Há cerca de 10 meses, Leandro (nome fictício) para não revelar a sua identidade, de 26 anos de idade, largou seu emprego em um escritório de advocacia, momento no qual surpreendeu seus colegas assim como seus chefes quando pediu demissão do seu emprego para se dedicar exclusivamente aos Bitcoins, a criptomoeda que vem chamando a atenção no mundo todo pela sua hipervalorização.

Na época, todos lhe chamaram de louco quando ele disse "Me aposento financeiramente em seis meses", comenta. Sendo assim, ele seguiu com a sua estratégia e se tornou um corretor de moedas criptografadas, de acordo com ele, dentro de dois anos, investiu praticamente todo o salário que ganhava anteriormente quando trabalhava como estagiário, de 500 a 600 reais mensalmente.

Após este período, a moeda criptografada valorizou em mais de 3.500%. Em entrevista à BBC Brasil, o rapaz disse "Na época, eu conseguia comprar uma quantia razoável de moedas, já que o valor estava bem mais baixo. Depois, amigos apareceram querendo comprar e eu vi que era possível ganhar dinheiro com aquilo. Um corretor me apadrinhou e depois eu me tornei sócio dele. Hoje, ele se aposentou e eu sigo carreira solo".

Gráfico
Gráfico demonstra valorização do Bitcoin

O rapaz ressaltou que trabalhava das 8 horas até às 17 horas do seu próprio quarto, porém ele informa que não pretende permanecer trabalhando neste setor, mas que deseja fazer uma especialização na área tributária como um plano B. Atualmente, Leandro como então prefere ser chamado, está no ultimo ano da faculdade de Direito.

Ele informou ainda "Eu tenho uma boa quantia em moedas criptografadas, mas também tenho uma boa quantia em real. Contratei nesta semana um amigo para trabalhar comigo e, em breve, vou alugar uma sala comercial para dividí-la com outro corretor e quatro investidores de bitcoin".

O Bitcoin em 2017 se tornou em um dos investimentos mais rentáveis, mas há controvérsias. Cada moeda chegou a valer US$ 18,5 mil, o equivalente a 69 mil reais. Um número um tanto quanto elevado se compararmos com o início do ano em que 1 bitcoin valia US$ 1 mil. A então facilidade com que as transações podem ser realizadas utilizando a moeda Bitcoin aliada a supervalorização acabou atraindo muitos jovens neste ano, em que a maioria deles não largou somente do emprego, como comentamos no caso do Leandro, muitos inclusive deixaram se continuar fazendo a faculdade.

Mais um exemplo

Marília Cecílio de 26 anos morava na Austrália em 2016 e fazia faculdade de cinema, quando também decidiu largar tudo juntamente com seu namorado que era eletricista, o britânico James Calvert de 30 anos, após começarem a comprar Bitcoins.

Cecílio diz "James me ajudou a abrir uma conta. Comprei US$ 100 quando cada moeda valia menos de US$ 500. Depois de duas transações, eu já tinha dobrado a quantia". De acordo com ela, alguns meses depois, o seu namorado Calvert precisou deixar a Austrália, e não pensou duas vezes, foi acompanhá-lo e viver com o lucro do Bitcoin. Atualmente, os dois dividem a casa dele em Londres na Inglaterra e também da família dela que reside em Campinas, no interior de São Paulo.

casal
Casal já investe em Bitcoin há um ano.

Como precaução, para se proteger das eventuais oscilações nos valores das criptomoedas, todos os meses, eles fazem uma conversão de parte do estoque de Bitcoins que possuem para libras ou dólar. Assim como os investidores em ações nas Bolsas de Valores, quando as moedas caem, eles compram e quando estão em alta, a revendem.

Efeito Pokémon Go

O Bitcoin, nas últimas semanas tem sido muito comentado nas redes sociais e em muitas reportagens. Com isso, se tornou ainda mais popular o investimento na criptomoeda e pelo grande aumento de compras e de procura, a moeda ficou ainda mais valorizada. Cada Bitcoin no dia 23 de novembro valia R$ 29.300, e já nesta segunda, menos de um mês depois, cada moeda de Bitcoin custava R$ 69 mil.

Desta forma, essa busca pela criptomeda tem gerado um verdadeiro efeito Pokémon Go nas ruas de grandes cidades. Assim como acontece no game de captura de monstros que agrupa centenas de jovens em pontos de batalhas em ruas, acontece com os day traders, como são conhecidos os investidores ativos diariamente, que passaram a aproveitar o intervalo de almoço para ir até um ponto de ônibus para negociar a então moeda Bitcoin.

A BBC Brasil identificou pessoas negociando a moeda criptografada em voz alta em mêtros e nas ruas de São Paulo. Na opinião do professor de finanças do Insper, Ricardo Rocha, investir em criptomoedas é altamente arriscado, ainda mais para os pequenos investidores. Ele salienta que é preciso ter muito cuidado com aplicações que envolvem as reservas de segurança da família, por exemplo, pois o depositário pode estar arriscando todo esse montante.

Rocha diz "O ideal é investir apenas um valor que, caso você perca, não afete sua vida, aquela quantia que não vai te fazer falta. Ninguém deve, por exemplo, vender seu patrimônio para comprar bitcoin. Retorno passado não é garantia de retorno futuro. E não há histórico para comparar, então é preciso considerar a possibilidade de perda total".

Banco Central e Receita Federal

Na última quarta-feira (13), o presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn, disse que considera as moedas virtuais uma espécie de "bolha" ou um "esquema de pirâmide", pois podem desvalorizar de forma repentina.

O professor do Insper, Ricardo Rocha, afirmou ainda que o correto é tentar entender as moedas criptografadas ao invés de ignorá-las, como vem agindo os investidores mais conservadores "Muita gente nega sua existência (bitcoins) no Brasil, até o Banco Central, mas a Receita Federal reconhece a criptomoeda (ela deve ser declarada no Imposto de Renda). O Japão já autoriza seus cidadãos a usarem o bitcoin e isso pode ser um sinal. A resistência ao novo por alguns economistas mais conservadores é extraordinária, mas eu vou na contramão e tento entender o novo".

Porém, muitos economistas reforçam a posição do Banco Central, concordam plenamente que os Bitcoins formam uma clássica bolha especulativa, com investidores pagando por um ativo mais do que ele realmente vale, somente para não ficar de fora. Já estudiosos dizem que só o futuro poderá afirmar o verdadeiro valor das moedas criptografadas.

Entretanto, para Leandro, Cecílio e Calver, a moeda criptografada tem mudado as suas vidas de uma forma radical, no primeiro caso largando o emprego e no segundo caso, além do emprego também a faculdade. Na opinião deles, se algo der errado com as moedas virtuais, eles dizem que já terão ganhado dinheiro suficiente para não precisar se preocupar com o futuro.