Desenvolvido pela Tango Softworks e publicado pela Bethesda, Ghostwire Tokyo mostrou ser extremamente peculiar desde sua revelação. Após os excelentes títulos da franquia The Evil Within, a Tango resolveu beber do horror de uma maneira diferente.

Lançado para PlayStation 5 e PC, Ghostwire Tokyo apresenta uma proposta muito interessante, mas que contém problemas na forma como tudo foi colocado em prática. Bizarro, falando de uma maneira positiva, o jogo tropeça ao oferecer bastante repetição e apresentar certos problemas, mas também não se mostra como uma jornada ruim.

Bizarro e interessante

São muitas as bizarrices de Ghostwire Tokyo (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)
São muitas as bizarrices de Ghostwire Tokyo (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)

Ao aproveitar-se mais uma vez de sua familiaridade com o horror, a Tango Gameworks utilizou muitos elementos do gênero em uma aventura que é voltada para a ação. Por tratar-se de uma trama sobrenatural, que envolve espíritos andando por uma cidade fantasma, exorcismo e mais, o título já tem uma certa facilidade para encaixar características de terror em sua proposta peculiar.

A bizarrice de Ghostwire Tokyo vai muito além de uma cidade em que toda a população desapareceu, deixando apenas espíritos perdidos nesse mundo. Também vai além do fato de termos dois personagens principais, uma vez que o jovem Akito é de certa forma possuído por KK, o que oferece uma relação que lembra muito a de Johnny Silverhand e V em Cyberpunk 2077.

Ghostwire Tokyo é bizarro por inúmeros motivos, que incluem a aparência sinistra dos inimigos, as criaturas grotescas que os chefões se tornam em combates, animais que se comunicam com você através do pensamento e ainda mais. O que quero dizer é que Ghostwire Tokyo abraça o sinistro de uma maneira muito peculiar, colocando o jogador em uma jornada repleta de momentos absurdos que de alguma maneira são bem introduzidos e fazem sentido. Com isso, toda essa bizarrice é de fato interessante, uma vez que ela funciona para a trama e é bem utilizada na criação de uma atmosfera diferenciada.

Uma trama direta

É importante dizer que Ghostwire Tokyo possui uma trama muito direta, que dura cerca de oito a dez horas, nas maiores dificuldades, se você focar apenas nas missões principais. A trama que se resolve rapidamente é um do grande motivo para que o jogo seja um tanto curto, já que não existem rodeios para finalizar situações, desenvolver personagens ou realizar um aprofundamento real no enredo.

Em seus momentos finais, o título ainda é capaz de entregar algo um pouco mais profundo, em um trecho que é bem escrito e pode tocar o jogador, mas isso não tira o fato do título fazer pouco esforço para entregar uma trama que não seja mais do que apenas ok.

O vilão é interessante, apesar de pouco desenvolvido
O vilão é interessante, apesar de pouco desenvolvido (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)

Ainda assim, senti que a relação de Akito e KK consegue de alguma maneira ser positiva, passando por cima dos problemas ocasionados por um enredo tão raso. Com KK sendo mais experiente, conhecendo mais o sobrenatural, o personagem é voz constante durante a jornada, até mesmo fora das cutscenes. O espírito das dicas no combate, te lembra de aprender novas habilidades e se mostra tão participativo quanto Akito, o "dono do corpo". Embora não tenha tempo, nem qualidade de escrita, para que a relação entre ambos esteja no mesmo nível de Johnny Silverhand e V, em muitos momentos essa amizade improvável acabou me lembrando o que vimos em Cyberpunk 2077, de certa maneira.

O vilão Hannya, muito pelo seu visual, também consegue ser interessante e apresentar uma postura ameaçadora, com alguns momentos em que seus discursos entregam o ápice da escrita em Ghostwire. Sendo assim, ainda que rasa, a trama consegue contar com alguns pilares que mantém o jogador interessado para conferir o desfecho de tudo.

Muita repetição

Ghostwire Tokyo é, infelizmente, um jogo repetitivo. Sendo sincero, a melhor maneira de aproveitar o título e ficar com uma opinião positiva pode ser simplesmente focar na trama principal, ignorando a ideia de passar mais tempo em objetivos secundários espalhados pelo mapa.

O grande problema é que o título já é repetitivo em sua estrutura, obrigando o jogador a seguir sempre um padrão para avançar. O que temos aqui é uma avalanche de Portões Torii para purificar, com isso servindo como a grande base do jogo. Ao purificar um Portão Torii, você consegue dissipar a névoa sobrenatural da região, conseguindo assim acessar novos objetivos e atividades. Akito e KK passam o jogo inteiro tendo que purificar portões para prosseguir em direção ao seu próximo objetivo, o que acaba cansando bastante.

