Quem nunca baixou o Tinder que atire a primeira pedra, mas aplicativos de relacionamento tem uma inquestionável popularidade. O Tinder ocupou o primeiro lugar de arrecadação entre apps em 2019, com um montante US$ 233 milhões, ou aproximadamente R$ 971 milhões somando a App Store da Apple com a Play Store do Android. Isso significa que as pessoas realmente estão engajadas em conhecer possíveis pares românticos, tão engajadas que pagam para isso.

Acontece, porém, que devemos agir com cautela quando se trata de conhecer pessoalmente desconhecidos que contatamos online. Existem diversos casos de violência que envolvem aplicativos como Tinder, Happn, Grindr e etc.

Os riscos de aplicativos de relacionamento

Por isso, contaremos a seguir dois relatos de vítimas que pediram para se manter no anonimato, porém, concordaram em contar suas histórias. A partir delas, também daremos algumas dicas de segurança para aplicar em encontros arranjados por aplicativos.

O Famoso Fake

Sofia (nome fictício), possui Tinder e Happn baixados em seu smartphone. Seu objetivo é realmente encontrar alguém legal, com química e iniciar um relacionamento. Os apps facilitam então conhecer pessoas, ou pelo menos entrar em contato com pessoas que ela talvez nunca cruzasse na vida. Acontece que nem sempre os perfis criados nesses aplicativos refletem quem a pessoa do outro lado realmente é.

Após cerca de 3 dias de conversas, Sofia já havia trocado WhatsApp com o suposto rapaz, marcando também um típico primeiro encontro em um jantar. Porém, chegando o dia de se encontrarem, Sofia não o encontrava no lugar designado. Um homem estranho e muito mais velho então andou em sua direção, confirmando ser a pessoa com quem ela trocava mensagens há alguns dias. Seu perfil era falso e Sofia não desconfiou. Claramente, ela recusou seguir adiante com o encontro, mas ele não aceitou nada bem.

"No momento que eu disse que ia embora (eu estava bem brava obviamente), ele me agarrou pelo braço e começou a me xingar de coisas terríveis, falando como eu era uma vadia e muitas outras coisas que eu prefiro não comentar. Minha sorte foi que o local de encontro era em frente ao metrô, e mesmo sem muita gente pela rua, um segurança que eu nem havia visto veio me acudir. O homem saiu correndo e eu cai aos prantos".

Segundo a vítima, a intenção por trás de tudo aquilo não ficou clara, mas ela acredita que aquele homem de cerca de 50 anos teria algum tipo de expectativa ou esperança que Sofia o perdoasse pessoalmente. Mas no final das contas, foi uma maneira que ele achou de se encontrar com ela.

Esse tipo de situação é mais comum do que imaginamos, e pode apresentar sérios riscos, principalmente para mulheres. Sofia mesmo disse até hoje não mais confiar em ninguém em nenhum desses aplicativos, até mesmo pede fotos como prova de vida de maneira discreta.

"Eu discretamente peço uma foto da pessoa com seu gato ou cachorro, ou em situações um pouco mais específicas que um fake não poderia reproduzir", afirma Sofia. Ela até mesmo deixou de usar qualquer aplicativo por mais de um ano após o incidente que ocorreu em meados de 2018, porém chegou na conclusão de que o problema não é o aplicativo em si, mas as pessoas por trás, e por isso devemos nos precaver contra esse tipo de gente má intencionada.

Cuidado com a pressa

Ricardo (nome fictício) sempre usou o Grindr, aplicativo de relacionamento gay, desde seus 20 anos de idade. Ele usa não para encontrar uma alma gêmea exatamente, mas simplesmente para arranjar encontros, companhia para baladas e mesmo sexo casual. Porém, ele concordou mais de uma vez em ir diretamente para a casa de completos estranhos, sem nenhum encontro pessoal anterior.

Essa prática até então nunca havia lhe causado muitos problemas, até que concordou em ir ao apartamento de um homem com a única intenção de transar. Ao bater na porta e entrar no apartamento, uma pequena conversa para descontrair já lhe causou tensão. Ao contar sua profissão (professor universitário), Ricardo iniciou uma discussão sem saber, com o homem em questão o acusando de ser comunista e petista de maneira intolerante.

"Honestamente, não sei nem como se iniciou uma discussão, mas aquele cara começou a destilar ódio a ponto de claramente me ameaçar. Falou que era militar e que eu e ‘minha laia’ tinha é que ‘tomar um couro’. Ai eu imediatamente me dirigi a porta e sai o mais rápido possível de lá com medo do que ele poderia fazer. Ele certamente não estava sóbrio e tampouco equilibrado, sinto que poderia ter feito qualquer coisa. Ele não me seguiu para fora do apartamento e eu corri para fora do prédio para pedir um Uber somente dois quarteirões de distância de lá".

Ricardo disse que se tratou de um caso isolado em sua vida, mas que agora nunca concorda em ir para a casa de estranhos. "Primeiro pelo menos chamo para tomar um café, mesmo que só queira sexo casual, todo mundo precisa pensar em sua segurança primeiro".

Tanto Ricardo quanto Sofia sofreram agressões de estranhos contatados por aplicativos de relacionamento.

Por isso, alguns passos devem sempre ser tomados pela nossa segurança antes de encontrar pessoalmente alguém:

  • Sempre se encontre em lugares públicos. Shoppings, parques, metrô..., quanto mais gente melhor.
  • Conheça o máximo possível a pessoa em questão antes de concordar com um encontro. A probabilidade de cairmos no papo de um fake é muito menor e também podemos ter uma bela noção se estamos lidando com uma pessoa boa ou não.
  • Não passe imediatamente seu telefone celular. São comuns situações de assédio e obsessão frente a uma rejeição. Para isso, lembre-se de que é possível bloquear contatos.
  • Confira demais redes sociais. Stalkear o Facebook, Instagram e Twitter pode nos dizer muita coisa.
  • De tempo ao tempo. Apressar as coisas com desconhecidos pode acarretar em situações perigosas.
  • Sempre conte para amigos e familiares onde você está e com quem está saindo. Se necessário, pessoas vão te procurar.