Resident Evil 4 Remake é um dos grandes jogos de 2023, sendo considerado um dos favoritos para uma indicação ao prêmio de melhor jogo do ano. A nova versão da jornada de Leon S. Kennedy foi extremamente bem recebida pelos críticos e pelo público, alcançando ótimos números.

O novo sucesso da Capcom oferece gráficos de ponta com a RE Engine, enquanto a jogabilidade reimaginada consegue aprimorar o clássico para tornar os perigos de RE4 ainda mais interessantes e divertidos. Com o remake, também tivemos uma nova versão dos personagens da obra original, e nomes como Luis Serra ganharam ainda mais destaque na nova versão.

No Brasil, o personagem foi interpretado por Michel Di Fiori, dublador conhecido por trabalhos em filmes como Mortal Kombat, X-Men: Apocalipse, Eternos e mais. O Oficina da Net conversou com Michel sobre o trabalho na franquia da Capcom, e no post de hoje você confere o que o intérprete de Luis nos contou sobre o jogo, sua carreira e mais! Confira abaixo um recado de Michel.

Antes de darmos início à essa jornada , gostaria de agradecer ao convite para poder falar um pouco sobre mim, minha profissão, minha carreira e sobre este game incrível que marca não só a minha juventude, como de muitos que aqui pararam um tempinho para ler e prestigiar. Meu muito obrigado!

Entrevista com Michel Di Fiori, Luis Sera em Resident Evil 4

Michel Di Fiori
Michel Di Fiori interpreta Luis em RE4 Remake

Falando sobre a sua carreira de maneira geral, como você se interessou pela dublagem e o que serviu como motivação/inspiração?

Michel: Eu me interessei por dublagem entre o final dos anos 90 e começo dos anos 2000. Foi ali que comecei a ter algumas referências sobre o que era dublagem. Uma época em que a internet ainda era mato, mas que muitas mídias, como tv e revistas, começavam a dar rosto àquelas vozes que ouvíamos na tv, nos filmes, nos desenhos. Como eu gostava de ver vários filmes por muitas vezes e decorar as falas pra repetir, percebi que aquilo poderia ser uma profissão que talvez me chamasse atenção. Eu já estava meio que encaminhado na porta do mundo artístico e resolvi insistir pra poder entrar no mercado. Um tempo depois, fiz meus cursos, foquei mais na carreira de ator e comecei a fazer meus primeiros pequenos trabalhos.

Existe muita pressão para atender as expectativas dos fãs em trabalhos com personagens/franquias consagradas? Como você lida com essas situações?

Michel: Sempre existe. E acho que isso é muito válido. Porém, às vezes, algumas coisas fogem das mãos dos atores, dos diretores , do estúdio e às vezes até da plataforma que vai exibir. Digo isso em relação a termos, censura, adaptações, escolhas de vozes.. muita coisa pode acontecer ou ter suas restrições. Claro que , em maioria, a gente vai sempre tentar chegar ao mais próximo possível das expectativas. Mas é difícil agradar a todos. Então que a entrega seja com uma qualidade tão superior quanto àquela esperada. Eu sempre me interesso em saber que caminho seguir em produções que eu não tenho muita afinidade. Eu sou um ator que estará a serviço daquela obra, é preciso construir um trabalho de qualidade. Em geral, lido bem com isso. Quando há restrições, tento ser claro conforme as possibilidades sobre as "mudanças". Aí, quem se atenta às explicações, começa e ter uma nova visão das coisas, concordando ou não.

Fale um pouco sobre o seu processo para interpretar novos personagens. Como é sua preparação, quais são os métodos para achar o tom certo?

Michel: Normalmente, não temos muito tempo. Dificilmente o ator é informado com antecedência sobre qual papel ele irá dublar, daí a importância de ser um bom ator. Estar preparado para qualquer tipo de situação te diferencia dentro do mercado. Normalmente a gente tem pouquíssimos minutos e pouca referência pra tentar achar alguma característica da personagem para poder moldar a voz, o ritmo de fala, o tom da conversa. Eu tento sempre observar e ouvir o que já existe como guia pra poder chegar bem perto daquilo que foi pensado pelo criador.

Falando sobre Resident Evil. Qual era sua relação com a franquia antes de trabalhar em RE4 Remake e qual foi seu primeiro contato com os jogos?

Michel: Sempre fui muito fã de Resident Evil. Mesmo quando eu morria de medo. Sempre joguei videogame em casa. Meu pai jogava quando eu era pequeno e passei pelas fases do Atari, Master System, Mega Drive, Nintendo, Game Boy, todas as vers õ~es do Playstation e até alguns jogos de pc, que nao me adapto muito bem, mas com títulos como Day Of The Tentacle, Rise Of Nation, Age of Empires, Duke Nuken e alguns poucos outros. Meu contato com RE começou mesmo com RE 2 Dual Shock. Eu achava os gráficos revolucionários, e mesmo assim, me dava medo. Depois eu tinha que dormir com a TV ligada e a luz acesa. Quando o RE3 saiu, eu comprei uma revista detonado para poder evitar sustos. Não adiantou muito porque uma das entradas do Nemesis não estava informada. Aquela da delegacia. Mas , dali pra frente, vim acompanhando todos os jogos da franquia e me tornei um grande fã. Talvez eu seja , do elenco, o maior fã de Resident Evil.