Os Portões Torii são um grande problema na repetição (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)
Os Portões Torii são um grande problema na repetição (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)

Com a estrutura do jogo já sendo repetitiva por si só, ainda temos outros elementos que também não se mostram muito variados. Com um combate que se mostra divertido nas primeiras horas, o jogo infelizmente desliza ao também não saber dar variedade para os confrontos. Mesmo após liberar todos os elementos disponíveis para a tecelagem, você sentirá que os combates seguem sempre um mesmo padrão, com quase nenhuma variedade de movimentos e habilidades para utilizar. Você possui um ataque carregado e um simples para cada um dos três elementos, o que se mostra muito pouco durante o gameplay.

É preciso afirmar que o combate de Ghostwire Tokyo não é ruim, e é inclusive interessante combinar os elementos, porém após algumas horas de jogo o brilho vai se apagando. Os inimigos ao menos se mostram interessantes, com o design sendo o grande destaque. Além disso, o show de cores proporcionado pelos poderes do personagem também é um ponto positivo, com cada confronto sendo visualmente satisfatório.

Ambientação é acerto

Tokyo é imersiva, linda e repleta de detalhes
Tokyo é imersiva, linda e repleta de detalhes (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)

Um ponto extremamente positivo do título é sua ambientação. Tokyo é oferecida de uma maneira muito interessante ao jogador, seja pelo visual da cidade ou pelos mínimos detalhes que estão espalhados por todos os contos. Enquanto a modelagem dos personagens durante as cutscenes deixa muito a desejar para os padrões de hoje, o visual de Tokyo é em muitos momentos extremamente satisfatório. A direção de arte certamente é um dos maiores acertos do título e muito provavelmente estará entre os concorrentes nas premiações da temporada.

Iluminação, objetos muito bem modelados, ambientes evidentemente criados com muita atenção e outras características tornam Ghostwire um jogo muito robusto visualmente falando. Os interiores de prédios e casas se mostram densos e imersivos, quase sempre com algo sinistro acompanhando o jogador. Nas ruas, a situação não é diferente e explorar Tokyo se torna mais interessante dessa maneira, ainda que as atividades e possibilidades não sejam muito convidativas.

Chefes são problema

Batalhas contra chefes são sem inspiração (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)
Batalhas contra chefes são sem inspiração (imagem: Oficina da Net/Gregory Felipe)

Os chefões são outro problema do jogo, uma vez que não temos aqui nenhum combate que seja digno de destaque. Se o design dos chefes é algo que empolga o jogador para esses confrontos, com cada um deles se tornando criaturas que se encaixam muito bem com a proposta bizarra do título, por outro lado a execução desses confrontos é muito insatisfatória.

Enquanto alguns desses combates são realmente problemáticos e fazem o jogador torcer para que acabem logo, pois não há grande diversão ali, outros ao menos conseguem ficar dentro do aceitável, mas nunca se aproximando de uma qualidade que mereça muitos elogios.

A repetição também volta a ser um problema aqui. Esses confrontos são todos muito parecidos, assim como os seus movimentos e os movimentos dos inimigos também se distanciam muito de algo que possa ser considerado variado. Além disso, os ataques desses oponentes se mostram pouco interessantes e ainda menos criativos. Derrota-los significa repetir suas mesmas habilidades inúmeras vezes, em um período de tempo que pode parecer longo demais, com pouco, ou nenhum, brilho sendo visto nesses momentos do jogo.

O veredito

Ghostwire Tokyo é um jogo repetitivo em tudo o que se propõe, sendo assim um título que entrega muito menos do que poderia. O jogo parece não ser capaz de desenvolver melhor suas ideias e propostas, ainda que muito do que é visto aqui seja bastante promissor.

O título também conta com seus acertos, podendo oferecer uma jornada interessante aos jogadores que conseguirem ignorar a repetição, principalmente caso haja um foco apenas nas missões principais. A trama direta acaba sendo um acerto, já que não é necessário passar muito tempo na repetição do jogo para finalizar a aventura. O combate, que poderia ser muito melhor utilizado e expandido, é capaz de funcionar durante certo tempo, e apoiado pela boa ambientação também pode fazer com que terminar a jornada seja encarado com algo satisfatório para o jogador, mas não muito mais do que isso.

Ghostwire: Tokyo
7.0
Prós
  • Excelente ambientação
  • Design de inimigos e chefões é bacana
  • Combate muito bonito visualmente
  • Visual de Tokyo é ótimo
  • Trama direta acaba funcionando
Contras
  • Estrutura muito repetitiva
  • Combate poderia ser mais variado
  • Modelagem dos personagens deixa a desejar
  • Confrontos contra chefões são sem inspiração

Análise feita com uma cópia para PS5 cedida gentilmente pela Bethesda*