O primeiro semestre de 2025 foi devastador para os Correios. A estatal registrou um prejuízo de R$ 4,37 bilhões, número que já supera todo o déficit de 2024, que havia sido de R$ 2,6 bilhões. Em comparação com 2023, quando a perda foi de R$ 633 milhões, a deterioração financeira é ainda pior. Só em entre abril e junho deste ano, o resultado já tinha sido o mais preocupante: R$ 2,6 bilhões de prejuízo em apenas três meses.

Por que os Correios estão em crise?

O rombo bilionário dos Correios não aconteceu por acaso. Uma das principais causas foi o aumento nos gastos com pessoal. O reajuste salarial concedido aos mais de 55 mil empregados elevou de forma significativa a folha de pagamento, que bateu quase R$ 3 bilhões só entre abril e junho. Ao mesmo tempo, as despesas com processos judiciais dispararam. Os famosos precatórios custaram mais de R$ 1,2 bilhão no segundo trimestre, um salto de mais de 800% em relação ao ano anterior.

A taxa das blusinhas, criada durante o governo Lula, agravou ainda mais a crise dos Correios. Imagem: Reprodução
A taxa das blusinhas, criada durante o governo Lula, agravou ainda mais a crise dos Correios. Imagem: Reprodução

Outro golpe veio de fora: a criação da chamada "taxa das blusinhas", que mudou completamente o cenário das encomendas internacionais. Até 2024, esse setor era uma das maiores fontes de receita da estatal, mas em 2025 desabou mais de 60%. O que antes representava mais de R$ 2 bilhões passou a render pouco mais de R$ 800 milhões, deixando um buraco difícil de tapar.

Outro ponto citado pela própria estatal é a transformação do setor de logística. Empresas privadas de entregas, mais ágeis e com operações digitalizadas, vêm ganhando mercado. Enquanto isso, os Correios sofrem com estrutura pesada, custos altos e anos sem investimentos significativos, o que reduziu sua competitividade no Brasil.

Plano de recuperação e empréstimos

Para tentar se equilibrar, os Correios anunciaram um plano de recuperação que combina cortes de custos, novas fontes de receita e empréstimos bilionários. A ideia é enxugar a estrutura com um programa de demissão voluntária e até vender imóveis para levantar dinheiro. Ao mesmo tempo, a empresa quer modernizar o negócio e aposta na criação de um marketplace próprio, tentando entrar no jogo do comércio eletrônico de forma mais direta.

Mas, como o caixa segue pressionado, a estatal já recorreu ao sistema financeiro. Só neste ano, foram contratados R$ 1,8 bilhão em empréstimos com bancos como BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O problema é que, mesmo com esse fôlego temporário, a empresa ainda acumula atrasos de cerca de R$ 600 milhões em pagamentos a fornecedores, o que mostra que a situação continua delicada.

Correios pedem ajuda, mas governo nega

A gravidade da situação chamou a atenção de Brasília. O Senado abriu uma investigação, aprovada sem resistência, para apurar possíveis irregularidades contábeis, má gestão e fraudes. O processo será conduzido em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU).

Ao mesmo tempo, os Correios pediram ajuda financeira ao governo federal. Mas a equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou que não há espaço no orçamento para socorrer a estatal, embora admita que uma injeção de recursos pode se tornar inevitável para evitar um colapso.

Durante a crise da estatal, em julho, Fabiano entregou uma carta pedindo demissão da presidência dos Correios. Imagem: Reprodução
Durante a crise da estatal, em julho, Fabiano entregou uma carta pedindo demissão da presidência dos Correios. Imagem: Reprodução

Vale lembrar que a crise também abalou a liderança da estatal. O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, apresentou carta de renúncia em julho, após os primeiros resultados negativos do ano. Até agora, porém, o governo não definiu um substituto. O cargo virou alvo de disputa política entre PT e União Brasil.

Enquanto isso, os trabalhadores pressionam por novos reajustes salariais. Algumas regiões já aprovaram paralisações, mas internamente a avaliação é de que não há espaço para negociações neste momento.

Com informações de O Tempo, Gazeta do Povo e Poder360