A Ubisoft resolveu lançar Assassin's Creed Mirage como uma espécie de homenagem aos títulos originais da franquia, com o novo jogo marcando o retorno para um modelo mais clássico que faz muita falta para boa parte dos fãs da saga. Deixando de lado a estrutura da trilogia RPG, o novo jogo retorna também ao passado em seu enredo, com uma trama totalmente focada no Credo e na luta contra os Templários, ainda chamados de "a Ordem".

Não era segredo nenhum que Assassin's Creed Mirage chegaria ao mercado sendo um jogo de menor escopo, o que inclusive significa que aqui temos um título com uma duração muito menor que os últimos lançamentos da saga. No entanto, ainda que tal fato não tenha sido escondido pelos desenvolvedores durante a divulgação do jogo, o escopo reduzido não deixa de ser um problema no que diz respeito ao conteúdo final do projeto.

Basim e os Ocultos

Assassin's Creed Mirage mostra seu desejo de levar os jogadores ao passado da franquia já desde seus primeiros momentos, se apoiando muito no próprio protagonista para conseguir transmitir essa sensação. Basim, que se mostra muito carismático e bastante interessante para protagonizar um título, acaba sendo peça chave do enredo para aproximar os jogadores de uma trama totalmente mergulhada no credo dos Ocultos.

Diferente de Arno, que parecia uma tentativa falha de recriar Ezio Auditore, Basim tem sua própria personalidade e carisma. Embora não supere o assassino italiano, o novo protagonista da saga tem até mesmo um desenvolvimento inicial mais detalhado que o garoto de Firenze.

Imagem: Oficina da Net
Imagem: Oficina da Net

Admirador dos Ocultos, Basim realizava pequenos serviços para a organização na tentativa de provar seu valor. Tudo muda, e o homem vê a oportunidade, após um acontecimento trágico que liga seu caminho diretamente com o dos Ocultos. Dessa maneira, Mirage leva o jogador para uma região totalmente dominada pelo Credo, passando uma vibe muito forte do primeiro Assassin's Creed, quando víamos os assassinos em sua era de ouro.

Ainda neste começo, Mirage nos mostra de maneira detalhada a evolução e o treinamento de Basim, com momentos in-game e também uma ótima cinemática. Enquanto mergulhamos no dia a dia dos Ocultos, o ritmo do jogo continua interessante e o desenvolvimento de Basim não parece tornar o começo do título arrastado. Temos inclusive uma ótima cena de iniciação que certamente agradará os fãs mais antigos.

Estrutura funcional e prazerosa

Assassin's Creed Mirage retorna ao passado também em sua estrutura geral, usando elementos que foram vistos ao longo dos anos na franquia. De maneira geral, temos um quadro de alvos que precisam ser eliminados, da mesma forma que já vimos na trilogia RPG, mas o funcionamento se aproxima muito mais de títulos como o primeiro Assassin's Creed ou até mesmo Assassin's Creed Unity.

Procurar informações, investigar alvos e encontrar respostas para solucionar casos são elementos que fazem parte da essência geral de Mirage. Assim como Altair visitava muitas sedes do Credo, aqui Basim faz o mesmo enquanto se prepara para realizar os assassinatos. O ponto importante é que, diferente do primeiro Assassin's Creed que tinha uma estrutura repetitiva e burocrática demais, Mirage pega a ideia e consegue executá-la de uma maneira muito mais funcional e prazerosa.

Imagem: Oficina da Net
Imagem: Oficina da Net

Já nos grandes assassinatos, vemos algo que foi tentado em Unity, mas que não havia dado tão certo. Falando em level design, Mirage dá um banho no jogo ambientado na França, entregando diferentes oportunidades para os jogadores de uma forma mais satisfatória. Enquanto Unity me passava a sensação de que as possibilidades e assassinatos não haviam sido bem planejados pelos desenvolvedores, em Mirage senti que tudo foi feito cuidadosamente.

Descobrir diferentes oportunidades é bastante divertido, enquanto você sente, em muitos momentos, que realmente existem maneiras variadas para realizar seus objetivos, sejam maneiras mais simples ou até mesmo mais elaboradas.

A furtividade funciona

Um dos pontos positivos de Assassin's Creed Mirage é a furtividade, sendo também uma das características que ajudam a tornar ainda mais forte a sensação de que o jogo é realmente um retorno aos moldes clássicos da franquia. Sim, existem problemas que sempre existiram. A inteligência artificial muitas vezes deixa a desejar, os inimigos em muitos momentos parecem cegos, surdos e burros.

Também é comum começar confrontos e perceber que inimigos próximos, que deveriam ter percebido o conflito, continuam agindo como se nada tivesse acontecido. No entanto, assim como em outros jogos da saga, a furtividade acaba superando os problemas da IA justamente por se mostrar bastante divertida e prática.

Sumir no meio da multidão, se esconder na vegetação, assobiar para atrair inimigos... tudo está aqui. Enquanto em muitos momentos o jogo exige a furtividade, em outros você opta pela abordagem pelo simples fato da gameplay se mostrar interessante desta maneira. O bom uso da roda de equipamentos, com facas de arremesso, bombas de fumaça e mais, também surge como complemento importante neste quesito. Mirage é um jogo voltado para o stealth, o que agrada bastante.

