Se você é uma pessoa curiosa como eu e já deu uma fuçada no Google Earth deve ter notado que ao alterar entre os padrões de medidas vai ter um tal de Smoot entre os metros, centímetros e pés.

O problema é que se você se prestar a procurar por esse tal smoot dificilmente vai encontrar material fidedigno sobre o sistema de medidas, isso porque ele não passa de uma piada; mas uma piada séria, do tipo que foi incluída até pelo Google nos seus produtos. 

Confira agora como uma piada interna surgida há décadas numa das universidades mais importantes do mundo se transformou em um easter egg no principal software de imagens via satélite.

Como surgiu o Smoot

O MIT - Massachussets Institute of Technology - é uma das universidades mais prestigiadas do mundo, principalmente em seus cursos e pesquisas da área da tecnologia e ciência aplicada. Foi dos seus laboratórios que saíram, por exemplo, o GPS, o Spacewar (o primeiro jogo de computador da história), o padrão WWW (e consequentemente a internet que conhecemos hoje), as planilhas eletrônicas (como o Excel da Microsoft), a máquina de fax, a tecnologia de reconhecimento de fala e muitas outras. 

Mas nem só de pesquisas sérias que vive o campus; ele também tem diversão, principalmente nas famosas fraternidades. Foi, justamente, da Lambda Chi Alpha que surgiu o Smoot, essa medida que equivale a pouco mais de 1 metro e 70 centímetros.

O nome vem de Oliver Smoot, membro da fraternidade, que em uma brincadeira, em 1958, acabou criando uma medida com o seu tamanho exato. A primeira coisa que eles mediram com o smoot foi a ponte que liga Boston ao campus da universidade em Cambridge. Mas o mais interessante é que eles não fizeram do jeito fácil onde você mede o total e depois divide por 1.70, não. Assim não teria graça.

Oliver Smoot mede a ponte com seu próprio corpo
Oliver Smoot mede a ponte com seu próprio corpo

O que eles fizeram foi deitar Smoot por várias e várias vezes até que conseguissem cobrir todo o perímetro da ponte, mais precisamente 365 vezes, atestando que a ponte tem 364,4 smoots, ou melhor, 364 smoots e "uma orelha", já que o valor não deu exato.

O mais legal de tudo é que Oliver Smoot acabou graduando-se no MIT com a turma de 1962, e ao tornar-se advogado, acabou virando, ironicamente, o presidente do American National Standards Institute - ANSI (Instituto Americano Nacional de Padrões), e depois presidente da International Organization for Standardization - ISO (Organização Internacional de Padronização, ambos órgãos responsáveis por medições e aferições.

O smoot atual

Ainda hoje a ponte contém as marcações pintadas indicando quantos smoots há em determinado momento do trajeto e para garantir que a herança vá durar, a cada semestre elas são repintadas pela atual galera da Lambda Chi Alpha.

As marcações geralmente aparecem a cada 10 smoots, mas marcas adicionais aparecem em outros números entre elas. Por exemplo, a marca 70-smoot é acompanhada por uma marca para 69. A marca 182.2-smoot é acompanhada pelas palavras "Halfway to Hell" (metade do caminho para o inferno) e uma seta apontando para o MIT. Cada classe também costuma pintar uma marca especial no seu ano de graduação. 

A famosa ponta medida em smoots
A famosa ponta medida em smoots

Engana-se quem ache que as marcas podem ser odiadas ou vistas como pichação pelo público. Uma prova disso é que durante as reformas de ponte, ocorridas na década de 1980, o próprio departamento de polícia de Cambridge solicitou que as marcas fossem mantidas já que elas ajudam a identificar a localização dos acidentes que ocorrem na ponte.

Hoje você pode encontrar os smoots na calculadora do Google onde ela mede exatamente 1.70,18 cm (67 polegadas), além, é claro, do Google Earth e na ferramenta de medição de distância do Google Maps. A estação de rádio universitária administrada por estudantes do MIT, WMBR, transmite em um comprimento de onda de 2 smoots (88,1 MHz). 

Oliver Smoot com sua marca, décadas depois
Oliver Smoot com sua marca, décadas depois

Oliver é famoso ainda por ser primo do físico ganhador do Prêmio Nobel, George Smoot, pelo seu trabalho com radiação microscópica. Em 2011, o termo smoot foi adicionado à quinta edição do American Heritage Dictionary.