Após experimentar todos os principais serviços de streaming de música disponíveis no Brasil, minha escolha foi por duas plataformas: Tidal e Qobuz. É importante mencionar que essa decisão foi tomada pensando no equilíbrio entre disponibilidade de músicas, interface dos aplicativos e suporte à transmissão de arquivos lossless em bit perfect.

Para aqueles que querem usufruir da melhor qualidade do álbum de seu artista preferido, é essencial que o serviço de streaming tenha pelo menos a opção de transmissão das faixas com a mesma qualidade encontrada em um CD (44.1kHz/16bit), que é a resolução minima para se considerar o arquivo de música "lossless" ("sem perdas"). Consequentemente, o Spotify acaba ficando de fora, pois ele ainda não conta com essa capacidade, apesar de ter anunciado que implementaria em sua plataforma. A pior assinatura de streaming em termos de bitrate [1] é o YouTube Music, pois não há consistência na qualidade da biblioteca do serviço, já que ele inclui o upload de usuários da plataforma de vídeos YouTube, trazendo assim uma grande distorção no som de diversas faixas.

[1] Bitrate é a taxa de bits de áudio transmitida no arquivo de música que você está reproduzindo. A cada segundo que passa da música, uma quantidade de dados (ou bits) é transferida, e quando lidamos com arquivos de áudio, isso é quantificado em kilobits de dados por segundo. Exemplo: arquivo em MP3 de 320 kbps.

Dentre todos os serviços de streaming, o Tidal e o Qobuz são minha escolha

Após testar todos os serviços de streaming de música, o Tidal e o Qobuz são a minha escolha. Fonte: Vitor Valeri
Após testar todos os serviços de streaming de música, o Tidal e o Qobuz são a minha escolha. Fonte: Vitor Valeri

A transmissão sem interferências do sistema operacional dos dispositivos

Mesmo desativando a função "normalizar volume" [2] e alterando nas configurações a qualidade da transmissão das músicas para o máximo que o serviço de streaming permite, o sistema operacional (SO) ainda poderá influir na qualidade do som. Quando não há a influência do SO na transmissão do sinal de áudio, dizemos que o aplicativo tem suporte à conectividade "bit perfect".

Há algumas formas de saber se está conseguindo ou não uma conectividade "bit perfect" no app de streaming. Para confirmar esta capacidade, você deve primeiro conectar um DAC/amp USB ao smartphone, tablet ou computador. Feito isso, teste se o volume do SO do dispositivo foi desabilitado.

Exemplo: Ao reproduzir a música e pressionar o botão de volume do smartphone, a altura em que o som está não será alterada, mas se você girar o knob de volume do DAC/amp (ou apertar o botão responsável pela função) e perceber que o som ficou mais alto, quer dizer que o volume do SO foi desabilitado.

Outro fator que deve ser observado, é a mudança da taxa de amostragem (sample rate) [3]. O correto é o DAC mostrar na tela (ou através da alteração de cores) que ela foi alterada quando o aplicativo de streaming passa para uma música que possui uma taxa de amostragem diferente.

Exemplo: A primeira música tocada possui 96Khz, mas a próxima faixa tem 192Khz. Se a conectividade for "bit perfect", o DAC/amp irá mostrar na tela um valor de taxa de amostragem (sample rate) diferente (ou alterar as cores do LED) quando a faixa seguinte começar a ser reproduzida.

Por fim, outra forma de se saber sobre a conectividade "bit perfect" é com a presença de um recurso chamado "modo exclusivo". Ele está presente em aplicativos para desktop do Amazon Music, Tidal e Qobuz. Essa funcionalidade está ligada ao uso dos drivers de áudio WASAPI e ASIO do Windows, que comentamos nesta matéria sobre as diferenças entre eles e outros que existem no sistema operacional da Microsoft.

[2] A função "normalizar volume" serve para que o usuário não precise ficar alterando o volume do seu dispositivo toda hora que trocar de faixa de música em uma playlist ou no caso de uma Single (música única que não pertence a nenhum álbum). O processo para que isso aconteça ocorre antes da música ser reproduzida no dispositivo de áudio, então não há influência do smartphone, notebook ou player na reprodução da música nessa situação. Porém, quando se trata de psicoacústica (sensações auditivas), há uma alteração na maneira como a pessoa percebe o som dependendo da variação do estilo de música e até dentro de um álbum que ela queira ouvir de maneira integral. Isso causa um incômodo em se tratando do nível de volume de acordo com a dinâmica específica do estilo da música ou do álbum.

No caso de um álbum, não há a necessidade de se usar a função "normalizar volume" pelo fato de que durante a masterização das faixas já ser pensado na constância do todo ao passar pelas faixas. Ao ativar o volume nesse caso, você poderá gerar um desequilíbrio tonal (desequilíbrio entre graves, médios e agudos) psicoacusticamente. O ideal é que qualquer alteração na música seja feita durante a mixagem e masterização das faixas de música.

[3] Artigo "Diferença entre taxa de amostragem, resposta de frequência e alcance de frequência"

Conclusão

Infelizmente, nem todos os serviços de streaming de música lossless (sem perdas) entregam a conectividade "bit perfect" em seus aplicativos nas diferentes plataformas (Windows, macOS, iOS, Android). Em nossa matéria que trata sobre essa temática, chegamos à conclusão de que o Tidal e o Qobuz são os aplicativos que conseguem entregar melhor esse recurso, embora no Qobuz necessite ainda de utilizar apps de terceiros no Android como, por exemplo, o USB Audio Pro Player (UAPP) para conseguir a conectividade "bit perfect".

É importante mencionar que os aplicativos Deezer, Spotify, YouTube Music e Amazon Music não possuem conectividade "bit perfect". Em alguns casos, o uso de "streamer" como, por exemplo, o Wiim mini, permite que esse problema possa ser contornado no Amazon Music.