Edward Snowden ficou conhecido no mundo todo por revelar milhares de documentos secretos que mostram como funciona a espionagem da NSA, a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos. Snowden é o homem mais procurado do mundo e, diretamente de Moscou concedeu uma entrevista à Sônia Bridi, do Fantástico.

Snowden está asilado em Moscou há 10 meses, e não revela o seu endereço nem aos amigos mais próximos.

Acompanhe alguns trechos da entrevista:

Fantástico: Como é a sua vida na Rússia?
Snowden: Olha, não é tão ruim quanto parece. A Rússia não é um país perfeito, e discordo fortemente de muitas coisas, principalmente como eles monitoram a internet e censuram a imprensa. Mas, no dia a dia, sabe, é melhor do que a prisão.

Fantástico: Como é que um rapaz de 29 anos, que nunca terminou o ensino médio, trabalhando para uma empresa terceirizada da NSA, teve acesso a tantos documentos?

"É um erro de informação propagado nos Estados Unidos e depois pelo mundo todo de que eu era um empregado de baixo escalão, que copiou documentos que não entendia. Na verdade, eu tinha um cargo alto", ele afirma.

Fantástico: Em que ponto você decidiu juntar e vazar os documentos para o público?
Snowden: O ponto sem volta para mim foi quando vi, no Congresso, James Clapper, o chefe da espionagem americana. Ele levantou a mão, jurou dizer a verdade. Perguntaram para ele: ‘Os Estados Unidos monitoram informações de milhões de americanos?’ E ele disse: ‘Não’. E eu sabia que era mentira. Os deputados da comissão também sabiam que era mentira. E ninguém disse nada.

Fantástico: Ainda tem mais revelações sobre o Brasil?
Glenn Greenwald: Com certeza, tem mais documentos que vão mostrar a brasileiros e ao mundo o que os Estados Unidos estão fazendo dentro do Brasil e também da Inglaterra e outros países também.

Snowden: Eu nunca escolhi vir para a Rússia. Eu estava a caminho da América do Sul.
Fantástico: Onde na América do Sul?
Snowden: Equador. Mas os Estados Unidos cancelaram meu passaporte, e eu não pude mais viajar. Fizeram de propósito para poder dizer: ‘Ele é espião russo’.

Fantástico: E como foi ficar preso no aeroporto por tanto tempo?
Snowden: Foi muito tenso. Você não sabe o que vai acontecer naquele dia. O que vai acontecer enquanto você dorme. Se alguém vai bater na porta. Se alguém vai derrubar a porta.
Fantástico: Você se arrepende?
Snowden: Sabe... Acho que não... Eu sentia que devia tornar isso público, com responsabilidade. E a maneira de impedir que a minha opinião prevalecesse, foi fazendo parceria com jornalistas competentes, e instituições sérias, que confio, que iriam checar as informações, equilibrar a cobertura. Como "The Guardian", "Washington Post", "New York Times", a "Globo" e "Der Spiegel". Deixei a imprensa livre fazer o que faz melhor: ajudar os cidadãos a se tornarem eleitores informados, que pensam em que tipo de sociedade querem viver.

Há dez meses morando na Rússia Snowden jamais havia sido fotografado.

Fantástico: Você pode sair para rua?
Snowden: Claro. Por que não?
Fantástico: Você não é recluso?
Snowden: Não. Quer dizer, sou naturalmente recluso, cria da internet, né?
Fantástico: Os russos te vigiam?
Snowden: Bom, tenho certeza de que fazem algum tipo de vigilância, mas eu não vejo nada. Eu não posso, por segurança, dizer onde moro, como vivo. Mas eu diria que levo uma vida surpreendentemente aberta.
Fantástico: Você não é reconhecido nas ruas?
Snowden: Eles me reconhecem quando vou a lojas de computadores. Mas comprando comida, na banca de revistas, ninguém me reconhece.
Fantástico: Você se disfarça, ou sai com essa cara de Edward Snowden?
Snowden: Melhor eu não responder essa.
Fantástico: Do que você mais sente falta?
Snowden: Da minha família, claro.

Sônia Bridi lembra o rapaz de que o congresso americano já o acusou de fornecer informações ao Brasil em troca de asilo.

Fantástico: Essa oferta está na mesa?
Snowden: Absolutamente não. Primeiro, eu não tenho documentos a oferecer. Eu nunca cooperaria com um governo em troca de asilo. Asilo deve ser dado por razões humanitárias.
Fantástico: O que vai acontecer quando seu asilo temporário aqui vencer?
Snowden: Essa pergunta é difícil. Eu não tenho resposta. Meu asilo vence aqui no começo de agosto. E se o Brasil me oferecer asilo, eu ficarei feliz em aceitar.
Fantástico: Você gostaria de viver no Brasil?
Snowden: Eu adoraria morar no Brasil. De fato, eu já pedi asilo ao governo brasileiro.
Fantástico: Então você mandou um pedido?
Snowden: Sim. Quando eu estava no aeroporto, mandei um pedido a vários países. O Brasil foi um deles. Foi um pedido formal.

Para finalizar, a repórter pergunta a ele se é feliz.

Fantástico: Você está feliz?
Snowden: Eu sou. É difícil ficar separado da família, não poder ir para casa, participar do governo e da sociedade. Mas toda noite vou dormir confiante de que fiz as escolhas certas. Por isso, a cada manhã, eu acordo satisfeito.

Assista ao vídeo na íntegra.