Introdução


Relembrando um pouco de “História”, observa-se que, em realidade, “redes sociais” não é uma tendência ou um aspecto inusitado. Na idade média, por exemplo, os templários ou os grandes construtores de catedrais – os maçons – já tinham as suas redes sociais. Assim como, não é particularidade da década de 80 a globalização, no seu conceito alargado, pois os navegadores da antiguidade já desenvolviam a globalização com o comércio de especiarias e a exploração dos recursos naturais de terras além-mar, e com a expansão dos impérios coloniais (português, espanhol e britânico).

Portanto, nada de novo entre o céu e a terra que já não tenhamos vivenciado. A não ser no contexto das redes sociais no que respeita ao seu espectro de penetração, sua diversificação, seu arcabouço tecnológico atual e a intenção de muitos de descobrir como usufruir desta “nova onda”. Assim como na pseudo-onda da globalização atual com a catequização propagada pelo os grandes evangelistas do livre mercado (financeiro) e da “economia virtual” (porque derivativos, fundos hedge, mercado futuros, entre outros, são mera especulação, jogos de apostas e mercados virtuais, mais virtuais que os próprios avatares utilizados nos mundos virtuais da internet).

O que é singular, nesta onda de desenvolvimento, é a compressão do espaço e tempo, a dispersão da informação e a comunicação em tempo real concomitante com a pluralidade de perspectivas, definições, análises e de cenários prospectivos sobre os possíveis desdobramentos dos fatos do presente. Posto isto, uma recapitulação sobre o desenvolvimento dos conceitos de grafos e redes faz-se necessário para que obtenha-se uma visão geral e, com isso, possa-se analisar o estágio atual e acompanhar futuros desenvolvimentos sobre o tema.

Evolução dos modelos


Um artigo de Leonhard Euler, no século XVIII, é definido como o ponto inicial da teoria dos grafos, analisando o problema das sete pontes de Königsberg (1). O problema era criar um caminho que passasse pelas sete pontes sem repetir nenhuma delas.

Sucintamente e sem a intensão de apresentar uma definição acadêmica, no contexto da matemática, um grafo é um conjunto de vértices e um conjunto de arestas que conectam pares de vértices. Quem tem formação em engenharia elétrica ou eletrônica deve lembrar-se, por exemplo, das leis de Kirchhoff para circuitos elétricos (2), cálculo de voltagem e corrente, que são uma aplicação prática da teoria dos grafos.

Colocada a perspectiva da matemática sobre a definição de um grafo, em paralelo, cabe a exposição da definição na visão das ciências sociais que, segundo Izquierdo e Hanneman (3), uma rede (grafo orientado) é um conjunto de atores (ou agentes, nós, nodos, pontos ou vértices) que podem ter relacionamentos (ou conexões, arestas, vínculos ou ligações) uns com os outros. As redes podem ter muitos ou poucos atores e vários tipos de relacionamento entre os pares de atores. No estudo das redes sociais o foco é nas relações e não nos atributos dos atores.

Como observado no parágrafo anterior, para um mesmo objeto existem várias possibilidades de nomenclatura, o que não facilita muito a assimilação dos conceitos por leigos que se iniciam na aventura de entender o funcionamento das redes. Estas nomenclaturas derivam da “origem e do foco” da análise, se é efetuada por um matemático, um sociólogo, um geógrafo, um biólogo, um físico ou engenheiro, entre outros. No entanto a base teórica é a da teoria dos grafos. Houve a evolução dos modelos e foram inseridos conceitos transdisciplinares para a análise de diferentes fenômenos em diferentes áreas da ciência.

Em 1958 e anos seguintes, Alfred Rényi e Paul Erdös (4), em uma série de artigos, definiram o modelo de grafos aleatórios. Inicialmente, todos os nós teriam a mesma probabilidade de receber uma conexão, todos os nós teriam aproximadamente o mesmo números de conexões, e os nós conectar-se-iam aleatoriamente e as redes seriam igualitárias. Um ponto interessante na evolução do estudo dos grafos aleatórios (redes aleatórias > mundos pequenos > redes sem escala> redes complexas: Stanley Milgram, Mark Granovetter, Bollábas, Watts e Strogatz, Barabási e Albert, Boccaletti e Latora e Moreno), é a característica de que em certos pontos de transição crítica emergem certas propriedades. Isto é, uma certa propriedade emerge numa escala temporal muito mais rápida do que a totalidade do processo de desenvolvimento do grafo (5). Esta característica pode, por exemplo, explicar o sucesso rápido de certos sites da Internet.

Outra característica é a do conceito de “mundo pequeno” (small world) e graus de separação, e também a utilização dos conceitos de laços fracos (weak ties) e laços fortes (strong ties) onde se coloca que a manutenção dos laços fracos é mais importante para manter a rede social do que a preocupação com os laços fortes. Dentro dos estudos sobre “mundo pequeno” o trabalho sobre redes complexas de Watts e Strogatz, de 1998, é um “clássico” da área, assim como o é também o trabalho de Stanley Milgram, de 1960, sobre small world e sua abordagem quantitativa que gerou posteriormente a frase: “seis graus de separação”; que indica a “separação” (distância) entre quaisquer duas pessoas nos Estados Unidos da América (6) (7).

Um artigo, de 1999, de Albert-László Barabási e Réka Albert apresentou o conceito de redes aleatórias sem escala onde o grau de conectividade dos nós (vértices) apresenta uma distribuição que segue a lei de potência (8), baseado nos princípios do crescimento contínuo da rede pela adição de novos nós e da característica do tipo da adição (conexão) que é preferencialmente efetuada em nós já bem conectados (9).

Para Barabási há uma ordem dinâmica de estruturação das redes; as redes não seriam igualitárias, ao contrário, alguns nós seriam altamente conectados enquanto outros teriam poucas conexões; os nós “ricos” seriam os hubs e tenderiam a receber mais conexões (lei do “rich get richer”, isto é, “o rico fica mais rico”) (10).

Ainda na linha de crescimento contínuo da rede e de posteriores desenvolvimentos existem diversos modelos que não serão apresentados aqui para não desviar do escopo deste artigo que é o de ter um discurso genérico e básico, não obstante no rodapé (11) encontram-se mais alguns modelos e estudos para quem tiver interesse em se aprofundar.

Próximo artigo (parte 2) será sobre: Propriedades básicas das redes (sociais)

Referências:
1) Pontes de Konigsberg em wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sete_pontes_de_Königsberg
2) Leis de Kirchhoff em Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Kirchhoff’s_circuit_laws
3) Izquierdo e Hanneman: http://faculty.ucr.edu/~hanneman/mathematica_networks.pdf
4) Erdös e Rényi (texto de análise matemática, 1958) disponível em: http://www.renyi.hu/~p_erdos/1959-11.pdf
5) Rosa, Antônio Machuco. Elementos para uma teoria geral de rede, página.10. Disponível em: http://www.cecl.com.pt/redes/pdf/amr.pdf. Mais artigos deste autor disponíveis em: http://paginas.ulusofona.pt/p138/publi.htm.
6) Kleinberg, Jon. The Small-World Phenomenon: an algorithm perspective. Disponível em: http://www.cs.cornell.edu/home/kleinber/swn.pdf.
7) Watts, Ducan J. Six Degrees: the science of a connected age. ISBN 978-0-393-32542-3.
8) Lei de Potência em Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Power_law
9) Barabási-Albert. Emergence of Scaling in random Networks. Disponível em: http://www.nd.edu/~networks/Publication%20Categories/03%20Journal%20Articles/Physics/EmergenceRandom_Science%20286,%20509-512%20(1999).pdf
10) Barabási. Em: http://www.barabasilab.com/LinkedBook/chapters/7Ch_TheRichGetRicher.pdf
11) Modelos: Dorogovtsev-Mendes, Zhou-Mondragón. E, estudos: de Pastor-Satorras sobre propriedades dinâmicas e as correlações de vizinhança da internet; de Maslov, Sneppen e Zaliznyak de análise de padrões topológicos de redes complexas de grande porte, de S.Boccaletti e V. Latorra e Y. Moreno e M.Chavez e D. Hwang sobre Complex Networks: Structure and Dynamics.