O ex-presidente Michel Temer reconheceu, em entrevista ao programa Roda Viva (TV Cultura), que a regulamentação das famosas bets pode ter trazido efeitos sociais preocupantes para a população brasileira. Durante a conversa exibida nesta segunda-feira (15), Temer foi questionado se ele se arrepende de ter sancionado, em 2018, a medida provisória que abriu caminho para a legalização das apostas esportivas no país.

O ex-presidente afirmou que sua ideia inicial era aprovar a legalização mais ampla de jogos de azar, incluindo cassinos em regiões específicas, mas acabou adotando as apostas esportivas como uma "solução intermediária" no final do mandato. Na época, o governo buscava novas formas de arrecadação para equilibrar o orçamento.

"Hoje vejo que pode ser um problema social relevante"

Temer disse estar atento ao cenário atual, em que milhares de brasileiros, especialmente de baixa renda, comprometem parte significativa de seus ganhos em apostas online. Há relatos de pessoas que chegam a utilizar valores recebidos de programas sociais do governo para jogar, o que agrava o endividamento familiar.

"Não sei se faria diferente. Confesso que é interessante: hoje vejo muitas notícias de pessoas, principalmente mais pobres, que destinam grande parte do que ganham para essas apostas. Não sei se, diante dessa realidade, eu recuaria, porque aqui no Brasil, toda vez que se recua, você é criticado. Mas o recuo é uma coisa democrática", disse Temer.

O ex-presidente também destacou que já reviu decisões em outros momentos de sua trajetória política e reconheceu que o tema das bets pode ter se transformado em um desafio social mais complexo do que se imaginava em 2018.

Lei das bets segue em debate no Brasil

Desde a sua regulamentação, o setor de apostas online movimenta bilhões no país, mas enfrenta forte pressão de especialistas em saúde pública, juristas e parlamentares. O principal ponto de crítica é a falta de mecanismos eficazes para prevenir vícios em jogos e proteger famílias vulneráveis financeiramente.

Por outro lado, defensores da medida argumentam que a regulamentação garante arrecadação de impostos e cria regras mais claras para o mercado.

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