A Sennheiser é considerada por muitos a fabricante do melhor fone de ouvido do mundo. Por décadas o Sennheiser HE90, popularmente conhecido como "Sennheiser Orpheus", foi considerado o melhor headphone já feito. Cerca de 26 anos depois, a fabricante alemã de equipamentos de áudio, lançou a segunda versão, o Sennheiser HE-1, mostrando do que é capaz.

Pouco antes de completar 75 anos, a Sennheiser decidiu anunciar o sucessor do "Sennheiser Orpheus" (HE90), o Sennheiser HE-1. Assim como o seu antecessor, o "Orpheus 2" é um sistema completo e é composto pelo headphone, pelo DAC (Digital to Analog Converter ou Conversor Digital Analógico) e pelo amplificador.

Review/Análise do headphone eletrostático Sennheiser HE-1

Análise/Review do headphone eletrostático Sennheiser HE-1 (
Análise/Review do headphone eletrostático Sennheiser HE-1 ('Orpheus 2'). Fonte: Mariléia Vicente

Assim como no caso do "Orpheus" original, a Sennheiser investiu pesado para desenvolver o melhor fone de ouvido possível da época. O resultado é o que vocês poderão conferir abaixo através desta análise sobre a experiência que tive com o Sennheiser HE-1, onde pude escutá-lo por aproximadamente 1 hora ininterrupta.

Qualidade de construção

Como foi dito no início, o Sennheiser HE-1 é um sistema completo de fones de ouvido, com exceção do dispositivo responsável pela reprodução dos arquivos das músicas, seja via streaming ou localmente (arquivos gravados na unidade de armazenamento do aparelho utilizado). É interessante notar que a estrutura do "Orpheus 2" abriga o DAC, o amplificador e também serve como case para guardar o headphone. Como você pode ver no vídeo abaixo, ao ligar o sistema, os botões de controle do HE-1 "saltam" para fora do bloco de mármore carrara branco e a tampa da estrutura que armazena o fone levanta junto com as válvulas termiônicas, conhecidas também como "tubo de vácuo" ou "vacuum tube".

As válvulas do HE-1 são utilizadas pelo sistema de amplificação, que é próprio para drivers (alto-falantes) eletrostáticos e chama-se "energizer". A utilização de tubos de vácuo foi uma escolha da Sennheiser, pois acredita-se que as válvulas trazem uma sonoridade mais natural para a reprodução das músicas. Entretanto, também existem amplificadores para headphones eletrostáticos que utilizam a tecnologia transistorizada, também chamada de Solid State ou Estado Sólido, onde são utilizados transistores para amplificar o sinal analógico convertido pelo DAC.

Válvulas do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri
Válvulas do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri

Para aqueles que não conhecem muito sobre válvulas de amplificadores, é importante mencionar que para utilizar várias válvulas em conjunto, é necessário que cada uma delas possua medidas semelhantes para que não haja um desbalanço entre o canal esquerdo e direito. Quanto maior o número de tubos, mais custoso fica o processo para se achar exemplares compatíveis. A Sennheiser teve o trabalho de fazer isto com 8 unidades e sem dúvidas é algo desafiador, considerando que não há mais uma grande produção de válvulas atualmente e na maioria das vezes se compra unidades chamadas de NOS (New Old Stock), que nada mais são do que unidades fabricadas há décadas atrás que nunca foram usadas.

Conjunto de oito válvulas do Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente
Conjunto de oito válvulas do Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente

Cada unidade vendida do Sennheiser HE-1 é feita através de soldas manuais, verificações de qualidade cuidadosas realizadas em diversas etapas, além da seleção de válvulas para o amplificador. O comprador pode escolher a cor do mármore e dos botões de controle do produto. Por este motivo, não é possível comprar o produto a pronta entrega, é necessário fazer um pedido e entrar na lista de espera e aguardar por meses até que a unidade fique pronta.

Knobs de controle do Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente
Knobs de controle do Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente

O som do Sennheiser HE-1

Sem dúvidas a qualidade de som do Sennheiser HE-1 impressiona a qualquer um que escute, mesmo que a pessoa já possua sistemas High-End de fones de ouvido ou caixas de som. Entretanto, trata-se de um headphone restrito para a grande maioria das pessoas devido ao seu preço elevado. Porém, felizmente a Sennheiser Brasil proporcionou uma oportunidade para eu ouvi-lo por aproximadamente uma hora sem interrupções.

Símbolo da Sennheiser no bloco de mármore carrara branca do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri
Símbolo da Sennheiser no bloco de mármore carrara branca do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri

Para que eu pudesse avaliar de forma mais criteriosa, pedi permissão para conectar o meu DAP (Digital Audio Player) FiiO M11S via cabo USB na entrada do DAC do Sennheiser HE-1. Desta forma, pude obter uma conectividade Bit Perfect, que é a transmissão do arquivo de áudio, sem alterações/influências do sistema operacional do dispositivo responsável pela reprodução da música. Além disso, optei por não utilizar serviços de streaming de música e sim arquivos de áudio locais em FLAC gravados no cartão micro SD. O aplicativo de reprodução utilizado para o teste foi o FiiO Music.

DAP (Digital Audio Player) FiiO M11S conectado via USB ao Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri
DAP (Digital Audio Player) FiiO M11S conectado via USB ao Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri

O som do Sennheiser HE-1 tem uma espacialidade que chega a ultrapassar a do HD800S, outro headphone da marca que é tido como um dos fones de ouvido com o maior palco sonoro (soundstage) do mercado, perdendo só para os ear speakers como, por exemplo, o AKG K1000. A capacidade de imagem (imaging) dos instrumentos e vozes impressiona, sendo possível dizer exatamente de onde estão vindo os sons em termos de distância dos ouvidos (exemplo: um instrumento há 1 metro e outro há 3 metros) e também de direção (exemplo: se está há noroeste, nordeste, sudeste, sudoeste).

Outro ponto forte do HE-1 é a velocidade com que os sons são reproduzidos. Isso é possível graças a tecnologia de drivers (alto-falantes) eletrostáticos. Um driver eletrostático não necessita de campo magnético nem imãs e nem partes móveis ligadas ao diafragma, ao invés disso ele utiliza duas placas de metal perfuradas e um filme extremamente fino no meio. Para fazer com que o filme (diafragma) se mova, é aplicada uma alta carga elétrica estática nas placas. Quando as tensões são aplicadas nas placas, a atração e repulsão estática fazem com que todo o diafragma se mova sozinho. O diafragma é tão fino que pesa menos do que o ar em torno dele, e não tem ressonâncias ou armazenamento de energia.

Driver (alto-falante) eletrostático do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri
Driver (alto-falante) eletrostático do Sennheiser HE-1. Fonte: Vitor Valeri

Devido à alta capacidade de resposta dos drivers eletrostáticos do "Orpheus 2", é possível ter um grande nível de textura nos graves e agudos, pois o decaimento (decay), tempo que o driver ficará produzindo aquele som até que desapareça, fica mais natural. Devido a esta característica e também ao tuning feito pela Sennheiser, os graves reproduzidos pelo HE-1 conseguem ser tanto rápidos, fortes e secos, sendo reproduzidos de forma localizada, quanto expansivos, gordurosos e imersivos, preenchendo todo o palco.

Como se não bastasse, a extensão dos graves, médios e agudos impressiona e faz com que surjam detalhes que não se ouve em praticamente nenhum outro fone de ouvido. Geralmente, a capacidade de resolução e extensão de um fone de ouvido ficam mais evidentes nas regiões altas (agudos) e baixas (graves) do espectro do som, mas no caso do Sennheiser HE-1, isso se aplica também aos médios. Percebi mais detalhes e naturalidade no tom das vozes de músicas que ouço há muitos anos que não havia notado em nenhum fone que já experimentei como, por exemplo, o Sennheiser HD600, que era uma das minhas maiores referências quando se trata de médios naturais, que se assemelham com o que ouvimos ao vivo.

Sennheiser HE-1 sendo ouvido. Fonte: Vitor Valeri
Sennheiser HE-1 sendo apreciado. Fonte: Mariléia Vicente

A capacidade de reprodução do "Orpheus 2" é tão reveladora, que houve momentos em que os agudos me soaram agressivos, embora não chegassem a ser irritantes a ponto de interromper a música. Entretanto, tenho que mencionar que não tenho certeza se essa característica se deu por conta da gravação ou devido à característica de expor tudo o que a música possui para o ouvinte. Quando falo tudo, quero dizer que o fone de ouvido mostra a você os mínimos detalhes, indo desde o dedilhar de instrumentos de corda até a respiração dos músicos ou passos no ambiente em que foi gravado.

Outro ponto interessante, é a grande capacidade de revelar macro detalhes e micro detalhes da música ao mesmo tempo. É possível observar com grande clareza tanto os sons mais evidentes na música quanto detalhes mínimos. Não consegui notar nenhum som "embolado", tudo era facilmente distinguível, sendo possível observar as notas de cada instrumento de forma isolada caso eu quisesse.

No geral, senti uma grande naturalidade nos sons reproduzidos pelo Sennheiser HE-1. Confesso que fiquei curioso para compará-lo com o Sennheiser HE-90 e ver quais foram as evoluções e se há alguma característica que eu poderia chamar de exclusiva para cada modelo. Fiquei impressionado com o quão longe é possível chegar na capacidade de reprodução de músicas em um fone de ouvido.

Conclusão

O Sennheiser HE-1 sem dúvidas é um fone de ouvido de um nível que posso chamar de "estado da arte". Trata-se de um headphone único, onde nota-se que a empresa não mediu esforços para oferecer o melhor utilizando a tecnologia atual e todo o know-how adquirido pelos mais de 75 anos da companhia. Considerando este ponto, é difícil avaliar se o preço cobrado pelo fone de ouvido é justo ou não (cerca de R$ 500 mil no Brasil e US$ 59 mil no exterior), pois trata-se de algo que é quase um item exclusivo.

Caso tenha interesse em adquirir o Sennheiser HE-1, basta acessar a página dedicada ao fone de ouvido e inserir os dados solicitados. Lá há também o passo a passo explicando como funciona o processo de compra.

Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente
Sennheiser HE-1. Fonte: Mariléia Vicente