Os primeiros meses do ano sempre são "parados" na indústria dos jogos. O primeiro trimestre, normalmente, não oferece muitos triple A, lançamentos de grande peso, que chegam com grande badalação. Por um lado a pausa é realmente necessária se considerarmos que a reta final do ano é sempre movimentada e repleta de grandes nomes em sequência... sendo assim, um período mais tranquilo pode ser bem vindo.

Janeiro de 2021 não se afastou do cenário conhecido. A tranquilidade de um calendário menos apertado chegou com os primeiros dias do ano, o que para muitos é um alívio. Porém, para este mês um tanto parado, que parecia fazer questão de passar despercebido pelos jogadores, a IO Interactive deixou reservado um momento de brilho para si mesma. Estratégia? Talvez.

Sim. Janeiro quase passou despercebido... quase. Se o primeiro mês de 2021 não nos entregou diversos títulos de peso, ao mesmo tempo ele entregou o primeiro candidato a jogo do ano. Sem enrolação, sem dúvidas... Hitman 3 chegou no início do ano, rápido e certeiro. O jogo, que chegou ao Brasil em mídias físicas na última semana, apareceu em um momento perfeito para brilhar de maneira absoluta.

É também sem enrolação e dúvidas que digo: Já conhecemos um dos grandes jogos de 2021.

EVOLUÇÃO NATURAL

A trilogia iniciada em 2016 surgiu para recontar a história do Agente 47. Os jogadores viram os primeiros passos do personagem e a forma como o mesmo se tornou a máquina de matar que todos conhecem.

Como um jogo por episódios, Hitman (2016) já mostrou ao mundo o que a IO Interactive poderia fazer, apresentando mecânicas interessantes e uma liberdade satisfatória. Porém, se o começo da jornada já era algo que exibia qualidade, o seu final é o ponto máximo de toda a franquia. Hitman 3 é a evolução natural da saga do agente 47. O título é tudo o que um jogo da franquia deve ser, sem espaço para grandes alterações e, principalmente, sem necessitar de qualquer mudança.

O que vimos em 2016 foi o início de algo maior. Hitman 3 é a evolução natural, tanto da trilogia quanto da franquia de forma geral, que entrega mecânicas, trama e todas as escolhas possíveis que se encaixam perfeitamente naquilo que o jogo deve ser. Nada parece fora de lugar, nada parece mal executado.

A TRAMA FUNCIONA

Cada objetivo é inciado com bom apoio da trama
Cada objetivo é iniciado com bom apoio da trama

Hitman 3 não entrega um grande enredo repleto de reviravoltas, acontecimentos grandiosos e excelente desenvolvimento de personagens, mas ainda assim é capaz de oferecer algo satisfatório que anda entrelaçado com cada fase e objetivo do título. O jogo não deseja ser reconhecido por sua trama e certamente não será, mas a utiliza muito bem para dar base ao que realmente é: Uma grande caçada.

Com cenas entre as fases e um clima misterioso, que por sua vez se encaixa muito bem com o gênero, o enredo de Hitman 3 serve muito bem ao seu propósito, explicando as motivações do personagem e mostrando o motivo para que cada alvo deva ser abatido, enquanto diálogos bem realizados dão prosseguimento a história. O Agente 47 e Diana Burnwood continuam sua busca pelos membros restantes da Providence, com 47 rodando o mundo para conquistar seu objetivo de acabar com a organização secreta.

Ainda que a intenção não seja entregar um enredo aprofundado, a IO Interactive ofereceu momentos interessantes e surpresas que tornam a jornada mais atraente, inclusive utilizando elementos famosos no gênero como conspiração, traição, segredos e até mesmo uma dose de clichê bem utilizado.

A IMPRESSIONANTE VIAGEM

Entre tantas fases memoraveis, a mansão na Inglaterra se destaca.
Entre tantas fases memoráveis, a mansão na Inglaterra se destaca.

Com seis excelentes fases, o jogo coloca 47 em uma viagem por diferentes lugares no mundo. A jornada do agente neste terceiro título resulta em cenários completamente diferentes e repletos de características próprias, com cada lugar pulsando enquanto cores, visuais, estruturas e comportamentos diferentes são apenas alguns dos elementos que chamam a atenção. Dubai serve como introdução, apresentando as novidades ao jogador e ensinando como as coisas ocorrem e funcionam. Em Dubai, nos vemos em um cenário luxuoso, repleto de pessoas que obviamente são do alto escalão da sociedade.

Após Dubai, partimos para, talvez, a fase mais interessante de Hitman 3. No interior da Inglaterra, em Dartmoor, 47 deve infiltrar-se em uma mansão para eliminar uma senhora que forjou a própria morte. O interessante de Dartmoor é que o lugar possui uma trama própria, o que me permitiu ser capaz de controlar o Agente 47 em uma investigação em busca de respostas para um suposto suicídio que havia ocorrido na mansão da família. Dartmoor passa constantemente a sensação de que há algo para ser descoberto, enquanto o jogador encontra membros da família, passagens e salas secretas, informações interessantes e desvenda os segredos e mistérios que envolvem aquele lugar.

Nesta fase, a IO Interactive conseguiu entregar outra face do título, permitindo um foco maior na exploração em busca de respostas que nem sequer farão muita diferença em seu real objetivo. O mais interessante é que tal face se apresenta de forma natural, sem atrapalhar o andamento do objetivo principal, mostrando-se como um chamativo convite para explorar o desconhecido mesmo que isto não seja necessário.

