ATENÇÃO: A nossa entrevista com o Leonardo "MosK" Andreotti foi realizada antes dos principais jogadores da line de x5 da Uranus mudar para a paiNgaming, portanto, leve em consideração que as respostas do entrevistado se referem a quando ele e seus colegas ainda estavam na equipe anterior.

Se você conhece o jogo Battlefield e ao menos já ouviu falar do cenário competitivo do jogo, certamente sabe da existência da Uranus Gaming, um dos maiores clãs que jogam competitivamente o game. Na entrevista de hoje vamos falar com o fundador da equipe, Leonardo Andreotti, de 31 anos, mais conhecido como MosK.

Leonardo é formado e pós-graduado na área de computação, trabalha com administração de sistemas e redes de computadores e, claro, toma conta da Uranus, time que fundou e ajudou a chegar no nível que está hoje, tendo presença certa nas finais de toda e qualquer modalidade competitiva em que estiverem inscritos.

A Uranos, sob o comando do MosK, já venceu ao menos uma temporada de todos os campeonatos que participou, a não ser a ESL One, que é o evento considerado como o maior título mundial de Battlefield. Os principais títulos que podem ser destacados como os principais da equipe são a AMD Fanday, que foi a primeira LAN presencial de Battlefield 4 e também a WarExcess League (WEL) x10.

Agora que você conhece um pouco mais sobre o Leonardo "MosK" Andreotti, que tal começarmos nossa entrevista?

Entrevista com Leonardo “MosK” Andreotti

Equipe - A Uranus é uma das equipes mais tradicionais do competitivo de Battlefield e também uma das únicas a ficar tanto tempo sem ser desfeita ou mudar de nome, qual é o segredo para não desanimar e manter viva a equipe?

MosK - A primeira coisa que alguém, quando cria um time, precisa imaginar é que, por mais que não seja uma empresa formal, aquilo é uma empresa e qual é o maior fator de credibilidade de uma empresa atualmente? A longevidade da sua marca. Quanto tempo a sua marca está no mercado é a primeira coisa que te perguntam. O nosso time, se comparado a um "nível Brasil" é um time novo, temos praticamente dois anos apenas, pois começamos junto com o lançamento de Battlefield 4, mas a experiência dos jogadores que temos hoje que transformou essa visualização e continuidade que temos, transformando a gente em uma marca muito forte, então, a não ser que seja uma proposta extremamente forte, não vale a pena mudarmos a equipe ou os jogadores. Por algum tempo alguns jogadores ficam sem jogar, mas estamos todos lá ainda, o fato de sermos tanto um time de x5 como de x10 nos permite manter essa união e essa amizade.

Equipe - Qual é a principal dificuldade em ser o capitão de uma das maiores equipes de e-sports do Brasil?

MosK - A maior dificuldade eu diria que é a falta de apoio, porque é difícil você manter as pessoas com o mesmo interesse que o seu sem poder dar nada em troca para elas, para poder dar algo em troca você precisa ter apoio de fora ou ser um milionário maluco que quer gastar dinheiro com computador. No nosso time temos pessoas muito boas, de muito boa índole e amizade. Já passaram pessoas diferentes, que não estão mais, mas a gente sempre fala "sempre que alguém sai tem um motivo para essa pessoa sair e se ela saiu é porque ela não deveria estar ali com a gente mesmo". Muitos que saíram continuam sendo meus amigos, mas este não é o problema, o problema mesmo é a falta de apoio de terceiros.

Equipe - Vemos que a Uranus costuma se destacar principalmente em campeonatos x10, mas, o que falta para a equipe voltar a brilhar no x5 e se tornar novamente o melhor time brasileiro de Battlefield?

MosK - Na verdade já temos uma posição de destaque no x5, afinal, estamos sempre entre os top 3 times dos campeonatos que disputamos, no entanto, se você me perguntar o que precisamos para voltar a ganhar tudo no x5, isto é nítido, precisamos dar continuidade ao trabalho. Tivemos algumas dificuldades para continuarmos na última temporada, isso justamente pela falta de apoio (financeiro) para mantermos algumas pessoas, tivemos problemas com alguns jogadores por termos a ideia de amizade com eles, pois na modalidade não dá mais para manter uma equipe só de amigos, temos que ter uma equipe realmente focada em jogar. Não me adianta termos "Romarios", preciso de gente treinando, jogando e disponível o tempo todo, então, o que nos falta é isso, acertar um pouco mais e dar continuidade ao nosso projeto.

