O cometa 3I/ATLAS voltou a ser assunto nesta semana. Astrônomos captaram pela primeira vez sinais de rádio vindos de um objeto interestelar. O registro foi feito em 24 de outubro pelo radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul. Os cientistas identificaram linhas de absorção de rádio com frequências de 1,665 GHz e 1,667 GHz, associadas a radicais de hidroxila, substância gerada pela sublimação do gelo do cometa.
O que significa captar sinais de rádio do espaço
Captar ondas de rádio de corpos celestes é algo comum na radioastronomia, uma área que permite "ouvir" o Universo através de ondas eletromagnéticas. Esses sinais ajudam os cientistas a entender fenômenos invisíveis aos telescópios ópticos, como campos magnéticos, clima espacial e até a origem das galáxias.
No caso do 3I/ATLAS, os sinais de rádio confirmam a presença de gelo em seu núcleo, indicando que o cometa veio de uma região extremamente fria da Via Láctea. Quando se aproximou do Sol, parte desse gelo sublimou, ou seja, ele passou do estado sólido para o gasoso, o que também explica a mudança de cor para tons azulados após o periélio.
A parte incrível dessa história é que essa é a primeira vez que um sinal de rádio foi captado de um corpo vindo de fora do Sistema Solar.
Além disso, os cientistas já se preparam para uma nova oportunidade de escutar o cometa. Em março de 2026, o 3I/ATLAS vai passar a cerca de 50 milhões de quilômetros de Júpiter, e a sonda Juno, da NASA, tentará interceptar novos sinais entre 40 e 50 MHz. Se a detecção for bem-sucedida, será possível entender com mais precisão como o cometa reage à radiação solar e quais gases compõem sua atmosfera temporária.
Uma nova hipótese sobre o cometa 3I/ATLAS
Além do sinal de rádio, uma nova teoria científica acaba de ser publicada sobre o visitante interestelar. O estudo, disponível no servidor de pré-impressão arXiv, sugere que o cometa foi moldado por bilhões de anos de bombardeio de raios cósmicos durante sua jornada pelo espaço profundo.
De acordo com os pesquisadores, essa intensa exposição apagou traços originais de sua composição, criando uma crosta de dióxido de carbono e matéria orgânica modificada.
Isso significa que o que vemos hoje não é mais o material primordial do sistema estelar de onde ele veio, mas sim uma camada totalmente remodelada pela radiação cósmica.
Observações do Telescópio Espacial James Webb já haviam mostrado que o 3I/ATLAS contém muito mais dióxido de carbono do que água, numa proporção de 7,6 para 1, um valor muito acima dos cometas nativos do Sistema Solar. Agora, o novo estudo reforça que esse excesso pode ser resultado direto da exposição aos raios cósmicos galácticos, que transformam CO em CO₂ e criam crostas orgânicas alteradas.
Romain Maggiolo, pesquisador do Instituto Real Belga de Aeronomia Espacial, resume:
"É um processo extremamente lento, mas ao longo de bilhões de anos, o efeito é poderoso."
Em outras palavras, o 3I/ATLAS carrega uma "máscara cósmica", mostrando não como nasceu, mas como o tempo e o espaço o transformaram.