The Callisto Protocol surgiu como um sucessor espiritual de Dead Space, conseguindo assim a atenção de diversos jogadores apaixonados por survival horror, o que é exatamente o meu caso. Fiz parte do grupo que esperou ansiosamente pelo jogo, depositando muita esperança e grandes expectativas no título. O resultado, infelizmente, é totalmente decepcionante, afastando-se muito do que era aguardado pelos mais otimistas.

O jogo da Striking Distance, que tem o comando de Glen Schofield, segue muito do que foi visto em Dead Space, mas se revela como um título sem alma. Com uma avalanche de decisões erradas e ideias mal executadas, The Callisto Protocol desperdiça todo seu potencial de maneira lamentável.

Índice do review

ÍNDICE

Uma trama que não sabe para onde ir

Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net
Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net

No survival horror, os jogadores assumem o papel de Jacob Lee, um piloto que acaba injustamente na Prisão de Ferro Negro, tornando-se o prisioneiro de um lugar em colapso. Em Calisto, uma lua de Júpiter, o personagem deve enfrentar perigos tenebrosos para retomar sua vida, enquanto descobre segredos terríveis e entende o que se passa no lugar.

Aqui já temos um dos problemas do título, quando percebemos a trama de The Callisto Protocol para não saber como concluir sua própria jornada. O ritmo é pouco interessante, por vezes o enredo parece não andar nem um pouco sequer, assim como em alguns momentos parece buscar uma tentativa de oferecer momentos dramáticos e marcantes sem ter o desenvolvimento necessário para isso. Com esses tropeços, a trama por vezes acaba se mostrando confusa e mal explicada, com a narrativa sendo um grande estorvo. É como se houvesse buracos profundos, em momentos em que a história não anda por mais que o jogador avance... você se sente perdido.

Ainda na trama, o jogo mostra mais problemas ao colocar Jacob em situações muito semelhantes no decorrer da jornada. O personagem despenca - literalmente - várias vezes, seja como uma nave ou em lugares altos, e jogar seu protagonista ao chão parece ter sido a única maneira que a equipe encontrou para colocar o o personagem em diferentes locais da prisão e em diferentes situações de perigo.

Péssimo combate corpo a corpo

Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net
Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net

Já quando falamos do melee, o corpo a corpo, estamos tocando em um assunto realmente muito delicado, pois nada parece funcionar aqui. As animações são extremamente problemáticas e tem um impacto muito negativo no combate, atrapalhando o jogador. Jacob é também extremamente lento e pesado, o que não apenas atrapalha como parece não encaixar com o resto do melee.

Com pouca variedade de golpes, o combate corpo a corpo se mostra raso, nada bonito e cheio de problemas. Senti muitas vezes que o ritmo é irritante, com o tempo de resposta do personagem sendo muito lento, o que faz com que o jogador erre movimentos que podem resultar em uma nova morte. Precisando esquivar no analógico, parece se tornar normal a sensação de que a esquiva muitas vezes não demonstra um padrão de funcionamento. Os inimigos matam com poucos golpes, o que poderia oferecer um desafio interessante, mas tal fato apenas se torna estressante na medida em que você percebe que parte do desafio é gerada por um combate mal executado.

Jacob carece de mais golpes e mais velocidade, assim como necessita de uma árvore de habilidade mais robusta e funcional. Além de ser um tanto demorado para conseguir liberar as novas habilidades, que são alcançadas comprando melhorias para equipamentos, esses novos golpes e aprimoramentos não apresentam mudanças que realmente tenham peso no gameplay. Para completar o pacote, a câmera muitas vezes se mostra problemática e chega a atrapalhar os confrontos, tornando pior o que já não é bom.

O que funciona no combate?

Se algo pode salvar o combate do jogo, é certamente o gunplay, embora a tarefa seja bem complicada. Ao menos as armas funcionam de maneira satisfatória aqui, aliviando os jogadores entre os momentos que o corpo a corpo torna a jornada completamente cansativa e pouco cativante. Apesar da variedade de armas não ser muito impressionante, existem opções diferentes que tornam a jogabilidade mais diferenciada, ainda que não o suficiente para impressionar.

Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net
Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net

Ainda falando sobre acertos de combate, Jacob possui um dispositivo chamado GAR, que serve para segurar objetos e inimigos, e ele se mostra útil em muitos momentos dos confrontos, quando você pode arremessar inimigos para quedas mortais ou então jogá-los em objetos pontiguados, trituradores e hélices que causam morte instantânea. Para um jogo que apresenta um corpo a corpo tão maçante, o GAR é um alívio quando você consegue se livrar de inimigos com certa facilidade, além de oferecer ótimas cenas de um gore bem executado.

