Ao comprar um par de caixas novas, o manual de algumas empresas indica que o usuário realize o "break-in" (ou "burn-in"). Mas o que é o break-in? Ele realmente muda algo? E se sim, nós conseguimos percebê-lo? Estas e outras perguntas serão respondidas neste artigo.

O burn-in, também chamado de break-in, é basicamente o processo de amaciamento das peças (componentes) de um equipamento de áudio. A britânica Cambridge Audio, conhecida fabricante de equipamentos de áudio High-End, diz que ao tocar seu par de caixas novo com, por exemplo, o "pink noise" ("ruído rosa") [1] , você irá amaciar os alto-falantes assim como você faz ao usar um par de sapatos comprados recentemente. A Klipsch, outra empresa de áudio, diz que as partes móveis das caixas de som (os alto-falantes) "nunca foram movidas" (só para testes rápidos) e elas estão rígidas no início, não apresentando muita dinâmica no som até que elas se tornem mais flexíveis.

[1] O Ruído Rosa é um som que possui um espectro de frequências como a densidade espectral de potência é inversamente proporcional à frequência do sinal. O termo originou-se pelas características desse ruído serem intermediárias entre o "White Noise" (ruído branco) e o "Red Noise" (ruído vermelho), mais conhecido como ruído browniano. O ruído rosa caracteriza-se por manter a potência (energia) igual entre todas as oitavas sonoras.

Os tipos de break-in (burn-in)

Segundo Danny Richie, da GR Research, há dois tipos de break-in (burn-in), o elétrico e o mecânico. No caso do burn-in elétrico, há um "amaciamento" através da eletricidade nos cabos, conectores e capacitores, de acordo com Danny. Já o break-in mecânico, como o próprio nome já diz, as peças mecânicas, aquelas que se movimentam, irão sofrer um amaciamento, ficando mais flexíveis para gerar o som.

Imagem ilustrativa de um driver (alto-falante) dinâmico. Fonte: audioxpress
Imagem ilustrativa de um driver (alto-falante) dinâmico. Fonte: audioxpress

Há realmente mudanças nos alto-falantes (drivers)?

Antes que "atirem pedras", Danny diz que embora realmente os materiais dos alto-falantes (drivers) sofram mudanças, estas alterações são pequenas e nota-se quando se realiza medições do som gerado pelas caixas de som. Há a teoria de que "10 segundos" bastaria para fazer o "burn-in", mas as mudanças que ocorrem ali são somente devido ao aquecimento que ocorre com a movimentação do driver.

Através de testes realizados pela GR Research, notou-se mudanças na resposta de frequência (frequency response) [2] dos alto-falantes após 20 horas de funcionamento. As mudanças continuaram após mais 20 horas, embora as alterações tenham se tornado menores comparado ao início. Danny fala que o ideal para um woofer é realizar um break-in (burn-in) entre 80h e 100h.

[2] Artigo "Diferença entre taxa de amostragem, resposta de frequência e alcance de frequência"

Abaixo o vídeo gravado pelo canal "New Record Day" onde Danny Richie, da GR Research, expõe estes pensamentos.

O princípio do burn-in (break-in) acontece tanto em caixas de som quanto em fones de ouvido novos?

Há muita discussão acerca deste assunto na comunidade audiófila, mas as mudanças podem sim ocorrer tanto em drivers (alto-falantes) de caixas de som quanto de fones de ouvido. Entretanto, se em caixas de som as mudanças percebidas por nós já são sutis, em fones de ouvido torna-se desafiador. Porém, há aqueles que defendem que conseguiram ouvir mudanças.

Chegou a surgir inclusive a ideia de que na verdade, o que são os nossos ouvidos que sofrem "burn-in". É dito que nosso cérebro acaba "acostumando-se" com o som e percebemos as coisas de modo diferente. Entretanto, embora esse comportamento possa realmente existir, as medições feitas ainda provam que há mudanças físicas, embora elas não sejam tão evidentes para os nossos ouvidos.

Ao final, após tantas discussões, contrapontos de ambos os lados, as pessoas acabam optando por simplesmente utilizar suas caixas de som ou fones de ouvido normalmente e deixar o "break-in" ("burn-in") ocorrer naturalmente. Afinal de contas, o importante é aproveitarmos a música e se tiver que ocorrer algo, irá acontecer com o tempo de uso ao invés de deixar o equipamento de áudio tocando sozinho por várias horas.