Conhecido por ser um dos milionários mais excêntricos e imprevisíveis da internet, a história de John McAfee é igualmente espetacular e assombrosa. Personagem caricato, brilhante matemático e programador, um incrível e distorcido senso de justiça, professor e autor de livros sobre yoga, etc. Tantos adjetivos difíceis de serem encontrados em uma mesma pessoa que sua vida é digna de um bom filme de Hollywood, incluindo passagens como assassinatos e fabricação de drogas.

Para começar, nem bem se sabe quando ele nasceu. Escocês, alguns documentos datam como 1945, outros como 1946, mas esse nem poderia ser considerado um problema, perto do que foi sua infância. Seu pai era um inspetor de estradas alcoólatra e o surrava com frequência, juntamente de sua mãe, caixa de banco. A situação teria um fim, trágico, mas um fim. Seu pai se suicidou com um tiro quando ele tinha 15 anos de idade.

Seu primeiro trabalho foi de porta em porta, na época da faculdade. John vendia revistas, e segundo ele "fez uma fortuna", o método era simples: Ele se aproximava de algum "sortudo" e dizia a ele que o felizardo havia recebido uma assinatura gratuita do título, e que só precisava pagar uma taxinha de envio e preencher um cadastro com informações pessoais. Alguns dias depois os clientes recebiam a revista em cassa, juntamente com uma gorda conta para pagar. Mas esse não foi o único caso de sucesso e "empreendedorismo" de sua juventude. Em uma viagem de van no México ele comprava pedras e fazia joias para vender aos turistas. Em outra oportunidade ele aproveitou o pânico causado pela Aids em São Francisco para vender cartões de certificação de "não-portadores"

No entanto ele sempre foi dono de uma inteligência fora do comum. McAfee graduou-se com ótimas notas no curso de matemática na faculdade de Roanoke, na cidade de Salem, na Virginia, onde ele foi criado desde muito pequeno. Ainda na faculdade começaram seus problemas com o alcoolismo que o acompanhariam por boa parte da vida.

Mesmo tais problemas não impediram o sucesso astronômico profissional de John. Seu currículo de dar inveja inclui oportunidades incríveis como programador da NASA, designer de software da Univac e até arquiteto de sistemas operacionais da Xerox.

No entanto se havia muita inteligência de sua parte e ótimas oportunidades, também havia muitos abusos de drogas e álcool que acabavam por sempre lhe puxar o tapete. Enquanto cursava seu PhD e trabalhava como professor auxiliar na universidade de Northwest Louisiana, John foi demitido por dormir com uma aluna da graduação (que depois viria a ser sua primeira esposa), em outro caso foi preso por comprar maconha enquanto trabalhava na Univac e também despedido.

Não perca as contas, até aqui foram duas ótimas oportunidades perdidas por causa de seus vícios, e se você acha que é neste momento que o sujeito repensa a vida e pondera suas atitudes, está completamente... enganado. O que faria John McAfee neste caso? Óbvio: Para para voltar ao mercado de trabalho, nada melhor do que forjar um ótimo currículo e conseguir um bom emprego na Missouri Pacific Railroad, onde reformulou o sistema de rotas dos trens com um novo e desconhecido (o ano era 1969) computador da IBM. Uma situação complexa no início da informatização de sistemas, mas banal e simples para sua genialidade. O sucesso foi imediato e gerou milhares de dólares para a empresa.

Infelizmente nesta época ele fez mais uma descoberta: LSD, e depois DMT. McAfee ia constantemente trabalhar sob influência das drogas, gerando caos nas linhas de trem.  No final das contas ele sairia da empresa pela porta dos fundos ao ser pego tendo alucinações em uma lata de lixo do centro da cidade de Saint Louis. Ele havia consumido enormes quantidades de LSD.

Após passar várias vezes muito perto de uma total tragédia ao cogitar seguir os passos do pai, McAfee começou a trabalhar como diretor de engenharia na Omex, já perto dos seus 40 anos. As atitudes, no entanto eram as mesmas, senão piores, daquelas apresentadas na Missouri Pacific Railroad. Relatos de colegas de trabalho contam que nessa época ele dormia no trabalho e passava os dias bebendo uísque e cheirando cocaína em cima de sua mesa. Além disso ele ainda vendia drogas para seus subordinados.

Nesta fase John foi abandonado por sua esposa e após conseguir descer um pouco mais além do fundo do poço, ao contrário do que tudo indicavam, ele resolveu procurar ajuda; e através de um psicólogo e do Alcoólicos anônimos encontrou - não por muito tempo - a sobriedade.

Após 3 anos sem ingerir drogas, e já em um novo emprego, na empresa Lockheed, John McAfee ouviu falar de dois irmãos paquistaneses que haviam criado o primeiro vírus de computador. Neste momento John pensou que alguém devia fazer alguma coisa, e esse alguém tinha que ser ele. O próximo passo foi juntar-se a alguns colegas e fundar a McAfee Associates na garagem de sua casa, em Santa Monica após abandonar a Lockheed e seguir sua intuição.

Sua paranoia em manter uma segurança digital, aliada a uma brilhante estratégia de marketing o tornou o precursor e porta voz da indústria de antivírus. Ele lançaria, inclusive, um livro sobre o tema em 1989, quando todos desconheciam as ameaças e nem mesmo sabiam o que era um malware.

O estilo de vida incomum de John estendeu-se à cultura da empresa, onde era comum presenciar lutas de espada e rituais de magia Wicca no intervalo do almoço. Um dos jogos mais populares por lá era aquele que atribuía pontos aos funcionários de acordo com os locais mais improváveis que eles faziam sexo dentro do escritório.

