UM POUCO DE HISTÓRIA
Recomendam os mais experientes que, ao lidar com qualquer assunto, é sempre útil conhecer a sua história para compreender o momento presente e saber as suas chances de evolução. Vejamos, então, como a gerência de projetos tem sido exercida na indústria de informática e quais são seus benefícios e desafios.

A evolução da indústria de informática é cheia de fatos espantosos: constantemente lemos sobre a evolução do hardware, os aumentos brutais de velocidade e capacidade e os freqüentes lançamentos de novos e fascinantes dispositivos. A área de software também é de deixar qualquer um maravilhado por produtos que diariamente chegam ao mercado. A internet está virando o mundo de cabeça para baixo.

O impacto do avanço da tecnologia na aceleração do processo de desenvolvimento de novos aplicativos pode ser visto nas chamadas "aplicações simples e de pequeno porte" (um único usuário). Até a década
de setenta, tais aplicações geralmente necessitavam até seis meses para ser desenvolvidas no ambiente de main-frame; atualmente podem ser concluídas em poucas semanas. Já no caso de "aplicações complexas e de grande porte" (diversos usuários), isto não ocorreu, visto que a maior parte do tempo é gasta na interação entre pessoas. Uma aplicação que, na década de setenta gastava dois anos, atualmente teriam uma redução de 30% no tempo. Os mais céticos costumam afirmar que a possibilidade de fracasso atualmente não é muito diferente dos primeiros anos. Assim, é apropriado perguntar: o que tem ocorrido com a habilidade de gerenciar um processo de desenvolvimento de software?

Sob a ótica de gerência de projetos, alguns estudiosos costumam afirmar que o desenvolvimento de aplicações passou por três eras: até 1965; de 1965 até 1985 e de 1985 aos dias atuais. Não devemos nos ater a estas datas como nítidos delimitadores de mudança comportamental mas, sim, como ondas, ou seja, na segunda era coexistia simultaneamente muito do comportamento da primeira era, e assim por diante. A seguir são descritas estas eras.

A PRIMEIRA ERA (ATÉ 1965)
Esta era é conhecida como a era da improvisação, na qual cada um efetuava o serviço ao seu modo. Praticamente não se usavam metodologias de desenvolvimento de software nem de planejamento e acompanhamento de projetos.

Nesta era, o analista de sistemas tinha um grande poder de persuasão e imposição junto a usuários, que se sentiam desorientados e despreparados para interagir com o computador. Os gerentes de informática eram, geralmente, veteranos programadores ou analistas, sem nenhuma formação em administração. O risco de fracasso era tão alto que Atkins descreveu, em 1980, uma seqüência de etapas pelas quais passaram todos os projetos mal-sucedidos e que ficaria mundialmente famosa: Aceitação Imediata, Entusiasmo Selvagem, Desilusão, Confusão Total, Caça aos Culpados, Punição de Inocentes, Promoção de Não-Participantes. Uma caracterização bastante conhecida desta fase é mostrada na figura abaixo, que ficou, também, muito famosa em todo o mundo.

A SEGUNDA ERA (1965 A 1985)
Esta era surgiu como um movimento de oposição à improvisação da primeira era: foi a época de introdução das conhecidas MDS ou Metodologias de Desenvolvimento de Sistemas. Elas conseguiram eliminar a confusão reinante na era anterior pela introdução de uma rígida seqüência de etapas e procedimentos a serem obedecidos no desenvolvimento de uma aplicação. O uso das MDS tinha por objetivo produzir software no prazo e custo previstos e dentro de padrões de qualidade capazes de satisfazerem o usuário.

Todavia, foi bastante criticado, justamente, por nem sempre atingir esses objetivos. As razões apontam para o excesso de burocracia inerente a quase todas elas, o que ocasionou prazos igualmente longos e altos custos. Igualmente criticado era o fato de que as MDS não distinguiam entre os diferentes tipos e tamanhos de projetos.

Não se pode deixar de reconhecer, como positivo, que esta era normatizou e difundiu, no ambiente de informática, dois importantes conceitos de gerência de projetos: a divisão do projeto em etapas, com a definição dos processos de cada etapa, e a introdução das reuniões de revisão.

A TERCEIRA ERA (pós 1985)
Assim, chegamos à terceira era, de 1985 até os nossos dias. Cansadas da camisa de força das MDS, muitas empresas abrandaram o seu rigorismo e, além disso, passaram a aplicá-las de forma diferente para projetos diferentes. Com o objetivo de atacar o maior entrave no desenvolvimento de aplicativos - a comunicação com o usuário -surgiram diversas ferramentas para conduzir as etapas "levantamento de requisitos" e "design", sendo o JAD a ferramenta mais conhecida. Nesta mesma linha, com o surgimento do PC e das novas e poderosas linguagens, surgiram as ferramentas de "prototipação". Com estas ferramentas e com o poderio do PC, é possível interagir com o usuário de modo a se ter um maior conhecimento de suas necessidades. Portanto, temos agora não somente uma aceleração no prazo de desenvolvimento mas, principalmente, uma melhor comunicação com o cliente.Registramos aqui um avanço em direção a duas importantes características de gerência de projetos: a conscientização de que projetos diferentes são gerenciados de maneira diferente e a importância da interação com o cliente/usuário.

Aqui se pergunta: chegamos ao paraíso? Certamente não. A comunidade de informática ainda é das que menos conhecem e utilizam técnicas gerenciais em seu dia-a-dia. A insatisfação das empresas com a pouca habilidade de seus departamentos de informática de desenvolverem produtos estratégicos a custos, prazos, qualidade e agilidade demandados pelo mercado pode ser observada no firme crescimento de dois ramos de negócio: o outsourcing e a compra de pacotes completos, como ERP e SRP.

Talvez a influência atual de maior relevância para utilizar técnicas de gerência de projetos seja a oriunda da popularidade que o PMI (Project Management Institute) passou a ter, nesta década, no ambiente de
informática, principalmente nos EUA, Europa e Japão. O próximo artigo falará sobre o PMI.