Nos últimos dias, o urânio voltou a ocupar as manchetes do mundo todo. Com a escalada dos conflitos entre Irã e Israel e o envolvimento direto dos Estados Unidos, cresce a apreensão global sobre o possível uso de armas nucleares e com ela, surgem também boatos e desinformações. Um dos rumores que viralizou nas redes brasileiras envolve o suposto fornecimento de urânio do Brasil para o Irã.

A seguir, vamos explicar o que é urânio, como funciona seu enriquecimento e o que é verdade (ou mentira) nessa história envolvendo o Brasil.

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ÍNDICE

Afinal, o que é o urânio?

O urânio é um elemento químico metálico, radioativo e pesado, identificado pelo símbolo U e pelo número atômico 92 na tabela periódica. Na natureza, ele aparece em diferentes formas (ou isótopos), sendo os principais: urânio-238, urânio-235 e urânio-234. Entre eles, o único capaz de sustentar reações nucleares controladas é o urânio-235, usado tanto em reatores nucleares para geração de energia quanto em armas nucleares.

Uma amostra de urânio. Imagem: Reprodução

Embora o urânio-235 seja essencial nesses processos, ele aparece em proporções muito pequenas na natureza, menos de 1% da composição total. Por isso, para ser útil, é preciso fazer um processo chamado enriquecimento de urânio, que é onde a disputa geopolítica começa a esquentar.

Como funciona o enriquecimento de urânio?

Quando se fala em "enriquecer" urânio, o que se está fazendo, na prática, é aumentar a proporção de urânio-235 em uma amostra. O urânio natural é extraído com uma quantidade mínima desse isótopo, então ele precisa passar por um processo físico para ser separado dos outros elementos.

Esse processo geralmente é feito por centrífugas, que giram a altíssimas velocidades para separar os átomos mais leves dos mais pesados. O resultado depende da concentração final:

  • entre 3% e 5%: uso em usinas nucleares para gerar eletricidade
  • acima de 20%: já é considerado altamente enriquecido
  • acima de 90%: é o grau necessário para fabricar uma bomba nuclear

Atualmente, o Irã já declarou possuir estoques com enriquecimento de até 20%, um nível que levanta sérias preocupações internacionais, principalmente porque, a partir desse patamar, o salto técnico até 90% é mais fácil do que parece.

Por que o Irã quer enriquecer urânio?

Por causa da falta de transparência, acredita-se que o Irã esteja enriquecendo urânio para fins bélicos. Imagem: Reprodução

Oficialmente, o programa nuclear iraniano é voltado para fins pacíficos, como geração de energia e produção de radioisótopos para medicina. No entanto, a falta de transparência, somada a episódios de descumprimento de acordos internacionais e declarações hostis contra Israel, alimentam as suspeitas de que Teerã esteja buscando capacidade militar nuclear.

Em 2015, o Irã assinou um acordo chamado Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) com os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e outros países. Esse pacto limitava o nível de enriquecimento do urânio em troca da suspensão de sanções econômicas. Mas em 2018, o então presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo e reimpôs sanções. Desde então, o Irã vem aumentando seus níveis de enriquecimento, o que reacendeu o alerta vermelho.

E o Brasil nisso tudo? Vendeu urânio para o Irã?

Não. Apesar dos rumores, a resposta oficial e documentada é clara: o Brasil nunca vendeu urânio para o Irã, nem para fins bélicos nem pacíficos.

A única empresa autorizada a extrair, processar e comercializar urânio no Brasil é a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que é estatal. O Fato ou Fake, do G1, checou a informação com o INB que respondeu:

"Nunca houve qualquer venda de urânio para o Irã.

A nota ainda explica que o Brasil exportou urânio uma única vez para a Argentina, com fins pacíficos e sob rigorosa supervisão da ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares) e da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Toda a produção atual do país vai diretamente para abastecer as usinas nucleares de Angra 1 e 2, no Rio de Janeiro.

Por que esse boato viralizou?

A resposta é simples: medo e desinformação. O mundo está em clima de tensão, e conflitos como o atual entre Irã e Israel têm potencial para escalar rapidamente. Quando a guerra se mistura com palavras como "urânio", "enriquecimento" e "bomba nuclear", a internet entra em modo de pânico e boatos ganham milhões de visualizações em poucos minutos.

Nesse caso, posts no X (antigo Twitter) afirmaram que o Brasil teria enviado urânio ao Irã. A fake news teve mais de 4,8 milhões de visualizações em dois dias, antes de ser desmentida oficialmente pelo governo e pelos órgãos responsáveis.

Conclusão: o que está em jogo agora?

O debate sobre urânio não é apenas técnico ou científico. Ele está no centro de uma disputa global por poder, segurança e influência geopolítica. Quando um país enriquece urânio além do necessário para produzir energia, o mundo todo passa a observar com lupa.

No caso do Irã, o receio não é novo. Mas em tempos de guerra, cada centrífuga em funcionamento se torna um símbolo de ameaça. E boatos infundados, como o da venda de urânio pelo Brasil, só atrapalham o entendimento do que realmente importa.

Seja qual for o desfecho dos próximos capítulos, entender como funciona o urânio e seu papel no cenário global é essencial para enxergar além do medo e das manchetes que circulam por aí.

Com informações de G1 e CNN Brasil.