Modelagem ruim e expressões faciais péssimas

A modelagem surge certamente como um dos problemas mais sérios do jogo, em muitos momentos sendo até mesmo vergonhosa. Enquanto Basim é bem feito, muitos personagens parecem não acompanhar o protagonista neste quesito, incluindo alguns com boa importância e muitas cenas na trama.

Alguns personagens do jogo parecem ter saído diretamente de Assassin's Creed 2, jogo lançado em 2009 para PlayStation 3. É estranho tentar entender o que aconteceu aqui, já que dificilmente vemos projetos triple A apresentarem um nível tão abaixo do esperado na modelagem de personagens hoje em dia. Inclusive a Ubisoft não costuma cometer esse erro de maneira tão forte.

Tudo se torna ainda pior com as expressões faciais tenebrosas que encontramos nas cutscenes. Com movimentos robóticos e expressões que fogem totalmente de algo mais natural, o grande destaque negativo fica para os olhos, que muitas vezes parecem verdadeiras aberrações.

Imagem: Oficina da Net
Imagem: Oficina da Net

Parkour clássico, mas com problemas

Tanto o parkour quanto a movimentação do jogo lembram muito os jogos mais clássicos da saga, tanto para o lado bom quanto para o lado ruim. Assim como outros personagens, Basim pula na hora errada, se agarra onde não deve e faz outras ações erradas, repetindo momentos que vimos em títulos mais antigos. No entanto, diferente da trilogia RPG, aqui não temos um jogo onde o personagem "se gruda" em qualquer lugar.

Você precisa observar sua rota, escolher onde subir, identificar onde pode se segurar, o que inclusive faz com que a locomoção e escalada seja mais estratégica que em jogos recentes. Um problema é que enquanto jogos como os da trilogia do Ezio entregavam alguns desafios um pouco mais variados nesse sentido, principalmente no que diz respeito aos momentos de escalada para sincronização, em Mirage temos certa repetição.

O novo jogo poderia ser uma evolução natural do parkour também no sentido de oferecer um desafio mais elaborado, no entanto não é isso que encontramos. Inclusive existe uma sensação forte de repetição nas torres para Saltos de Fé, com grande parte sendo praticamente igual.

Combate e outros elementos

No combate, Mirage parece ficar entre a trilogia RPG e algo mais clássico, superando por muito o sistema chato e fraquissimo de Assassin's Creed Unity. Não tão fácil quanto os jogos da franquia lançados no PS3/X360, mas também não tão exigente quanto os RPG's, aqui temos um meio termo.

As excelentes animações de finalização dão um toque especial para o confronto, que se mostra divertido e bonito visualmente falando. Neste ponto, a roda de equipamentos aparece novamente com um uso interessante, sendo um bom complemento para o combate de maneira geral.

Imagem: Oficina da Net
Imagem: Oficina da Net

Além disso, o jogo também te permite desbloquear habilidades e upar equipamentos, se aproximando um pouco de características mais recentes da franquia, mas se afastando totalmente da ideia de que isso o deixaria com um toque maior de RPG. As habilidades são apenas um complemento para a gameplay, da mesma maneira que temos em muitos jogos de ação e aventura, e inclusive poderiam até mesmo oferecer mais opções com impacto real na jogabilidade.

Já o upgrade de equipamentos também é apenas um "algo a mais" na tentativa de deixar o jogo mais robusto. A verdade é que o jogador pode muito bem ignorar totalmente os upgrades e continuar sua jornada sem grandes problemas.

O veredito

Assassin's Creed Mirage tem boas ideias e parece uma evolução natural do estilo clássico da franquia, mas por ser um jogo de menor escopo acaba não se aprofundando totalmente em muitas de suas propostas.

Fico com a sensação de que temos aqui um ótimo vislumbre do que Assassin's Creed poderia se tornar. Há espaço para fazer até mesmo um excelente immersive sim de assassinato, mas para isso é necessário um projeto maior e mais ambicioso. Apesar de deixar a sensação de que poderia ser mais, Mirage é um jogo divertido e prazeroso.

Assassin's Creed Mirage
8.0
Prós
  • Bom protagonista
  • Estrutura geral divertida
  • Furtividade prazerosa
  • Recupera o estilo clássico
Contras
  • Modelagem ruim de personagens
  • Péssimas expressões faciais
  • Parkour poderia ser mais desafiador
  • Parkour e movimentação um pouco bugados

Ficha ténica: Assassin's Creed Mirage

  • Estúdio: Ubisoft
  • Gênero: RPG de ação, Aventura e Ação
  • Jogadores Multiplayer: Não possui multiplayer
  • Plataforma: Playstation 5, PC, Playstation 4, Xbox Series S, Xbox One e Xbox Serie X
  • Desenvolvedora: Ubisoft e Ubisoft Bordeaux
  • Série: Assassin's Creed

Assassin's Creed Mirage - Veja aqui a ficha técnica completa