Semana passada recebi um email de um leitor indignado com os meus cursos. No email, ele cita que tem a formação em design e que para alcançar tal título passou 5 anos na faculdade assimilando diversos conteúdos que considera impossíveis de serem passados a distância muito menos em poucos meses. 

Este leitor ainda disse "Pois é, eu como seu admirador, hoje fiquei indignado, porque esta postura sua prolifera a existência de "micreiros" que estão prostituindo o mercado profissional" e complementa dizendo que "não é justo o que você faz com os profissionais letrados, desculpe a sinceridade, não é um ataque, mas simplesmente dentro da democracia que vivemos, estou explanando minha opinião sobre o fato."

Bem, ao responder o amigo, vi que isso seria um bom assunto para um artigo. Afinal, o que fazer com esses "sobrinhos" e "micreiros" que aterrorizam os "profissionais letrados"?

Vou transcrever para vocês um pouco da minha resposta para o amigo leitor indignado.

Compreendo sua posição mas não podemos fechar os olhos para uma realidade.

É fato: a facilidade de acesso a tecnologia fez com que pessoas comuns pudessem criar vídeos, programas de tv, jornais, revistas, música, cds, sites e até mesmo logotipos.

Veja meu caso. Eu não sou diretor de tv nem editor de vídeo, muito menos tenho uma produtora. Porém com pouquissimos recursos, uma mini-dv na mão e um pano verde na parede com 4 luzes de halogenio, fiz um estudio num pequeno quarto. Você pode ver eu andando num estudio virtual em www.causosreais.com.br coisa que até então só produtoras e tvs conseguiam fazer. E não foi preciso fazer 5 anos de faculdade de radio e tv.

"Mas Bruno, isso quer dizer q você está desmerecendo o profissional graduado?"Claro que não. O que estou dizendo é apenas um fato, uma realidade: a tecnologia aproximou pessoas comuns da técnica que antes apenas graduados tinham acesso.

Em todos os meus cursos deixo claro: os cursos que ministro não substituem nenhuma graduação. Sou formado em publicidade e sei muito bem a preparação que a faculdade nos dá. Pelo contrário, muitos alunos acabam fazendo faculdade de publicidade ou design depois de verem minha indicação durante o curso. Sobre sobrinhos, nós webdesigners sofremos muito com isso, mas muito mesmo. Um dia parei e pensei: poxa, eu vou ficar reclamando de sobrinhos? Vou fazer o quê, proibí-los de fazer sites? Sair nas ruas matando todos que encontrar pela frente? Negar essa realidade seria uma ignorância. E tentar combater com repressão, também não seria democrático. Então pensei: vou fazer um curso, com valor acessível a todos, mostrando o caminho das pedras e ensinando o rumo que se deve seguir.

É claro que num curso de 3 meses não há tempo para aprender tudo mas apresento os caminhos, os assuntos e indicações de leitura, cursos destinados ao pessoal que faz sistema da informação, administração, garotada do ensino médio, de 17, 18 anos, que já produzem sites.

E o resultado é bastante animador. O aluno entra fazendo um layout ruim e realmente progride no curso depois dos conceitos de design gráfico aplicados a web e comunicação visual. Tendo um trabalho bom de layout, faltava saber vender seu serviço. Foi aí que criei o curso "Como vender sites". Dessa forma, ao invés do "sobrinho" sair vendendo seu trabalho por 100 reais, passaria a vender por 1000, sabendo negociar e fazendo bons layouts.

Isso é ótimo pra todo mundo pois eleva a potencialidade dos colegas de trabalho e os valores também.

Outra coisa importante: essa garotada não atende grandes clientes. Atende os pequenos, que um profissional formado não atenderia por não compensar. O dono de uma padaria da esquina de um bairro suburbano não contrataria o amigo leitor formado em design nem se quisesse, pois não teria dinheiro pra bancar. É aí que entra o designer de menor valor, por não ter a a mesma experiência.

Será que o dono da padaria da esquina não tem o direito de ter um logotipo? Injusto se a resposta fosse sim. Mas que bom que existem também os pequenos profissionais que podem atender esses pequenos clientes que não interessam aos grandes designers.

Então a conclusão é: com a facilidade da informática, todo mundo hoje possui as ferramentas necessárias para se criar um logotipo ou um site, mesmo não tendo o conhecimento teórico para isso. Aí só vejo dois caminhos: ou saímos matando todos os que não são formados em design para que nunca mais eles façam logotipo ou sites sem formação, podendo também convencer algum deputado para criar um projeto de lei proibindo qualquer cidadão de abrir um photoshop, corel, para criar um logotipo ou então pegamos o conhecimento que detemos e ao invés de ficar só com a gente, ajudamos esse pessoal a reconhecer
a diferença de uma fonte e o crime que é esticá-los, dentre outras coisas, fazendo assim trabalhos melhores e incentivando esse pessoal a sair do amadorismo fazendo uma faculdade de design ou publicidade.

Eu escolhi a segunda opção.

Para o alto e avante!

Texto gentilmente cedido por Bruno Ávila.