Após Dartmoor, as outras fases, de fato, não apresentam tramas próprias tão interessantes, mas ainda assim exibem suas próprias características e são executadas com muita qualidade. Em Berlim, 47 deve infiltrar-se em uma festa que também guarda um segredo obscuro em seus bastidores, enquanto na China o jogo mostra todo o esplendor visual de seu motor gráfico.

Em sua jornada, 47 explora seis locais diferentes e únicos. Tais locais deixam sua marca com características e possibilidades, sempre deixando a certeza de que algo a mais ali poderá ser visto caso o jogador tenha o interesse de concluir o objetivo novamente.

A LIBERDADE

O começo de cada fase traz a sensação de que muitas possibilidades estão ao alcance.
O começo de cada fase traz a sensação de que muitas possibilidades estão ao alcance.

Como já citado aqui, Hitman 3 é uma grande caçada. As seis fases são grandes playgrounds da morte. Cada local é repleto de possibilidades e maneiras diferentes para se concluir os objetivos, fazendo com que o jogador seja sempre acompanhado pela sensação de que em cada canto algo poderá ser utilizado a seu favor.

Se os dois jogos anteriores já destacavam-se por este motivo, Hitman 3 é o ápice da liberdade oferecida pela IO Interactive. Armas, itens, disfarces, pessoas em sua volta... tudo e todos podem ser utilizados em seu objetivo. As missões de história oferecem diferentes formas de realizar os assassinatos, permitindo que o jogador escolha qual método deseja utilizar. Além disso, a liberdade é grande o suficiente para que a situação possa mudar no meio do caminho e o objetivo seja alcançado de uma maneira completamente oposta ao o que estava sendo planejado.

Em Hitman 3, o jogador deve ficar atento a tudo em sua volta e ter em mente a certeza de que quase tudo deve ser testado. Observar o comportamento de NPCs, as entradas e saídas, a segurança dos locais e diversos outros elementos é extremamente importante para que você seja capaz de imaginar a forma ideal para executar sua missão. Saber que é possível criar os próprios métodos e eliminar alvos sem seguir objetivos dados pelo próprio título, incentiva o jogador a explorar ainda mais as localizações e dedicar boa parte de seu tempo ao planejamento.

Além disso, da mesma forma que o jogo sabe dar tal liberdade ao jogador, ele sabe tirá-la. Durante a jornada, haverá um momento em que você sentirá que a liberdade não estará presente, pelo menos não da forma magnífica que o jogo oferece, mas isso não significa que o momento específico entrega algo abaixo do esperado. Particularmente, no momento em que percebi a linearidade sendo imposta pelo jogo em determinada missão, me senti impressionado pela forma como a IO Interactive sabe controlar seu título. Entendi que aquilo era necessário para que o jogo prosseguisse da maneira certa e notei que tal mudança repentina foi feita com cautela e da forma correta para que o jogador não se sentisse perdido em meio a uma abordagem completamente diferente.

Vale dizer que tal momento de linearidade também oferece exatamente o necessário para que o jogador sinta-se envolvido e divirta-se com o jogo da mesma forma que nos momentos mais amplos e repletos de oportunidades. Algo digno de elogios, pois é preciso muita coragem e competência para, em um momento decisivo, tirar do jogo aquilo que é justamente sua maior qualidade.

Veredito: CANDIDATO A JOGO DO ANO

Hitman 3
9.5
Prós
  • Liberdade extrema e satisfatória
  • Trama simples, porém bem executada
  • Cenários únicos e memoráveis
Contras
  • Pequenas falhas na IA
  • Alguns bugs visuais

Hitman 3 é, com toda certeza, um forte candidato a melhor jogo de 2021. A IO Interactive mostrou que conhece muito bem seu próprio conteúdo e é capaz de usá-lo da forma que preferir, dentro daquilo que a franquia deve ser.

Alguns problemas são encontrados. Por vezes senti que a inteligência artificial deixou a desejar, com alguns NPCs mostrando-se "cegos e surdos" em determinados momentos, porém as qualidades sufocam qualquer falha que possa ser percebida.

Excelente em tudo o que se propõe a ser, o jogo executa muito bem suas mecânicas e é um conteúdo maduro de uma desenvolvedora que sabe utilizar as principais características do título. Próximo da perfeição, Hitman 3 eleva o nome da IO Interactive e é um conteúdo memorável.

Requisitos mínimos para rodar Hitman 3 no computador:

  • Sistema Operacional: Windows 10 (64 bits)
  • Processador: Intel Core i5-2500K de 3,3 GHz ou AMD Phenom II X4 940
  • Memória RAM: 8GB
  • Placa de vídeo: NVIDIA GeForce GTX 660 / Radeon HD 7870
  • Espaço em disco: 80GB
  • DirectX: Direct X12

Requisitos recomendados para jogar Hitman 3 no computador:

  • Sistema Operacional: Windows 10 (64 bits)
  • Processador: CPU Intel Core i7 4790 de 4 GHz
  • Memória RAM: 16GB
  • Placa de vídeo: GPU Nvidia GeForce GTX 1070, GPU AMD Radeon RX Vega 56 de 8GB
  • Espaço em disco: 80GB
  • DirectX: Direct X12