esse troço é pago?

Sim, pode parecer estranho, mas dos 2 grandes traços que o Vero apresenta como seu diferencial frente outras redes, um deles é que o uso da rede social será pago pelo usuário.

Aposto que você pensou que isso é um grande erro e que ninguém pagaria para usar uma rede social, certo? E provavelmente você não foi o único a pensar dessa forma, ou, o único que se negaria a pagar pelo uso de um aplicativo. Só esse pensamento coletivo para explicar o grande sucesso do Vero no número de downloads e contas criadas logo após seu lançamento oficial já que o primeiro milhão de usuários terão gratuidade para o resto da vida.

Mas após o momento inicial vale a pena um questionamento: Será que pagar por uma rede social é algo assim tão fora de cogitação?

Antigamente, em tempos de Kazaa e eMule, as pessoas pensavam isso sobre assistir filmes. Nunca que alguém iria querer pagar para ver o Senhor dos Anéis em um serviço como Netflix já que ele estava ali de graça para ser baixado por quem quisesse. Porém, após experimentarmos a  comodidade de não precisar fazer download, ter que procurar torrents, desviar de arquivos maliciosos, lutar até a morte com popups que insistiam em ficar abrindo, etc. a ideia de pagar um valor baixo (menos de 1 real por dia) passou a ser cada vez mais aceitável, senão, indispensável tamanho custo x benefício. Mas e qual seria a comodidade que uma rede social apresentaria para justificar uma cobrança?

Aí é que vem o pulo do gato. Há alguns parágrafos atrás falei sobre 2 grandes traços da rede social. O primeiro seria a não gratuidade e o 2º é justamente esse: SEM ALGORITMOS E PROPAGANDAS.

E aqui voltamos ao início de tudo, lá no meu exemplo do Instagram e da NBA. Além de não ter mais propagandas no meio dos posts dos seus amigos e você rolar a timeline sem medo de ser feliz o Vero se propõe a ser uma rede social em que o feed não será regido por algoritmo X ou Y. As publicações mostradas serão cronológicas e você só verá conteúdo de quem VOCÊ escolher acompanhar. 

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Se o valor agregado vai valer a pena ou se a ideia de repassar os custos operacionais aos usuários é uma boa sacada ainda não dá para saber. E muito da incerteza reside no fato de que o valor e forma de cobrança ainda nem mesmo foram decididos ou informados. Especula-se algo como uma assinatura anual e um preço bastante acessível, porém, não passam de especulações. 

Enquanto isso a desconfiança no sucesso da plataforma já larga na frente a partir do momento em que eles lutam para se manter no ar já nos primeiros dias de atividade pelo simples motivo de não estarem preparados para lidar com uma grande demanda.

Primeiros externos

E o fato de ter mais demanda do que capacidade nos servidores nem é o maior de seus problemas. A rede, que mal foi lançada, já pode estar com seus dias contados por conta de um motivo bem mais triste e sério.

Isso por causa do passado de seu cofundador, Ayman Hariri. Filho do bilionário e ex-primeiro ministro do Líbano, Rafic Hariri, assassinado em 2005. Ayman ficou famoso por seu papel a frente da construtora Saudi Oger, uma das maiores construtoras da Arábia Saudita. Só que os motivos dessa fama não foram os melhores possíveis, não. 

Após anos de péssimo gerenciamento e mais de 31 mil acusações de não pagamento de salários, segundo o Bloomberg, a empresa foi fechada com uma dívida de mais de 3.5 bilhões de dólares. A pior parte, no entanto, é que, de acordo com a Reuters, os milhares de funcionários, pobres e imigrantes, hoje precisam de ajuda do governo saudita para manter suas famílias já que não recebem desde outubro de 2017. E os problemas não ficam só no desemprego: enquanto a construtora ainda operava e gerava empregos os trabalhadores de alguma obra eram comumente alocados em condições sub-humanas em uma espécie de campo de refugiados no deserto, com direito a comida e água racionados e sem tratamento médico. 

Local usado pela construtora para recolher seus funcionários
Local usado pela construtora para recolher seus funcionários

Em meio a todo esse sucesso de um lado e violações aos direitos humanos de outro, surgiu uma campanha nas demais redes sociais através da hashtag #DeleteVero.

Aqueles que se convencem em apagar a conta, no entanto, passam por mais um dilema: Como deletar a conta no Vero? Isso porque relatos já começaram a aparecer no Twitter de usuários que após muito tentarem não conseguem deletar suas contas pelos "meios tradicionais". Para que isso aconteça é necessário fazer uma solicitação formal à companhia.

E aí? Você já aderiu a essa rede? Vai continuar ou vai aderir à #DeleteVero? Conte pra gente nos comentários.