O combate ao coronavírus depende completamente da mudança de hábitos, e a mudança mais rápida da história recente da humanidade, segundo o especialista Robb Willer, sociólogo da Universidade de Stanford. Diferente da vasta maioria de doenças que possuem picos infecciosos em todo o planeta, o vírus COVID-19 ainda apresenta muitos mistérios para a comunidade médica, é um vírus novo e com um comportamento a ser estudado. Por isso, não existem medicamentos específicos para combatê-lo e tampouco uma vacina, não por hora ao menos.

Robb Willer recentemente ajudou a recrutar mais de 40 cientistas especializados em comportamento humano para pesquisar como incentivar as pessoas a tomar determinadas medidas e que essa seria a resposta para a pandemia que hoje vivemos. Willer se tornou então um alvo de políticos e executivos que buscam meios de otimizar sua comunicação com a população. O Twitter e o Facebook, por exemplo, consultaram o especialista sobre como melhorar a abordagem e a disponibilização de informações sobre o COVID-19 em suas plataformas. Jay Van Bavel é um psicólogo na Universidade de Nova Iorque que trabalhou com Willer e compartilhou a visão da pesquisa com cerca de 700 pessoas no início de abril em uma teleconferência da Organização Mundial de Saúde. Representantes de governos desde o Reino Unido até Serra Leoa escutaram conselhos do grupo de cientistas e eles já se provaram positivos e consequenciais, por mais que nem sempre bem sucedidos. Cada população, país e cultura possui suas diferenças de abordagem e requerem adaptação de qualquer método. Uma abordagem para estadunidenses pode não ser efetiva com brasileiros, por exemplo.

O objetivo e os desafios da mudança comportamental

A mudança comportamental é o principal foco e objetivo dos cientistas, governantes e executivos. Para isso, esses especialistas estão cruzando informações de medidas durante crises de gripe suína, gripe aviária e ebola com campanhas completamente diferentes, como rótulos conscientizadores em embalagens de cigarros e campanhas políticas. Tudo isso para chegar em métodos de conscientização da população mundial frente ao coronavírus cada vez mais eficientes. Por mais que ainda não exista uma fórmula perfeita, algumas coisas já foram provadas que dão errado. Muitas recomendações podem parecer até mesmo senso comum, mas elas precisam ser reforçadas o tempo todo para que a população veja tais ações como algo automático. Por exemplo, jamais colocar a mão no rosto quando fora de casa, evitar tocar na máscara, cobrir o espirro com o braço e não as mãos. Tudo isso pode já estar informado a vasta maioria de pessoas, mas às vezes automaticamente fazemos o contrário, fazemos o que estamos acostumados. Em resumo, especialistas chegaram a uma fórmula básica: Apresentar uma frente unificada de mensagens baseadas em fatos e dados para o melhor convencimento da população, difundir tais mensagens para múltiplos públicos em múltiplos veículos e escolher com muito cuidado quem vai carregar tais mensagens, o rosto, a imagem que vai transmiti-las.

Um erro já se provou recorrente ao redor do mundo, incluindo no Brasil: Mesmo mensagens robustas e campanhas bem trabalhadas podem perder muito poder e credibilidade quando lideres enviam sinais contraditórios ou até mesmo quando mensagens de saúde pública passam pela interpretação política e de políticos. Assim como Donald Trump repetidamente se mostrou contrário a recomendações da Organização Mundial de Saúde, Jair Bolsonaro fez e ainda faz o mesmo. É estatisticamente comprovado que tanto no Brasil como nos EUA as mais bem elaboradas campanhas de conscientização sobre o COVID-19 tiveram menos eficácia do que em países como a Argentina e países europeus nos quais seus líderes e governantes apoiaram imediatamente medidas de saúde recomendadas.

Inclinação política é determinante

Em um questionário público nos EUA realizado em março com cerca de 3000 pessoas, constatou-se que inclinações políticas eram os principais fatores que determinavam se alguém provavelmente seguiria recomendações de saúde pública ou não. Nos EUA, os democratas se mostraram mais inclinados a adotar hábitos extras de lavar as mãos e de distanciamento social do que os republicanos. O estudo não chegou a analisar o Brasil e tampouco há estatísticas concretas sobre a mentalidade da população por aqui, mas pode-se presumir que a mesma premissa seja verdadeira. Apoiadores de Jair Bolsonaro, assim como os apoiadores de Donald Trump, se mostram menos propensos a adotarem as medidas necessárias de saúde pública para o combate ao coronavírus. A principal evidência disso é a organização de manifestações de apoio ao presidente Bolsonaro ou contra o governador de São Paulo, João Dória, que apoia fortemente as medidas de distanciamento social de quarentena.

O Brasil se mostra atrasado

Por mais que muitos países do mundo estejam começando a afrouxar um pouco as medidas de quarentena, uma vacina pode estar até mesmo há um ano de distância. Esses países então começam a abrir lockdowns e reabrir alguns setores de comércio não porque o vírus desapareceu ou porque os médicos acharam uma cura, mas porque a população finalmente entendeu como agir durante uma pandemia. Hábitos de higiene reforçados, o uso de máscaras e o distanciamento social são apenas alguns hábitos que vieram para ficar por muito tempo, são o mínimo do mínimo para o combate ao coronavírus ou contra qualquer outra pandemia mundial.

O Brasil, porém, ainda age subestimando o vírus e o brasileiro médio ainda não compreendeu a necessidade de tudo isso. Não foram feitos lockdowns por aqui como foram feitos em muitos outros países que hoje estão começando a ver uma redução de casos. Por isso, os brasileiros ainda devem ver medidas mais drásticas de quarentena no futuro para então começar a ver uma melhora no quadro epidêmico que por aqui segue só crescendo em infectados e em mortos, já com 229 mil casos e mais de 15 mil mortes.