Onde está a criatividade?

The Callisto Protocol mostra mais mediocridade no que diz respeito aos objetivos e exploração de ambientes. Com praticamente nada que ofereça uma verdadeira sensação de recompensa ao explorar, o título faz com que o jogador se preocupe apenas em fazer o necessário sem qualquer tipo de distração. Com isso, o que encontramos pelo caminho são objetivos extremamente repetitivos, com nenhuma criatividade na hora de elaborar puzzles ou soluções cativantes para os jogadores.

Até mesmo o GAR, que poderia ser utilizado de maneira interessante nos ambientes, não tem grande participação no avanço do jogador e acaba servindo mesmo apenas para o combate praticamente. A pouca criatividade da equipe resulta em diversas situações nas quais o jogador deve achar um fusível para abrir uma porta, e em todas essas situações o tal fusível nem exige muito esforço ou raciocínio para ser encontrado. É como se fosse preciso apenas andar um pouco mais, perdendo tempo, para realizar um objetivo que não acrescenta nada ao jogo nos quesitos diversão e desafio.

É extremamente insatisfatório perceber o quanto a jornada em The Callisto Protocol é rasa e básica, sem qualquer desafio memorável. E para um jogo que conta com um combate problemático, a falta de puzzles e outras características interessantes se torna ainda pior.

O que é bom?

O jogo da Striking Distance tem a ambientação e o gore como seus principais acertos. A prisão oferece uma atmosfera intimidadora, ainda que o medo não seja algo marcante durante a jornada. Com corpos dilacerados, avisos pintados nas paredes, um ótimo visual e áudio que merece elogios, o jogo consegue oferecer a ideia de que Calisto é um lugar inóspito. Pena que a atmosfera não conte com elementos que a sustentem de fato.

Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net
Imagem; Gregory Felipe/Oficina da Net

Já o sistema de gore é uma das poucas coisas que realmente agradam, fazendo jus ao que foi prometido. The Callisto Protocol é um jogo violento, com mortes terríveis, muito desmembramento e sangue jorrando na tela. Os detalhes do gore dão uma boa dose de brutalidade ao jogo, servindo até mesmo para "enfeitar" o combate decepcionante com animações ruins. Também é justo dizer que a atuação do elenco é boa, ainda que o enredo não ofereça muito para alcançar destaque.

Fechando os elogios, podemos falar dos momentos de furtividade. Em tais situações, o jogo coloca o jogador no meio de inimigos cegos, fazendo com que seja necessário avançar em silêncio e com cautela. Deixando o melee de lado, o título consegue entregar uma proposta de stealth muito interessante, potencializando a sensação de medo que é inexistente em muitos momentos. Fica a sensação que The Callisto Protocol poderia ter deixado o combate de lado.

Chefes?

Precisamos falar também sobre os chefes do jogo, ou melhor, como iremos falar deles? Aparecendo em pouca quantidade, os chefões são esquecíveis e não cativam. Em certo momento, o jogo apresenta um boss que até se mostra interessante, mas logo depois o transforma em um inimigo como pois esse mesmo tipo de inimigo volta aparecer em novos momentos do jogo, de maneira repetitiva. Parece que faltou criatividade nesse quesito também... onde estão os chefes interessantes?

O veredito

The Callisto Protocol desperdiça todo seu potencial com um show de horrores. Em certos momentos parecendo um jogo feito como teste, o título joga fora ideias que poderiam ser melhor exploradas. Sem saber como executar muitas de suas propostas, o jogo se abraça na atmosfera para, de alguma maneira, tentar deixar algo de positivo. Não há criatividade, não há alma. Uma grande decepção, com alguns momentos que deixam no jogador a sensação de que a jornada poderia ser muito melhor.

The Callisto Protocol
7.0
Prós
  • Ótima atmosfera
  • Boa atuação
  • Momentos de furtividade funcionam
  • Gunplay é bom
  • Animações de morte são ótimas
Contras
  • Péssimo combate corpo a corpo
  • Pouca criatividade de maneira geral
  • Objetivos repetidos
  • Chefes nada memoráveis
  • Narrativa ruim
  • Exploração não cativa
  • Progressão ruim