O Telescópio Gemini North, localizado no topo do vulcão adormecido Mauna Kea, no Havaí, capturou imagens inéditar do cometa interestelar 3I/ATLAS. O objeto vem ficando cada vez mais brilhante a medida que se aproxima da Terra nesta semana e, desde sua aproximação máxima com o Sol no fim de outubro, passou a exibir um brilho esverdeado incomum, que chamou a atenção dos astrônomos.

De acordo com os cientistas, esse aumento de atividade indica que o cometa pode apresentar novos surtos de liberação de material nos próximos dias, justamente enquanto se aproxima do ponto de maior proximidade com a Terra, previsto para acontecer na sexta-feira, dia 19 de dezembro.

Por que o cometa ficou verde?

Para capturar os detalhes, os astrônomos utilizaram quatro filtros — azul, vermelho, laranja e verde. A análise revelou que a coma do 3I/ATLAS passou a emitir um tom esverdeado fraco, algo que não aparecia em observações feitas meses antes.

Cometa 3I/ATLAS começa a ficar verde ao se aproximar da Terra. Imagem: Gemini North / NSF NOIRLab
Cometa 3I/ATLAS começa a ficar verde ao se aproximar da Terra. Imagem: Gemini North / NSF NOIRLab

Segundo o NOIRLab, responsável pela operação dos telescópios Gemini, o fenômeno é explicado pela presença de carbono diatômico, uma molécula formada por dois átomos de carbono. Quando esse gás é exposto à radiação solar intensa, ele emite luz na faixa verde do espectro visível.

Esse tipo de brilho não é exclusivo do 3I/ATLAS. Diversos cometas do nosso Sistema Solar também apresentam essa coloração quando ativados pelo Sol, como o 12P/Pons-Brooks e o C/2025 F2 (SWAN).

O que torna o caso especial é que, em agosto, quando o cometa foi observado pelo Gemini South, ele apresentava uma coloração mais avermelhada. A mudança indica que, com o aquecimento causado pela proximidade com o Sol, novos compostos químicos acabaram sendo liberados, o que para a ciência pode dar pistas sobre sua composição e origem.

O cometa 3I/ATLAS se aproxima da Terra nesta semana

O 3I/ATLAS fará sua maior aproximação da Terra em 19 de dezembro. Embora a ciência use essa expressão "próxima", na prática ele estará a uma distância segura do nosso planeta, quando passará a cerca de 270 milhões de quilômetros.

Astrônomos acompanham com atenção o que pode acontecer após esse período. Muitos cometas apresentam uma resposta tardia ao calor solar, já que o calor leva tempo para atingir camadas mais profundas do núcleo. Se isso acontecer, o 3I/ATLAS ainda pode liberar novos jatos de compostos diferentes ou até surtos repentinos de brilho.

Dezenas de observatórios e até espaçonaves seguem monitorando o 3I/ATLAS. O estudo detalhado da sua composição e comportamento pode ajudar a entender melhor como se formam sistemas estelares antigos e como materiais interestelares se comportam ao atravessar regiões como a nossa.

Cometa 3I/ATLAS emite raios X antes de se aproximar da Terra

A detecção foi feita pelo XRISM, telescópio de raios X operado em conjunto pela JAXA e pela ESA. O registro só foi possível agora porque o 3I/ATLAS, desde que foi descoberto, permanecia angularmente muito próximo do Sol, o que inviabilizava observações em raios X. Com o afastamento da região mais brilhante do céu, o equipamento finalmente conseguiu capturar o que os cientistas já suspeitavam: uma emissão fraca, mas consistente, que se espalha por cerca de 400 mil quilômetros ao redor da coma do cometa.

Esse halo energético surge quando o vento solar atinge a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do objeto. As partículas carregadas arrancam elétrons dos átomos presentes na coma e aceleram outras partículas a níveis suficientes para produzir radiação de alta energia. Honestamente, esse é um processo bem conhecido no caso de cometas do Sistema Solar, mas nunca havia sido observado em um visitante interestelar.

Observação da rota do Cometa 3I/ATLAS. Crédito: JAXA/DSS/eROSITA/MAXI
Observação da rota do Cometa 3I/ATLAS. Crédito: JAXA/DSS/eROSITA/MAXI

Isso mostra a singularidade do 3I/ATLAS, que já se mostrava mais brilhante, maior e mais ativo que os dois visitantes anteriores: o asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov. Agora, ele se torna também o primeiro forasteiro a emitir raios X, um comportamento que ajuda os pesquisadores a entender como materiais de fora do Sistema Solar reagem à influência do Sol.

Ao longo de 17 horas de observações, entre 26 e 28 de novembro, o XRISM registrou assinaturas claras de carbono, nitrogênio e oxigênio no halo detectado. Isso confirma que o brilho realmente veio do cometa e não de fontes externas, como o fundo galáctico ou a atmosfera terrestre. Os cientistas destacam que a consistência do sinal afasta a hipótese de ruído instrumental.