Equipe - A Uranus costuma seguir uma rotina de treinos para jogar partidas competitivas?

MosK - Hoje a parte de treinos e organização está muito bem definida, as pessoas que estão dentro do time sabem como funciona a nossa "agenda", não temos de fato uma agenda, nos juntamos e começamos a treinar, diferente de alguns times que estão se formando e acham que é preciso pedir um dia e uma hora do jogador para treino. Nós estamos dispostos a treinar todas as noites e talvez seja essa a grande diferença, pois os times geralmente não conseguem se organizar para treinar todos os dias e se obrigam a criar uma agenda.

No x5 treinamos todo dia, já o x10 varia de acordo com a quantidade de campeonatos que participamos, jogando na maioria das vezes contra outros clãs e as vezes com alguns treinos táticos, assistindo gravações de outros times para avaliarmos as táticas deles. A gente entra em uma sala de TS, todos abrimos o vídeo a ser analisado juntos, o nosso chamado "vídeo em família", e damos o play ao mesmo tempo e vamos fazendo este trabalho.

Equipe - Algumas das principais reclamações dos jogadores de Battlefield é que os campeonatos x10 ou mais estão cada vez mais desvalorizados, você saberia dizer por que os vemos cada vez menos?

MosK - O x5 é um formato global de competitivo, são poucos os jogos que não tem competições desse modo. CS (Counter Strike) é x5, LOL (League of Legends) é x5, DOTA é x5, Smite, Point Blank e etc., por que ser diferente com o Battlefield? No Battlefield 3 existia um x4 com Squad Rush, depois existiu um x6 de infantaria porque era nos mapas de conquest, e acabou no x5 com algumas limitações, no Battlefield 4 já veio o formato x5 desde o começo, principalmente pelos squads (uma espécie de divisão dentro do seu próprio time) que agora já tinham um limite 5 jogadores pensando nisso. É muito difícil juntar um time com 10 jogadores e conseguir patrocínio para todos, passagens para todos em viagens de presencial, e o que dá visibilidade para um jogo são os presenciais, então, a dificuldade de organizar presenciais para dez pessoas por time talvez seja o maior problema pelo qual o 10x10 está morrendo. Fora isso, também existe a falta de maturidade de algumas equipes e seus líderes: eles se desfazem, mudam, não querem jogar contra outros times fortes, aí você vê pessoas pedindo separação por divisões em ligas, poxa, já tem tão pouca gente, não é um x5 que tem trinta e poucos times se você oferecer uma premiação de uns mil reais, então fica complicado, os próprios times têm um pouco de culpa por essa queda do x10.

Entrevista com Leonardo “MosK” Andreotti

Equipe - Battlefield é, sem dúvidas um dos jogos que tem mais crescido no e-sports, o que está gerando todo este crescimento, são as equipes ou os torcedores?

MosK - O crescimento dessa visibilidade depende de alguns fatores, um deles é como os próprios jogadores e suas equipes trabalham a sua imagem, em qualquer esporte eletrônico os jogadores precisam saber trabalhar sua visibilidade, então, se você torce pelo meu time por um jogador que você gosta estar nele, isto é natural, não temos maturidade para que um torcedor torça por um clube, mas sim pelo seu jogador preferido, então, quem trabalha melhor este aspecto é quem acaba carregando mais gente para assistir os seus jogos. Já tivemos um jogo com mais de nove mil pessoas assistindo, a nossa média é ainda três ou quatro mil por transmissão, no entanto, a maioria dos times não consegue colocar 200 pessoas para assistir em uma transmissão, por que? Cada time precisa saber trabalhar a sua fanbase, não adianta esperar cair do céu 50 mil fans, isso não vai acontecer, a não ser que o time se dedique em jogar melhor e melhorar sua imagem. O próprio fato de existir uma dificuldade das pessoas comprarem uma máquina que rode Battlefield e isso possibilite a ela gostar do jogo e a faça procurar por competições já é um grande motivo para as equipes se preocuparem mais com a sua imagem.