Você era fã do Resident Evil 4 Remake Original?

Michel: Sim, já era. Joguei muito a versão clássica. Esse jogo marca uma grande conexão com meu irmão e é também muito importante nesse sentido. Meu irmão hoje mora no Canadá e fazer esse game é como uma homenagem a ele. Jogávamos muito quando ele estava na escola e eu já na faculdade. Era nosso jogo das tardes de chuva, com o gato no colo e leite com groselha. Jogamos tanto esse jogo que tenho vários diálogos decorados, que até questionava durante as gravações do RE4R se estariam.

Como surgiu a oportunidade de dublar o Luis em RE4?

Michel: Por volta de agosto de 2022, próximo a confirmação que o jogo estaria saindo, fui escalado em urgência pelo estudio responsável, a Keywords, para fazer um teste pra um jogo muito importante e em absoluto sigilo. Como eu já sabia que o Village havia sido feito la, fiquei na expectativa que poderia ser ele. Quando entrei pra gravar, o projeto não tinha video, nao tinha nome, nem muitas informações. O diretor do projeto, o Andre Mello disse que não poderia, nesse projeto, dizer nem mesmo o nome. Só que eu havia visto o trailer e tinha assimilado as vozes. E lendo o texto, e ouvindo o audio guia, o próprio Andre comentou : "Ah mas você vai matar a charada" e pah, matei mesmo. Eu conhecia aquele "cenário". Fizemos dois testes: um fiz, como foi feito no jogo, respeitando o lado espanhol do Luis, e o outro, fiz o Luis mais carregado no sotaque espanhol. Optaram pela versão mais "clean"e acho que funcionou bem no contexto do jogo pronto. Mais ou menos um mes depois, soube que havia sido um dos aprovados. Peguei Covid, fiquei com medo de não me recuperar a tempo, mas deu certo. Em setembro, nós gravamos o jogo.

Você se identifica com Luis de alguma maneira?

Michel: Eu acho que o Luis é uma figura tão enigmática quanto a Ada. A gente não sabia tanto sobre ele. A gente não sabe tanto sobre ele. O Luis é cafajeste. Ele é galante. Ele está empenhado. Mas tem muita coisa que a gente não faz ideia sobre ele. Então acho um pouco complicado pontuar. Mas me identifico com ele na força de vontade e na ironia. Somos muito irônicos.

Existe grande diferença entre dublar jogos e filmes/séries?

Michel: Sim, são processos diferentes. Para dublagem, a gente tem o vídeo, o texto em formato de roteiro, o áudio original no fone. A obra está normalmente pronta para poder orientar. No caso dos games, a gente chama de localização de voz.. Porque neste caso, normalmente a gente não tem imagens. A gente tem várias "waves" de áudio que orientam a gente na medida que a fala deve ter, pra entender o tamanho do diálogo, o tom de voz, a interpretação, mas só. E isso é feito com o roteiro numa planilha que é toda numerada. Então as falas gravadas vão para suas devidas localidades e ficam localizadas ali. É um pouco mais engenhoso. Eventualmente, a gente recebe alguns vídeos, alguma cutscene, algum vídeo do ator de rosto ainda no mocap , ou algo no rascunho. Mas são casos bem raros.

Como foi a recepção da comunidade de Resident Evil com seu trabalho?

Michel: Até o momento dessa entrevista, passei invicto pelas criticas. Não vi nenhuma em relação ao Luis. Acho que isso é bom. Acho que fiz um trabalho respeitoso a obra. Eu ja joguei 5 campanhas do jogo e consegui desassociar o Luis de mim. Recebi muitos elogios. Então, achoi que foi uam boa recepção e fico muito feliz com isso.

Quais são os papéis favoritos de sua carreira?

Michel: Essa é a pergunta mais difícil de se fazer pra um dublador, porque a gente esquece. Tem coisa nova todos os dias. Mas alguns papéis que fiz, por exemplo, em animes , foram o Neji de Naruto, o Genos de One Punch Man, o Rohan Kishibe em Jojo’s. Fiz séries como How to Get Away With Murder, onde dublava o Wes, o Aaron em The Walking Dead, o Isaac em Teen Wolf. Desenhos como o Porco em Porco Cabra Banana Grilo, Cricket em Os Vizinhos Green, Tom em Tom tem 10 anos, Josh , em Sem Maturidade pra Isso. Fiz o Kung Lao em Mortal Kombat o Filme, Fiz o Ikaris em Eternos... tem tanta coisa!! São 21 anos dublando!