Pesquisadores da Universidade de Copenhague, Dinamarca, realocaram núcleos de gelo para um subúrbio da cidade em 2017, e encontraram algumas caixas fechadas com núcleos de gelo datadas de 1966. Curiosamente, esses podem ser os primeiros núcleos de gelo perfurados na Terra. Embora se tenha passado muito tempo e consequentemente culminado no esquecimento desses estudos, uma nova análise foi realizada sobre esse material e os resultados obtidos são inovadores.

Esse gelo encontrado vem das profundezas do manto em Camp Century, Groenlândia, e dentro do seu núcleo, os pesquisadores encontraram macrofósseis de plantas intactas. O nível de preservação destes fósseis é tão grande que eles podem ser vistos a olho nu. De acordo com os pesquisadores, a Groenlândia teve uma área florestal antes de se tornar a maior ilha de gelo do mundo.

Perfuração do gelo na Groenlândia durante a Guerra Fria. (Foto: Lawrence Livermore National Laboratory)
Perfuração do gelo na Groenlândia durante a Guerra Fria. (Foto: Lawrence Livermore National Laboratory)

Tesouro da Groenlândia

O estudo foi publicado na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), e a descoberta foi encarada pelos pesquisadores como um verdadeiro tesouro. A professora Dorthe Dahl-Jensen, do Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhague, falou com entusiasmo sobre a descoberta.

"Nós nos beliscamos sobre o tesouro que havíamos encontrado! Porque dentro dos núcleos, que em sua maioria se assemelham a cascalho compactado, pudemos identificar galhos e folhas inteiros, perfeitamente preservados após milhões de anos. Nunca havíamos encontrado nada assim, nem outros pesquisadores."

Intactos, as plantas encontradas podem ajudar e entender os impactos das mudanças climáticas. (Foto: Andrew Christ/Dorothy Peteet)
Intactos, as plantas encontradas podem ajudar e entender os impactos das mudanças climáticas. (Foto: Andrew Christ/Dorothy Peteet)

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Os galhos e folhas encontrados foram importantes para determinar uma história rara e única sobre a vegetação da paisagem da Groenlândia, que há milhões de anos era totalmente diferente, ou seja, quando o clima da Terra não era tão quente, esta grande ilha não era coberta por gelo.

A professora continua;

"Entre as folhas, galhos e restos de plantas que encontramos estão hepáticas (Marchantiophyta) e um tipo de musgo lanoso. Nossas análises mostram que eles vêm da floresta boreal - as florestas de coníferas, bétulas e salgueiros comuns no Canadá e no Alasca. Essas plantas e árvores resistentes são tolerantes ao frio."

Além de identificarem a provável vegetação da ilha, as amostras analisadas podem fornecer conhecimento sobre as mudanças climáticas da Groenlândia. Sobre isso, Dorthe afirma;

"Depois de medirmos os isótopos de água no gelo, podemos confirmar descobertas anteriores de que o manto de gelo está intacto e cobriu a Groenlândia por cerca de 1 milhão de anos. Antes disso, havia períodos entre os mantos de gelo em que a Groenlândia ficava sem gelo. Esses resultados ilustram o quão incrível é o gelo e como ele pode suportar tanto - incluindo períodos de temperaturas mais altas como a que estamos agora."

De acordo com os apontamentos da professora, podemos concluir que o gelo será fortemente influenciado pelas mudanças climáticas e aumento da temperatura durante os próximos 100 anos. Ela diz que, levando em consideração o aumento do aquecimento global, o cenário caótico da Groenlândia e da Antártida apresentam que seus mantos de gelo vão derreter, e com isso, o nível do mar pode subir até 70 metros. Ela finaliza dizendo que essa situação pode ser evitada;

"No entanto, isso levará muito tempo, milhares de anos. Felizmente, ainda podemos fazer algo sobre isso e evitar essas grandes elevações do nível do mar - é uma questão de ação."