Em alta no mercado, os Gerentes de Projeto de TI são empreendedores, fazem as coisas acontecerem. Sempre diante de novos ambientes, devem apreciar a ausência de rotina e, às vezes, abrir mão de fins-de-semana ou feriados em prol do trabalho. A compensação está no desafio constante e no prazer de ver o projeto implementado.

Treinados internamente ou procurados no mercado, estes profissionais têm salários atraentes, que giram em torno de R$ 10 mil em empresas de grande porte. Contudo, um grande salário vem com grandes responsabilidades, que incluem gestão de pessoas e contato com clientes por isso a necessidade de um perfil mais amplo. O gerente de projetos é um profissional híbrido, com um pé na área administrativa e outro na área técnica. É o ponto de referência do cliente, atua como cartão de visitas da empresa nos projetos externos, porém, não se deve pensar no sucesso do cargo como algo passageiro. Segundo o Professor e Coordenador do curso de Gerência de Projetos da FGV, Carlos Salles, condena o modismo e fala da importância da função.

“Gerência de Projetos não tem nada a ver com moda, mas com a necessidade das organizações. A maneira de implementar mudanças é através de projetos. Cada vez mais as empresas estão precisando de Gerentes de Projetos. Há demanda para esse tipo de profissional.

Mas afinal, o que faz um gerente de projetos?


Segundo o Gerente de Projetos da Savecom/Answer, Luiz Everardo Siqueira, a função do profissional é elaborar atividades para atingir um objetivo. Para isso, é preciso conversar com o cliente e delegar, ou seja, lidar com pessoas e ouvi-las.
Já o CEO da Lan Designers, Arnaldo Goldemberg, responsável pela contratação de Gerentes de Projetos, amplia a lista de atividades incluindo desde o controle de pessoas até os recursos humanos e tecnológicos do projeto, fazendo a gerência da comunicação com o cliente e a negociação de prazos, além do controle da meta em si.
Por outro lado, o Gerente de Operações da Siemens, Antonio Lima, representa a banda emocional da área. Apaixonado pela profissão, ele diz que gerenciar projetos de TI vai além da mera administração de tarefas. “Transcende simplesmente o ato de coordenar um fluxo de atividade para atingir um objetivo. É como considerar a Mona Lisa apenas um quadro. Projeto é muito mais do que isso, é paixão, comprometimento, dedicação .

Em contrapartida, o Gerente de Projetos da BRQ, Ianz Monteiro, acredita na gerência de projetos como sendo racional, sem negar a parcela do emocional devido à existência da equipe. Segundo ele, liderar pessoas é fundamental e é a parte mais desafiadora do trabalho.

Características do profissional


Liderança e capacidade de gestão de pessoas , focando no trio comunicação, negociação e planejamento, visando o equilíbrio entre fatores técnicos, econômicos e humanos. “Liderança, capacidade de comandar e de motivar pessoas, trabalhar em equipe, assessorar e resolver problemas, atuando como catalisador de decisões. E, ainda, gerenciar conflitos interpessoais, planejar e acompanhar resultados, estabelecer comunicação clara, direta e objetiva. São desejáveis também carisma, entusiasmo, criatividade, flexibilidade e disciplina.

Competências semelhantes foram citadas por Salles, da FGV. Segundo ele, o fato de TI ser uma ferramenta poderosa para implantação de mudanças em uma empresa, seus projetos geram resistências maiores. Por isso, o Gerente de Projetos também precisa saber lidar com essa resistência e melhorar a aceitação de seu projeto. Definidas as habilidades, resta saber como se tornar um Gerente de Projetos de TI qualificado. É preciso fazer cursos ou ter as famosas certificações da área? Nesse campo surge a polêmica, pois a maioria das pessoas defendem que a preparação é mais prática do que teórica. Ponto de vista defendido com vigor por Lima, da Siemens.

“Sem desmerecer o PMI (Project Management Institute) ou outras práticas, mas gerência de projetos é 50% espírito de equipe, 50% metodologia (PMI, Microsoft Foundations) e 100% transpiração. O resultado é 200% porque um gerente vai além dos 100% .Salles acha a prática fundamental, pois torna a teoria tangível. Mas lembra que trabalhar apenas com base em experiências passadas não significa domínio da função e pode propagar vícios de conduta, tornando o trabalho um laboratório de testes.

Porém, a formação acadêmica não oferece preparação completa para o Gerente de Projetos de TI, de acordo com quem está na área. “A faculdade não prepara ninguém para ser Gerente de Projetos. PMI, CMM, esses cursos tentam passar ordem e método. É importante escolher uma metodologia, mas não há melhor ou pior .

Ser bom técnico é fundamental?


Goldemberg, por sua vez, aposta no equilíbrio, afirmando ser importante dominar tanto a formação teórica como ter uma boa experiência aplicada. O executivo toca em uma questão importante: a exigência de ter sido um bom técnico. “É preciso ter tido uma boa base. Se o técnico nunca saiu do CPD de madrugada ou foi chamado para resolver uma emergência, não tem como gerenciar um projeto - ressalta.

Quem já atua na área também está por dentro da discussão. Para Ianz Monteiro, da BRQ, se o profissional for bom consegue gerenciar qualquer tipo de projeto. Mas, em sua opinião, a formação técnica ajuda pelo fato de se tratar de um mercado onde tudo é muito novo e mutável. Por outro lado, Everardo alega que não é necessário ter sido um bom técnico para ser um bom gerente de projetos, pois esta função raramente põe a “mão na massa”. Contudo, ele ressalta a necessidade de entender o que está sendo produzido, lidar bem com sua equipe e lembra a importância de saber ouvir. “A formação técnica e a certificação são importantes, mas não fundamentais. Importante mesmo é conhecer a equipe, ver a potencialidade das pessoas. Tive experiência com suporte e isso foi fundamental para me ensinar a ouvir – diz.

Para o técnico que deseja a área gerencial, uma solução é buscar conhecimento através de cursos e certificações voltados para pessoas e projetos, de modo a ampliar seu escopo profissional. Esta é a opinião de Shimada, da People Consulting, que lembra ainda o papel dos gestores no sentido de observar suas equipes e detectar os futuros Gerentes de Projeto.

Recomendações de quem já atua na área


Para Monteiro, o melhor caminho é começar em projetos pequenos e depois ir aumentando as responsabilidades. Ele recomenda também conciliar trabalho e cursos como a melhor forma de associar a teoria à prática.

Procurar uma ferramenta para nortear o trabalho e conhecê-la bem para saber seus limites é, para Lima, da Siemens, uma boa postura. E, mais uma vez, recorre ao aspecto passional em sua recomendação para quem deseja assumir o cargo, com uma boa dose de bom humor.

“Recomendaria uma camisa de força (risos). Que goste disso e tenha paixão pelo ato de controlar o projeto. Se entrar apenas pelo poder de decidir não vai dar certo, pois na maior parte das vezes você busca o consenso. É preciso ter paixão pela vontade de realizar, de servir mais do que ser servido – ensina.