Equipe - O que está faltando para o cenário competitivo de Battlefield alcançar um nível ao menos parecido como, por exemplo, o de League of Legends? Quais são as limitações e vantagens no game para este objetivo ser alcançado?

MosK - O que deveria causar uma melhor impressão e chamar mais fãs é o fato do jogo ser muito bonito, o problema é que isso limita a uma menor quantidade de pessoas poder jogar o jogo, então, existe uma inversão muito grande hoje de quem joga Battlefield no computador pra quem joga nos consoles, antes o PC era muito superior em número de jogadores, hoje já não é mais assim. Uma série de erros que a DICE (desenvolvedora da série) e a EA (Publisher da série) cometeram no começo como bugs e outros problemas, cada vez mais adeptos foram sendo perdidos, obrigando os players a optarem por infantaria e, "se for para eu jogar de infantaria, vou jogar outro jogo focado nesse modo". Jogar de veículo hoje é uma vergonha, a própria distribuidora ou a desenvolvedora causou essa dificuldade, o jogo tinha tudo para ser um baita sucesso, mas infelizmente foi se construindo um jogo ruim.

Equipe - Qual é o seu tipo de evento preferido: presencial ou online? Por que?

MosK - Sem dúvidas o presencial, é nele que você consegue ficar cara a cara e conhecer as pessoas com quem você joga. Infelizmente hoje, no online, as pessoas são muito "corajosas" e quando olham para tua cara e te veem de frente não conseguem ser os mesmos que são por trás do teclado. Muitos te desrespeitam, mas quando veem a grandiosidade de tudo o que você está fazendo pensam "caramba, esse é o cara de verdade?". Isso aconteceu com algumas pessoas que, antes da BSOG (Arena BSOG, evento presencial promovido no Brasil em 2014) me detestavam, quando viram tudo o que fiz pra lan acontecer passaram a me respeitar, portanto, o evento presencial é, sem dúvidas, o preferido de todo mundo assim como o meu.

Equipe - Quais são as expectativas para a próxima ESL One, que provavelmente contará com dois times das Américas?

Mosk - A gente não tem nenhum tipo de confirmação que serão dois times, mas a pouca informação que tenho leva para um lado contrário, no entanto, contando com dois times a nossa visão é que a gente vá, se continuar sendo com um time, queremos muito ir, vamos lutar por isso, sendo uma ou duas, vamos estar na briga com certeza. Em lan (presencial) as coisas mudam, o fator psicológico é extremamente determinante, quando você está online é até possível esconder como você se sente naquele dia, no presencial não, quem souber aproveitar isso se dá bem. Então, se a gente conseguir se classificar dessa vez, vamos com outra força e com outro animo, pois estamos trabalhando muito a parte psicológica ultimamente.

Equipe - Qual dica você pode dar para quem está pensando em começar uma equipe competitiva de Battlefield mas não consegue ou tem medo de não encontrar players para fechar a line, ou de ter outras dificuldades administrativas?

MosK - Antes de começar tudo é preciso planejar, assim como traçar uma meta. Você planeja como você vai fazer e onde você quer chegar, essa é a primeira coisa. Como você vai conseguir jogadores? Hoje existem vários mecanismos, você pode assistir lives, procurar em servidores públicos, depois vai de seu planejamento interno para obter o sucesso, se você tiver um planejamento que inclua patrocinadores, você terá mais facilidade em encontrar jogadores, caso contrário, vai depender de conseguir amizades e firmá-las com confiança. Então, tudo depende disso, do planejamento, da meta que está traçada, a sua organização que fará todo o resto funcionar, e perseverança, que não pode faltar, pois não é na primeira dificuldade que você poderá desistir.

Equipe - Muito obrigado por nos ceder esta entrevista MosK, gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?

MosK - Acho que é isso, peço que o pessoal continue seguindo a gente, continue acreditando e continue acreditando no jogo também, acredito que ainda tem muita coisa boa por vir para ele.

Continue ligado aqui no Oficina da Net, ainda teremos mais entrevistas com jogadores de e-sports. Para conferir outras entrevistas com jogadores que já rolaram aqui no site, você pode conferir o nosso especial e-sports.