No início da empresa, McAfee, diferentemente da venda de revistas e seus outros negócios, fez o processo todo com a maior "benevolência", distribuindo o software totalmente de graça aos usuários domésticos. A jogada foi que com tamanho sucesso e popularização nas máquinas, o software chegou rapidamente às grandes empresas, ganhando fama e sucesso entre o meio tecnológico. A genialidade ou a loucura dele era tamanha que McAfee comprou uma van e encheu-a com computadores, anunciando que havia criado a primeira "Unidade paramédica de antivírus". Quando recebia uma ligação de alguém com problemas de infecção na máquina ele dirigia até a pessoa e ficava lá, buscando por resíduos de vírus por horas.


John examinando um computador infectado

O importante para McAfee é que sua propaganda estava dando certo. Para ter a noção de tal sucesso, a revista Forbes divulgou uma pesquisa, em 1991, que apontava que das 100 maiores empresas dos EUA, todas elas, absolutamente 100%, utilizavam o antivírus criado por John McAfee. Grátis para o uso doméstico e pago para uso comercial, nesta época as companhias pagavam uma pequena taxa para licenciar sua cópia do software, o que era suficiente para gerar cerca de US$ 5 milhões de dólares por ano em 1990 e elevar o valor da empresa para mais de meio bilhão de dólares nos 5 anos seguintes.

Para aumentar ainda mais seu faturamento, John aproveitou uma onda de pânico motivada por um dos primeiros vírus a causar comoção geral, o "Michelangelo" (que ele afirmou que infectaria 5 milhões de máquinas), espalhando para quem quisesse ouvir, que este vírus ia destruir o sistema financeiro americano e trazer perdas inimagináveis a quem lidava com muito dinheiro. A notícia caiu como uma bomba em Wall Street e ele viu sua empresa aumentar o lucro em incríveis 10 vezes nos dois meses seguintes a esta história, e, seis meses depois, as receitas tinham aumentado em 50 vezes!!!

Mas e o tal vírus Michelangelo? Bom, a verdade foi que menos de 10 mil computadores foram infectados, o que para McAfee não importava, pois ele havia lucrado milhares de dólares nessa jogada. E lucraria ainda mais com outras cartadas certeiras. Em 1992, por exemplo, ele resolveu abrir o capital da sua empresa na bolsa de valores de Nova Iorque, captando cerca de US$ 80 milhões de dólares em questão de horas.

Se para ele estava tudo certo, para os acionistas do mundo dos negócios, entretanto, sempre tão formais, algo estava mal. Para eles, o que havia sido feito por John era inaceitável, e este marketing distorcido acabou por lhe custar o cargo. Ele deixava a McAfee Associates mas levava consigo US$ 100 milhões de dólares.

Longe de ficar abalado em sair da empresa que criara e que levava seu nome, alguns poucos anos depois ele criaria mais um software de sucesso, o Tribal Voice. Com ele era possível fazer ligações rapidamente através da internet, algo como o Skype hoje em dia, mas muito mais impactante se levarmos em conta que naquela época os celulares eram raríssimos e a internet era em sua maioria discada.

O software foi vendido por US$ 17 milhões de dólares quando, segundo seu empregado, começou a se tornar tão popular que passou a parecer muito com um trabalho formal. Isso desestimulava John a querer continuar trabalhando no projeto. Milionário, ele queria só diversão. E isso ele ainda teria muito.

Fora dos negócios, sua vida de milionário excêntrico começava bem, ele corria de quadriciclos, e fazia travessias em mar aberto de jet ski, investiu milhões em um retiro nas montanhas onde ele dava aulas de graça de yoga todo domingo de manhã, entre muitas outras coisas. Uma de suas felicidades era voar incrivelmente baixo com ultraleves no deserto, tudo pela adrenalina, e mais: ele criou uma legião de seguidores, que se reuniam em um sítio no Novo México, onde todos eles dividiam o mesmo gosto pelos aviões. Lá em colocou um cinema, um mercadinho e até uma frota de carros antigos. Era lá que se reuniam os Ski Gypsies, como eles se denominavam. O "esporte" chamado de aerotrekking, no entanto, não alegrava a todos da mesma maneira, muito pelo contrário. Ele incomodava e gerava protestos corriqueiros na cidade, então o que John McAfee fez? Acabou com a brincadeira? Claro que não, ele e seus seguidores espalharam um boato de que a cidade receberia um evento nacional de paintball, incluindo cartazes espalhados e um site. Pronto, agora eles não eram mais o centro das atenções raivosas.

A diversão só começaria a ruir quando seu sobrinho se acidentou e acabou perdendo a vida em um voo rasante, juntamente a um outro rapaz. A família da vítima processou John em US$ 5 milhões, que alegou estar com um patrimônio de "apenas" US$ 4 milhões devido à crise de 2008 que dilapidara seu patrimônio. Em meio à confusão, uma ideia brilhante tomou conta de John e o que ele fez? Se você respondeu que ele vendeu seu jato particular, carros de luxo, suas diversas mansões, etc. e comprou uma propriedade no meio de uma floresta equatorial em Belize, na América Central, sem nem mesmo acesso à Internet, então parabéns, você acertou.

Qual a intenção de um milionário da informática para se refugiar em um dos países mais pobres da América Central? Essas e outras respostas na continuação dessa história. Clique aqui e a leia agora mesmo.

 Abaixo, uma prévia do que está por vir. 

 Fontes: Gizmodo 1; Wired; Meio Bit; John McAfee; Who is McAfee; Vice; Gawker; Gizmodo 2; Gizmodo 3; Gizmodo 4; West Word; Ars Technica