René de Paula Jr. é um especialista em projetos interativos que trabalha com internet desde 1996. Trabalhou em grandes empresas como AgenciaClick, Yahoo! Brasil, Microsoft e Locaweb.

Primeiro gostaria de agradecer ao René pela oportunidade de termos aqui em nosso site algumas - mesmo que poucas - palavras deste ilustre. Com uma vasta experiência em internet e ter passado pelo famoso "boom" ele cria vídeos, amadores - segundo ele, enquanto vai ao serviço. Grava de dentro do carro com a câmera presa cruzando ruas e avenidas de São Paulo e compartilhando seu conhecimento com todos nós. Tive o prazer de ver quase todos os vídeos até agora, sou assinante do canal no Vimeo (www.vimeo.com/renedepaula), ansioso pela próxima ida ao trabalho. Minha dúvida é, será que ele grava somente quando vai ao trabalho?  

Nícolas - René, apresente-se, escreva você mesmo a definição do que você faz/fez pela internet?
Renê Meu caro, essa talvez tenha sido a pergunta mais original e desconcertante que alguém já me fez :)
A definição do que eu venho fazendo de maneira tão apaixonada e incansável é justamente o verbo que você escolheu: fazer. Eu acredito mais em fazer do que naquilo que já foi feito. Tem gente que prefere ter, outros preferem ser, meu negócio é fazer, e fazer pra todo mundo.  

Nícolas - Como mencionado antes, você mesmo diz ter passado pelo período do Boom da Internet, nos conte como foi, o que aconteceu realmente e o que você passou?
René O boom foi uma época surreal: internet, antes uma curiosidade pra alguns, passou a ser a promessa de uma revolução extraordinária onde muitos ficariam muito ricos, e de uma hora pra outra surgiu dinheiro (muito dinheiro) do nada para os projetos mais mirabolantes, as idéias mais fantasiosas, e mesmo os gurus e analistas e consultores mais renomados passaram a projetar um futuro maravilhoso. Resultado desse boom: bum. Um belo dia o castelo de cartas ruiu, e todo aquele glamour, salários maravilhosos, cargos delirantes viraram fumaça. Eu, como muitos, levei um tombo, mas um tombo modesto: nunca acreditei nessa histeria coletiva e jamais aceitei subir mais alto do que eu imaginava ser a minha estatura. Depois desse fiasco gigante, onde tanta gente quebrou, demorou pra internet ser levada a sério de novo. 

Nícolas - Você não tem formação em internet ou afins, sente necessidade ou pensa que teria mudado alguma coisa em sua vida se tivesse o feito?
René Não dava pra ser diferente... Quando eu comecei em internet a própria internet estava começando. Não havia nenhuma formação específica pra isso. Os interativos jurássicos vieram cada um de um canto: redatores, artistas plásticos, bacharéis, radialistas... Se eu pensar agora em que disciplina me faz falta no dia-a-dia eu acho que diria... Psicologia pra entender melhor pessoas :D

Nícolas - Gosto muito quando você fala que é para o povo parar de pensar fora, de como as coisas acontecem no Vale do Silício, afinal, estamos no Brasil e é para cá que devemos apontar nosso foco e pensar em melhorar a sociedade com tecnologias, conte-nos um pouco mais sobre seus pensamentos a este respeito.
René Desde o tempo do Brasil Colônia somos assim: crescemos de costas pro Brasil real, babando ovo pra Europa, Estados Unidos, etc. Quem tinha grana mandava filho estudar na Europa. Santos Dumont foi um desses. E como o país é grotescamente desigual, as elites fazem o que podem pra se diferenciar do povão: desfilam sofisticação, elegância, cultura... Conhecem de cor linhas do metrô de Nova York, Paris e Londres mas aqui andam de carros blindados. Faz parte. Ou melhor, não fazem parte, lavam as mãos, não dão um passo pra melhorar seu próprio entorno. Por isso fico felicíssimo quando encontro alguém como, por exemplo, Alex Piaz que, entre outras coisas, trabalha numa belíssima ONG ligada a povos indígenas e contribui com sua comunidade.

Nícolas - Além do que você trabalha em tecnologia, teria outro setor que gostaria de atuar?
René Boa pergunta. Eu me pergunto isso todo dia. Eu sinto falta dos meus tempos de TV, talvez por isso eu produza tantos videocasts.

Nícolas - Que dicas você dá a uma empresa pequena que quer vender sistemas/sites/softwares para uma cidade não metropolitana?
René O desafio maior sempre é entender o outro lado: quais são seus receios, seus problemas, seus bloqueios? Como a tecnologia pode ajudar de uma maneira sustentável? E, talvez o mais difícil, como expressar aquilo que você acredita numa língua que o outro entenda? Isso é duro, mesmo: deixar claro o benefício que a tecnologia pode trazer pra um negócio específico.

Nícolas - O que você mais detesta, ou menos gosta, nos profissionais de tecnologia do Brasil?
René É impossível generalizar. Quanto mais eu circulo mais eu vejo o quanto as coisas mudam de norte a sul, do centro pro interior, das grandes às pequenas. Mas acho que um aprendizado há de nos ajudar a todos: abandonar o jeitinho e o improviso. Jeitinho tem seu charme mas resolve a curto prazo, apenas, não cria nada perene que possa servir de base para progressos futuros. E isso os gringos fazem muito bem: planejam e documentam melhor, pra que os próximos possam dar continuidade sem começar do zero. Enquanto isso recomeçamos do zero o tempo todo.

Nícolas - O vídeocast - amadorzão - segundo você, tem uma periodicidade, ou você grava quando os estalos de ideias surgem?
René Idéias (ao menos as minhas) são como borboletas: não vêm quando eu as chamo, aparecem do nada e podem ir embora sem deixar traços. Por isso eu as registro assim que posso.

Nícolas - As redes sociais - mais populares e não para âmbito profissional, Twitter, Facebook e Orkut, com qual você mais se enquadra baseado no seu perfil?
René Embora eu seja altamente vocal e presente na social media, o que me faz feliz é gente de verdade.

Nícolas - Se o Renê não fosse o que é hoje, o que ele queria ser?
René Tem gente que constrói pontes, outros fundam empresas. Eu ficaria felicíssimo se meu legado pro mundo fosse um refrão musical memorável.

E com isto terminamos a entrevista, e ficam aqui os contatos de Renê: